Emma fechou a mão e a chama se apagou, e todos nos viramos para ver um homem parado à porta com uma lanterna apontada em nossa direção, na outra mão trazendo uma pistola. Enoch rapidamente puxou seu braço do gelo, se colocou a minha frente de modo a me proteger enquanto Emma e Bronwyn se juntaram no meio da aglomeração para encobrir a visão de Martin.
— Não queríamos invadir — disse Bronwyn. — Já estávamos saindo, é sério.
— Fiquem onde estão! — gritou o homem. A voz dele era dura, sem sotaque. Não conseguia ver seu rosto por trás do facho de luz, mas os muitos casacos que usava em camada o identificavam no ato: era o ornitólogo.
— Moço, a gente não comeu nada o dia inteiro — gemeu Enoch, pela primeira vez parecendo um garoto de dezesseis anos. — Só viemos ver se pegávamos um ou dois peixinhos.
— É isso mesmo? — disse o homem. — Parece que vocês já escolheram um. Vamos ver de que espécie. — Ele agitou a lanterna de um lado para o outro como se quisesse nos separar com seu facho de luz. — Afastem-se!
Jogou a luz sobre o corpo de Martin, uma extravagante paisagem devastada.
— Meu Deus, que peixe esquisito, hein? — disse ele, sem qualquer emoção. — Deve ser fresco, ainda está se mexendo! — A luz da lanterna se deteve sobre o rosto de Martin. Seus olhos viraram para trás e seus lábios se moveram sem som em uma paródia medonha de fala, apenas um vislumbre, enquanto a vida que Enoch lhe dera se esvaía.
— Quem é você? — perguntou Bronwyn.
— Isso depende de para quem você está perguntando — retrucou o homem.
— E não é nem de perto tão importante quanto o fato de que eu sei quem são vocês. — Ele apontou a lanterna para cada um de nós e falou como se citasse um dossiê secreto. — Emma Bloom, uma centelha, abandonada num circo quando seus pais não conseguiram vendê-la para um. Bronwyn Bruntley, uma fúria, bebedora de sangue, não conhecia a própria força até a noite em que quebrou o pescoço de seu padrasto canalha. Enoch O'Connor, nascido em uma família de agentes funerários que não conseguiam entender por que seus clientes insistiam em fugir. — Vi cada um deles empalidecer um pouco. Depois ele jogou a luz sobre mim. — Luana garota que não sabe usar as peculiaridades por que o avô era medroso demais para deixar e Jacob. Em que companhia peculiar vocês tem andado esses dias!
— Como sabe meu nome?
Ele pigarreou e, quando tornou a falar, sua voz tinha mudado tão radicalmente que parecia a de outra pessoa.
— Já me esqueceu tão rápido assim? — disse ele com sotaque da Nova Inglaterra. — Só um pobre motorista de ônibus, acho que não se lembra. Parecia impossível, mas de algum modo aquele homem estava fazendo uma imitação muito boa do motorista do meu ônibus escolar, o sr. Barron, um homem tão desprezível, tão mal-humorado, tão roboticamente inflexível que no último dia de aula da oitava série nós arrancamos seu retrato no livro do ano da escola e o prendemos com grampos, como uma efígie, no encosto de sua cadeira. Estava me lembrando do que ele costumava falar sempre que eu descia do ônibus à tarde, quando o homem diante de mim disse o que eu pensava:
— Fim da linha, Portman!
— Senhor Barron? — disse eu, desconfiada, esforçando-me para conseguir ver seu rosto por trás da luz da lanterna. O homem riu, então pigarreou e tornou a mudar de sotaque.
— Ou ele ou o jardineiro — disse com um forte sotaque da Flórida. — Suas árvores precisam de uma poda. Cobro baratinho!
Era a voz, idêntica em cada sílaba, do homem que cuidou do jardim e da piscina da minha família por anos.
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Peculiar history
FanficUma historia sobre os livros do Orfanato da sta. Peregrine para crianças peculiares mas na visão da irmã mais velha de Jacob Portman, porém, mais focada em um romance um tanto quanto peculiar. Emoção, drama, romance, são algumas das sensações que vo...