Capitulo 13

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A manhã trouxe chuva, vento e neblina, um tempo opressivo que tornou difícil acreditar que a véspera não passara de um sonho estranho e maravilhoso. Engoli apressadamente o café da manhã e Jake disse ao meu pai que íamos sair. Ele nos olhou como se eu estivéssemos malucos.

— Com esse tempo? Fazer o quê?

— Ver as pessoas... — comecei a dizer sem pensar muito e, então, para continuar a besteira que tinha falado, fingi pigarrear para tirar algo preso na garganta. Mas era tarde demais para voltar atrás. Ele tinha me ouvido.

— Ver que pessoas? Não aqueles rappers delinquentes, espero.

Travei, não sabia mais o que responder.

— Não — Jake me salvou — Você não os conhece; eles moram do outro lado, hum... da ilha, e...

— Sério? Achei que ninguém morava lá.

— Ora, bem, é pouca gente. Pastores de ovelhas, gente assim. Enfim, eles são legais e tomam conta de nós enquanto estamos na casa. — Amigos e segurança, duas coisas às quais meu pai jamais poderia se opor.

— Quero conhecê-los — disse ele, tentando demonstrar seriedade. Ele costumava fazer essa cara, fingindo ser o pai enfezado que aspirava ser.

— Claro. Mas nós vamos nos encontrar lá, então fica para a próxima.

Ele assentiu e deu outra garfada no café da manhã. Relaxei um pouco. Talvez essa mentira não fosse nada de mais.

— Quero vocês de volta antes do jantar.

— Pode ficar tranquilo, pai.

Praticamente corremos até a charneca. Enquanto encontrava meu caminho em meio à sua lama traiçoeira, tentando com pouco sucesso me lembrar da rota de ilhas de grama semi-invisíveis que Emma usara para atravessá-lo. Após engatinhar pelo túmulo e sair no dia ensolarado de 3 de setembro de 1940, Emma estava à nossa espera, sentada na beirada da elevação, jogando pedras no pântano.

— Já não era sem tempo! — exclamou, ficando de pé em um salto. — Vamos, todos estão esperando por vocês.

— Estão? — Jake disse.

— Es-tão! — disse ela, revirando os olhos com impaciência.

Então tomou tomou a mão de Jake e o puxou atrás dela. Confesso que acho eles um casal muito fofo.

Corremos pela charneca e pela floresta como se estivéssemos atrasados para um compromisso, e quando chegamos à casa Emma nos conduziu até os fundos, onde um pequeno palco de madeira tinha sido montado no quintal. As crianças entravam e saíam da casa carregando objetos de cena, abotoando seus paletós e fechando os zíperes de vestidos de cetim. Uma pequena orquestra se aquecia, apenas um acordeão, um trombone velho e um serrote musical que Horace tocava com um arco.

— O que é isso? — perguntei a Emma. — Vocês vão fazer uma peça de teatro?

— Você vai ver — disse ela.

— Quem vai participar?

— Você vai ver.

— É sobre o quê?

Ela me olhou com uma cara de impaciência.

Um apito soprou e todos correram para arranjar lugar em uma das fileiras de cadeiras dobráveis armadas diante do palco. Eu sentei no momento em que as cortinas se abriram, revelando um chapéu de palhinha flutuando acima de um paletó listrado de vermelho e branco.

Mesmo com tudo isso, ainda estava meio frustrada por não ter visto Enoch ainda. E confesso que estava brava por que ele nem tinha ido me dar oi, será que ele estava envergonhado por causa daquele selinho que eu dei nele antes de voltar? Será que eu devia ter feito isso? Antes que mais pensamentos pudessem vir na minha mente Millard começou a falar;

Peculiar historyOnde histórias criam vida. Descubra agora