Capítulo 27

241 21 0
                                    

Ficamos deitados nas rochas sob o céu que começava a clarear, recuperando o fôlego e tentando superar a exaustão. Millard, Enoch e Bronwyn tinham perguntas. Não tínhamos, porém, fôlego para respondê-las. Mas eles haviam visto o corpo de Golan cair e o submarino emergir e afundar, e a srta. Peregrine sair da água, mas não a srta. Avocet; entenderam o que era preciso. Enoch me abraçou ate para de tremer, pelo frio, e Bronwyn também colocou a diretora embaixo de sua camisa, para aquecê-la contra a barriga. Quando tínhamos nos recuperado um pouco, entramos no barco a remo de Emma e fomos para a praia.

Quando chegamos lá, todas as crianças entraram na água para nos receber.

— Nós ouvimos tiros!

— O que era aquele barco estranho?

— Onde está a senhorita Peregrine?

Descemos do barco e Bronwyn levantou a camisa para revelar a Ave escondida ali. Todas as crianças se aglomeraram em volta dela, e a srta. Peregrine levantou o bico e piou para elas, para mostrar que estava cansada mas bem. Todos comemoraram aos gritos.

— Vocês conseguiram! — berrou Hugh.

Olive fez uma dancinha e cantarolou:

— A Ave, a Ave, a Ave! Emma e Luana salvaram a Ave!

Mas a celebração foi curta. A ausência da srta. Avocet foi logo percebida, assim como a condição alarmante de Millard. Seu torniquete estava apertado, mas ele perdera muito sangue e estava fraco. Enoch lhe deu seu casaco, Fiona, seu chapéu de lã.

— Vamos levar você para ver o médico na cidade — disse Emma a ele.

— Bobagem — retrucou Millard. — O homem nunca botou os olhos num garoto invisível e não saberia o que fazer se visse um. Ou ia esterilizar o membro errado ou sairia correndo aos gritos.

— Não importa que ele saia correndo aos gritos — disse ela. — Depois que a fenda de tempo for reiniciada, ele não vai se lembrar de nada.

— Olhem ao redor de vocês. A fenda devia ter sido reiniciada há uma hora.

Millard tinha razão. O céu estava calmo, a batalha havia terminado, mas colunas de fumaça de bombas subiam e se misturavam com as nuvens.

— Isso não é nada bom — Enoch disse, e todos ficaram em silêncio.

— De qualquer forma — prosseguiu Millard —, todo o material de que preciso está em casa. Apenas me deem um pouco de láudano e limpem a ferida com álcool. Só acertou a carne do meu braço. Em três dias estarei bem de novo.

— Mas ele ainda está sangrando — disse Bronwyn, apontando gotas vermelhas que pontilhavam a areia embaixo de Millard.

— Então aperte mais esse maldito torniquete!

Foi o que ela fez, e Millard engasgou de um jeito que fez todo mundo se encolher de medo, depois desmaiou nos braços dela.

— Ele está bem? — perguntou Claire.

— Só desmaiou, mais nada — disse Enoch. — Ele não está tão bem quanto quer parecer.

— O que devemos fazer?

— Pergunte à senhorita Peregrine! — disse Olive.

— Isso. Ponham-na no chão para que ela possa se transformar — disse Enoch. — Ela não pode dizer para a gente o que fazer enquanto é uma ave.

Então Bronwyn a colocou numa faixa seca de areia e nós nos afastamos e esperamos. A srta. Peregrine pulou para cima e para baixo algumas vezes e bateu a asa boa, depois girou a cabeça emplumada e piscou para nós. Mas foi tudo. Ela continuou uma ave.

Peculiar historyOnde histórias criam vida. Descubra agora