The Restart

I missed you

Você não escolhe quando ou como as coisas vão acontecer, nem se serão boas ou ruins. Elas só acontecem.

Eu recebi uma ligação ás 3 horas de uma madrugada chuvosa. Ao invés de atender, passei um tempo observando o aparelho. Não porque não queria atender Mas porque ninguém nunca me ligava. O número era desconhecido, o que fazia tudo parecer mais esquisito ainda.

De qualquer forma, atendi. Ouvi uma respiração descompassada do outro lado da linha. Quem quer que fosse parecia estar chorando. Fiquei quieta, ouvindo. Era algo terrível achar aquele som adorável?

- Arizona? - a pessoa sussurrou. E no instante que eu ouvi aquela voz rouca, a reconheci. E todo e qualquer sono que eu pudesse estar sentindo só desapareceu. Apesar de não ouvi-la há tantos anos, senti o mesmo arrepio correndo pelo meu corpo simplesmente não sabia o que dizer ou fazer

- Arizona. Sou eu...

- Calliope - Completei - Calliope - Repeti, não fazendo ideia do que dizer. Ela fungou levemente.

- Escute, eu sei que você me odeia.Sei que já faz anos desde que nos falamos pela ultima vez. Mas preciso de ajuda, e não é sobre mim. Eu estou com uma garotinha. Ela...está...

- Onde você está, Callie? Eu vou até aí.

Ela me passou um endereço. Ficava há algumas quadras da minha casa, então apesar do diluvio em Seattle eu não teria problemas em chegar. E se tivesse, iria mesmo assim.

Como uma pessoa pode causar o mesmo efeito em outra depois de anos? Depois de decepções, de lágrimas, de gritos e términos, depois de seguir em frente na ilusão de ter superado aquela latina de olhos castanhos que acabei de descobrir que ainda me deixava nervosa como uma menina de 12 anos em seu primeiro amor. Pressionei os dedos contra o volante enquanto dirigia, todas as memórias vindo rápido e em flashes.

O dia do término foi chuvoso. Callie me deixou da forma mais doce e dolorosa, dizendo que tínhamos mais baixos do que altos, e eu merecia o contrário. E depois disso, tudo o que tive foram baixos. E de repente, ela só liga em uma madrugada chuvosa falando de uma garotinha, e eu só aceito. E sei que não é só pela garotinha.

O endereço que recebi deu para duas casas, uma ao lado da outra, e um beco sem saída entre elas. As casas eram escuras. Ninguém parecia morar ali. Olhei pelo vidro retrovisor do carro Callie teria me mandado para um lugar aleatório para brincar comigo? Não. Eu esperava que não.

A porta de uma das casa se abriu mostrando uma vela. E logo depois, a morena.

Prendi a respiração. Ela ainda era a mesma. O cabelo negro e longo com um brilho que só ele tinha. Os olhos castanhos, desafiadores e cheios de coragem. Percebi que olhava para mim. Eu queria enterrar minha cabeça em algum lugar. Mas só fiz sinal para que entrasse em meu carro, e ela entrou novamente na casa.

Voltou algum tempo depois segurando o que mais parecia um emaranhado de lençóis com fios pretos de cabelo. A chuva tinha parado por segundos, dando lugar a trovões e relâmpagos. Ouvi o som agoniante e doce de um choro infantil assim que ela se aproximou do carro. Abri a porta.

O que é esperado quando você encontra sua ex namorada ( Ela a pessoa que você mais amou em sua vida inteira) com uma criança e ela está dentro do seu carro? Que você a beije e diga que sentiu falta? Nós ficamos nos olhando por vários minutos, como se o mundo tivesse parado. Mas não tinha. Infelizmente, ele nunca parou.

A garotinha bateu os dentes, com frio. Callie abaixou a cabeça para olha-la, depois voltou a me olhar.

- Eu não sei como devo...