Wanna be your hero.

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  Só percebi que ainda estava acordada ás duas da madrugada, quando Callie chamou meu nome. Antes disso, estava entorpecida. As lágrimas pareciam ter congelado. Olhei para o lado e vi suas pedras castanhas brilhando.

- Quer sair daqui? — Sussurrou.

- Não podemos deixar a garotinha só.

- São só alguns minutos. Tem essa máquina monitorando o batimento cardíaco, se fizer qualquer barulho, nós voltamos.

- E para onde você pretende ir, Torres? O hospital funciona 24 horas, tem pessoas pra todo lado.

A morena se levantou e veio até mim, pegando minha mão. E assim que deu um beijo delicado na testa da garotinha, me puxou para fora da sala, pela janela.

~X~

- Você tem sorte da janela ser grande - Resmunguei. Callie riu. Depois de ter me feito pular a janela, o que pra mim já era um absurdo, ela me trouxe para o jardim do hospital. Um vasto espaço coberto de grama e árvores, com trilhas para que os internos pudessem caminhar. Mas á noite, estava vazio. A luz da lua e das estrelas nos iluminavam entre os vários galhos de árvore sem folha alguma, já que era outono. Eu e Callie estávamos sentadas, encostadas em uma árvore.

- Você acha que ela sabe? — Perguntei. Callie rancou um pouco de grama e a segurou.

- Acho que ela sabe que está doente. Mas não sabe o que é. Acho que devíamos contar, de forma simples.

- É... — Suspirei. Callie deixou a grama escapar pelos seus dedos - Eu estou muito, muito apegada a ela. Isso é muito ruim?

- Hmm, Ari. Tem só uma coisa que você precisa saber - Callie me olhou, a cabeça ainda encostada no tronco da árvore - Sofia deveria estar no orfanato. Já que sua mãe morreu, e seu pai está preso, portanto não tem chance alguma de ficar com ela. O resto da família segue a mesma linha. Então Addisson deixou claro que queria que eu ficasse com ela, e cuidasse dela, e eu jurei. Mas eu não posso. Não tenho sua habilidade. Então eu pensei que talvez você quisesse...ficar com ela.

- Eu não tenho habilidade nenhuma, Calliope.

- Claro que tem, Arizona, você está sendo uma mãe maravilhosa. Sofia está apaixonada por você.

Suspirei, olhando minhas mãos.

- Eu realmente me sinto uma mãe. Isso é estranho. Nunca planejei isso, sabe? Eu achava que continuaria minha vida solitária para sempre. Mas aí vocês duas chegaram, e bagunçaram tudo. E foi uma bagunça tão libertadora. Foi a melhor coisa que já me aconteceu. Mas apesar de tudo, eu sei que não devo. E Addisson confiou em você. Você sempre me terá ao seu lado mas eu não...posso.

Apesar da pouca iluminação fornecida pela lua, eu ainda podia ver o clássico sorriso de canto nas horas erradas de Calliope Torres. Ela virou o rosto devagar e me olhou nos olhos, e eu percebi, de novo, o quanto eu a amava e a queria por perto. Nós resistimos ao tempo. Meu amor por ela só cresceu quando devia diminuir. E agora ela me olhava, assim, e eu admitia para mim mesma que eu a queria. Queria que Sofia estivesse certa e tivesse duas mães, porque Callie e eu estávamos juntas. Mas tinha tanto medo de perdê-la de novo...

- Ari? — Chamou, baixo. Sua mão gelada estava sobre a minha, e eu olhei para aquilo como olhei da primeira vez que ela o fez, e Callie lançou o mesmo olhar para o gesto — Sobre o que aconteceu na varanda do restaurante...

- Call... Não.

- Não, eu insisto em me desculpar.

- Calliope.

- Arizona - Ela olhou em meus olhos, parecendo visivelmente confusa com minhas interrupções. Rolei os olhos e impulsionei o corpo para frente, vendo seus olhos de perto. Minha respiração começava a ficar descompassada, e a dela também. Me perguntei se nós compartilhavámos o mesmo sentimento. Callie olhou em meus olhos, buscando a permissão que já tinha. E então me deu um delicado selinho, como se estivesse com medo. Balancei a cabeça negativamente e voltei a alcançar seus lábios, dessa vez fazendo durar mais tempo. A morena me trouxe mais para perto, e quase sem perceber, nós caímos na grama.

- Devo pedir perdão? — Sussurrei. Callie sorriu de canto, seu cabelo negro espalhado pela grama, os olhos castanhos em um tom escuro.

- Eu devo.

Suspirei e caí na grama, ao seu lado. Callie se virou para me olhar nos olhos, mas eu desviei o olhar.

- Eu não sou confiável, Ari. E a última pessoa do mundo que eu quero machucar é você.

- Porra, Calliope! — Fiquei de pé. E ela também ficou, parando em minha frente - Você já me machucou, e quer saber? Isso - Peguei sua mão para que ela sentisse o quão gelada e suada ela estava, e depois direcionei para meu peito, onde meu coração parecia querer pular fora para que ela segurasse - Isso...ainda acontece, mesmo que, na sua hipótese e em uma provável realidade futura eu pense que você é uma idiota sem coração!

Torres me empurrou contra a árvore e olhou em meus olhos com um ar autoritário. Estávamos tão perto, e só aí eu percebi o objetivo daquela atitude tão repentina. Eu sentia seu coração martelar, e quase podia ouvi-lo.

Take off all of your skin, I'm brave when you are free.

Shake off all of your sins, and give them to me.

Closer, let me back in. I wanna' be yours, wanna' be your hero.

And my heart beats.

Incêndios começam com faíscas. O incêndio provocado por Callie começava com um olhar. Puxei-a para perto pelo cabelo, e ela não reclamou. Nos beijamos como se quisessemos aumentar o incêndio e não acabar com ele.

Like the empires of the world unite, we are alive.

And the stars make love to the universe.

You're my wildfire every single night. We are alive

And the stars make love to the universe, and you touch me...

Callie me levantou do chão e apoiou minhas costas na árvore. Suspirei alto o suficiente para que alguém do hospital escutasse.

- Call... vão nos achar aqui. Vamos ser conhecidas como as duas lésbicas fazendo coisas erradas no jardim.

- Contanto que estejamos juntas - Ela deixou escapar uma risadinha. Coloquei meus pés no chão de novo e a olhei nos olhos, com um sorriso carinhoso.

- Parece que nossos corações ainda tem o mesmo defeito - Falei como se contasse um segredo. E ela sorriu, triunfante. Então entrelaçamos nossas mãos e voltamos para a sala da garotinha que por alguns minutos, tinha duas mães.

I'm just gonna raise my head. Walk up to the final edge. And I'm gonna fall.

(And the stars make love to the universe)

I'm just gonna raise my head, and hold you close.

Like the empires of the world unite, we are alive

And the stars make love to the universe

You're my wildfire every single night, we are alive

And the stars make love to the universe...

The RestartOnde histórias criam vida. Descubra agora