Pain and Love.

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Foi como se eu estivesse caindo. Caindo muito rápido, meu coração acelerado, meu corpo inteiro suando com o medo daqueda, mas paralizado. E então eu colidia com o chão, e o susto se espalhava por meu corpo como dor, fazendo meu coração martelar dentro do peito.

Essa foi a sensação de acordar com um grito alto de Sofia. Meu corpo entrou em um estado de alerta e expulsou todo sono. Perigo. Minha filha estava em perigo.

Me levantei exatamente na mesma hora que Callie saltou para fora da cama. Ela me olhou por segundos antes de me puxarpela mão para fora do quarto até o quarto de Sofia.

Agonia.

Dor.

Uma dor agonizante.

Era isso que os gritos pareciam dizer.

Nós entramos no quarto, e assim que eu acendi a luz, Callie se jogou ao lado da cama, onde Sofia se contorcia, gritando, as mãos na cabeça, as lágrimas caindo por seu pescoço e bochechas.

- Sofi por favor, me diz o que você tá sentindo agora. Por favor, Sofia. Por favor.

Não houve resposta. A garotinha apenas aumentou a intensidade dos gritos.

- Meu amor...nós precisamos saber o que está acontecendo, por favor, Sofi — Callie soou desesperada, como se estivesse implorando.

- D-dor. Tirem a dor. Muita dor — Sofia balbuciou.

Callie respirou fundo apenas uma vez antes de pegá-la no colo, e ficar de pé, encontrando meus olhos. Eu só podia ver preocupação ali. Não a preocupação de não saber como vai se sair em uma prova. Não, definitivamente não. Aquela era bem pior.

Era a preocupação de mãe.

A preocupação de quem pode perder quem ama a qualquer minuto.

- Leve ela para o carro, Callie. Eu vou pegar nossos casacos e vou correndo até lá.

- Não demora — Foi tudo que ela pediu, a voz embargada e trêmula sumiu entre soluços quando desceu as escadas.

Peguei um casaco lilás para Sofia, um sobretudo preto para Callie, e vesti o meu, marrom. Peguei nossos sapatos e praticamente voei pelas escadas até a porta, que travou quando eu fui trancar. Soquei a fechadura até que eu começasse a chorar de raiva, e só então a porta trancou. Eu não pensava mais. Fazia as coisas com a mente concentrada apenas na minha pequena e doce Sofia. Eu precisava salvá-la. Eu precisava.

Assim que eu pulei para dentro do carro, no banco do motorista, liguei o carro e acelerei. E dirigi tão rápido, que eu podia jurar que nós iríamos bater. Tudo o que eu via eram as luzes dos postes de luz e dos carros, através dos olhos embaçados pelas lágrimas. Mas eu tenho certeza de que não podia fazer diferente. Não me permiti parar por qualquer semáforo. O que diabos significava uma multa quando nós podiamos perder quem amávamos? Ouvi a voz de Callie tentando acalmar Sofia quando ela gritou. Ouvi uma buzina e um grito assim que fiz uma curva que parecia impossível. Mas nós permanecemos vivas. Eu me tornaria a melhor motorista só para salvar a vida das duas.

Não estacionei no hospital. Uma batida parecia ter acontecido, e o trânsito estava horrível. Então parei. Duas quadras antes do hospital. Olhei para trás e soube que Callie havia entendido exatamente o que eu queria fazer. Então desliguei o carro, e nós saímos, correndo com a pequena nos braços.

Tudo parecia acontecer em câmera lenta. O hospital parecia longe demais. Sofia não tinha mais forças para gritar tão alto. Só soluçava e chorava. E continuava a sussurrar a mesma palavra.

Dor.

O tempo estava acabando. Não havia tempo.

As pessoas dentro de seus carros, mesmo imersas em suas vidas e preocupações, pararam de buzinar ao nos ver. Ao ver que naquele momento, nossas mentes já faziam barulho suficiente. E eu os agradeci silenciosamente. E tenho quase certeza de que Sofia os agradeceu silenciosamente também. Como dizem por ai "Ás vezes, a dor é o que nos torna humanos".

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