Um sol fraco saiu do seu esconderijo atrás de uma nuvem, indicando que o verão não estava longe. Aquilo parecia uma ironia com meu humor. Eu sentia um inverno rigoroso dentro de mim.
Fechei os olhos quando senti aquele perfume, e logo depois aquele calor em minhas costas. Callie podia acabar com qualquer inverno só se aproximando de mim.
- Trouxe chocolate quente pra você — Ela falou baixinho, me entregando a xícara e colocando uma manta quentinha em meus ombros — Quer dormir agora? Você não pregou os olhos essa noite.
Era verdade. Depois de um tempo, Amelia havia se retirado para se dedicar totalmente a Sofia, e Callie dormira em meus braços. Passei a noite em claro, deslizando meus dedos por seus cabelos negros, vendo suas expressões enquanto dormia e sonhava. Quando acordou, ela não sabia se ficava brava ou preocupada. Optou por ficar preocupada, e decidiu que cuidaria de mim. Se alguém me disesse que ela poderia ser mais perfeita, eu não acreditaria.
Bebi um pouco do líquido quente, apoiando a cabeça no ombro de minha namorada, que me abraçou carinhosamente. Ergui os olhos quando vi um vulto passar correndo por mim, e observei a cena que acontecia no corredor. Uma mulher e um homem se aproximaram de um médico. O profissional abaixou a cabeça e falou algumas palavras, e quase imediatamente a mulher caiu de joelhos no chão, chorando compulsivamente, e o homem se abaixou e a abraçou, também chorando. Escondi o rosto na curva do pescoço de Callie porque não queria mais ver a cena. Não queria mais imaginar que ela poderia acontecer comigo.
- Callie, você tá tremendo.
- Eu deveria estar cuidando de você — Murmurei, levantando os olhos para encontrar os seus, claros e inchadinhos em volta pelo choro da noite anterior. Ela sorriu e beijou meu nariz gelado.
- O amor nunca pode vir só de um lado. Assim como o cuidado. Você me fez forte para que eu estivesse forte quando você se sentisse cansada — A morena deslizou o polegar direito por minha bochecha e arrumou a manta com a outra mão — Acho que é tudo sobre reciprocidade.
- Ou só sobre amor — Sorri, apaixonada, e ela sorriu da mesma forma, se inclinando para me dar um selinho. E outro. E outro. Até que eu me afastasse com um sorriso — Quieta. Me deixa beber meu chocolate quente.
- Mas eu... ah, tá — Ela me puxou pra perto.
Esperamos por algum tempo daquele jeito. Abraçadas e quietas. Compartilhando uma xícara de chocolate quente, e o calor de um abraço. Até que vimos Amelia vindo em nossa direção. O tempo parou.
A cena da mulher que havia caído no chão com a notícia do médico se repetiu em minha mente. A expressão preocupada de Amelia cada vez mais próxima, enquanto eu me encolhia, e sentia meu corpo inteiro tremer. A médica chegou perto, e tentou mostrar um sorriso amigável, mas pareceu preocupado.
- Oi, meninas. Bem, vocês já devem imaginar que eu tenho notícias e imagino que esperam que eu seja direta. Passei anoite ajudando alguns médicos com exames e tentativas de reanimar Sofia, e nós conseguimos fazer com que ela acordasse.
Um pequeno sorriso involuntário surgiu em meus lábios repentinamente. Minha Sofi estava acordada.
- Mas nós estamos em uma situação terrívelmente delicada. E eu sinto muito e peço desculpas novamente, levando toda a culpa por esse acontecimento, mas precisamos de uma cirurgia o mais rápido o possível. E vocês precisam decidir urgentemente sobre isso. Sofia está muito fraca. Sua saúde...não está nada como na primeira cirurgia. Nós corremos perigo.
Perigo. A palavra ecoou em minha mente. Me encolhi mais ainda, com medo.
- Perigo — Repeti, quase sem querer. Amelia assentiu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Restart
Romance"Como uma pessoa pode causar o mesmo efeito em outra depois de anos? Depois de decepções, de lágrimas, de gritos e términos, depois de seguir em frente e quase acreditar na ilusão de ter superado Calliope Torres ainda me deixava nervosa como uma men...