Capítulo 7

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Umas duas horas depois Jake voltou e nos encontrou na mesma mesa de antes. Meu pai ainda estava com metade da carne no prato e focado em se notebook, eu já tinha acabado a comida e estava em meu terceiro copo de whisky. Jake chegou e nos contou o que ele havia descoberto sobre o vovô no museu com um tal de Oggie, tio do curador de lá (chamado Matin).

Jake contou tudo sobre o bombardeio, contou que estavam todos mortos, e que Oggie sabia sobre as crianças, ele mergulhou em uma longa descrição de como o velho disse que era a vida na ilha sob a ameaça de ataques aéreos alemães: o grito das sirenes; as pessoas correndo de repente em busca de abrigo; o fiscal de ataques aéreos que ia de casa em casa à noite para garantir que as venezianas estivessem fechadas e as luzes das ruas, apagadas, e assim eliminar alvos fáceis para os pilotos. E de como isso se tornou rotina, mas, após meses de aviões passando por ali rumo a alvos no continente, os moradores da ilha começaram a achar que estavam imunes. E então foram atingidos. Ele disse que isso aconteceu em 3 de setembro de 1940. Essa foi a data que a fenda foi criada, pois ao contrário disso, todos estariam realmente mortos.

— Não acredito que ele nunca tenha mencionado isso — disse meu pai finalmente. — Nem uma vez.

Podia entender a raiva dele. Uma coisa era um avô omitir algo assim de um neto, outra bem diferente era um pai escondê-la do filho, e por tanto tempo.

Tentei conduzir as coisas em uma direção mais positiva para meu avô. — É incrível, não é? Todas as coisas por que ele passou...

Meu pai assentiu. — Acho que nunca vamos saber toda a verdade sobre isso.

— Vovô Portman sabia mesmo guardar um segredo, não é? – Disse Jake

— Você deve estar brincando. O homem parecia guardar suas emoções numa caixa-forte! –Papai responde.

— Eu me pergunto, porém, se isso não explica muita coisa — arriscou Jake. — Por que agia de modo tão distante quando você era pequeno... — Meu pai lançou um olhar sério e eu soube que jake tinha pouco tempo para explicar o que queria dizer, ou corria o risco de ultrapassar seus limites. — Ele já havia perdido a família duas vezes — disse. — Uma vez na Polônia, e a outra, aqui, sua família adotiva. Então, quando você e tia Susie chegaram...

— Uma vez bombardeado, duas vezes mais reservado?

— Estou falando sério.

— Não sei, Jake. Acho que não acredito que as coisas sejam assim tão simples. — Ele deu um suspiro e seu hálito embaçou o interior do copo de cerveja. — Só sei o que tudo isso realmente explica: por que vocês e o vovô eram tão chegados.

— Como assim? – disse intrigada.

— Demorou cinquenta anos para ele superar seu medo de ter uma família. Você e seu irmão chegaram na hora certa.

Eu não soube o que responder. Como dizer para o próprio pai: Sinto muito por seu pai não o ter amado o suficiente? Resolvi dizer apenas boa-noite e fomos para a cama.

Quando acordei Jake e papai estavam falando alguma coisa sobre um falcão e umas marcas de garra na cômoda, achei melhor nem perguntar, era cedo demais para qualquer coisa. Durante o café da manhã, comecei a me perguntar se não tinha desistido com muita facilidade. Embora fosse verdade que a casa estava em ruinas, mas a fenda poderia estar em algum outro lugar, ou na casa poderia ter algo que me ajudasse a encontrá-la. Eu poderia passar semanas examinando todo o lixo que havia lá.

Era uma manhã quase perfeita. A distância línguas de neblina densa descendo as colinas, lugar onde este mundo terminava e o próximo começava, frio, úmido e sem sol. Estávamos caminhando no alto das colinas quando começou a chover. Como era de esperar, eu tinha esquecido as botas de borracha, e a trilha era uma faixa de lama que se aprofundava rapidamente. Mas ficar um pouco molhada parecia absurdamente preferível a subir aquele morro duas vezes na mesma manhã, por isso coloquei o capuz da jaqueta e caía e seguimos em frente com dificuldade.

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