Capítulo 26

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Emma e eu subimos pela porta do navio, que estava empenada e jogada em cima da escada onde aterrissara, e adentramos o farol. Ele consistia principalmente de um aposento estreito, escuro e extremamente vertical, basicamente apenas um vão de escada, dominado pelos degraus esqueléticos que subiam em espiral do chão até uma plataforma no alto, a mais de trinta metros de altura, onde ficavam abrigadas as lentes giratórias do farol. Podíamos ouvir os passos de Golan subindo a escada, mas estava escuro demais para dizer a que distância do topo ele estava.

— Pode vê-lo? — perguntei, olhando para cima, observando a altura vertiginosa da escadaria.

A resposta foi um tiro que ricocheteou numa parede próxima, rapidamente seguido por outro que acertou o chão aos meus pés. Pulei para trás, o coração batendo forte.

— Aqui! — gritou Emma, que segurou meu braço e me puxou ainda mais para o interior do farol, para o único lugar onde Golan não poderia atirar em nós: exatamente sob a escada.

Subimos alguns degraus, que já estavam balançando como um barco em um mar tempestuoso.

— Essa escada é assustadora! — exclamou Emma, apertando com força o corrimão. — E, mesmo que a gente consiga chegar lá no alto sem cair, ele vai atirar!

— O que mais a gente pode fazer? Temos de segui-lo.

Estiquei o pescoço para fora da proteção dos degraus para procurar Golan, na esperança de que meus olhos já estivessem ajustados o bastante para captar um vislumbre dele. Em vez disso, percebi uma série de suportes finos de metal que prendiam a escada na parede. Eram a única coisa que a mantinha no lugar.

— Se não conseguimos subir, talvez possamos derrubá-lo — disse eu, e comecei a desrosquear os parafusos que os prendiam com minha telecinese, Emma logo captou a ideia e começou a se sacudir a escada pra ir mais rápido, e em pouco tempo a escada balançava como louca, estremecendo tanto que deu início a uma chuva de porcas e parafusos.

— E se a coisa toda despencar de uma vez? — gritou Emma.

— Vamos torcer para que isso não aconteça!

Encolhemos a cabeça para nos proteger da chuva de pedaços de metal e me concentrei mais ainda (lembrando que quase não usava minha peculiaridade), enquanto Emma ainda balançava. Eu mal conseguia continuar a segurar o corrimão, que sacudia de um lado para o outro com muita violência. Nesse momento ouvi Golan gritar uma série espetacular de palavrões, depois algo caiu pelas escadas com um estrondo, batendo nos degraus até despencar no chão perto de onde estávamos. Corri depressa até lá para procurar o que quer que Golan tivesse deixado cair. Temia achar uma gaiola de passarinho despedaçada.

— O que está fazendo?! — berrou Emma. — Ele vai atirar em você!

— Não vai, não! — disse eu, a arma de Golan erguida em triunfo.

Ela pesava em minha mão e estava quente devido a todos os tiros disparados por Golan. Eu não tinha ideia de se ainda estava carregada ou de como, naquela penumbra, conferir esse detalhe. Tentei sem sucesso me lembrar de algo útil das aulas de tiro que meu avô tivera a permissão de me dar, mas por fim apenas subi correndo os degraus de volta até onde estava Emma.

— Ele está preso lá no alto — disse eu. — Vamos mais devagar, tentar negociar, ou quem sabe o que ele pode fazer com as aves.

— Vou é "negociar" com ele lá de cima até o chão! — falou Emma entre os dentes.

Começamos a subir. A escada era tão estreita que só podíamos avançar em fila indiana, agachados para que nossas cabeças não batessem nos degraus de cima. Eles balançavam demais. Era como escalar uma mola. Rezei para que nenhum dos parafusos ou porcas que tínhamos soltado fosse responsável por sustentar alguma parte importante.

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