Stay With My!

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  Corremos. Corremos como se corrêssemos contra o tempo. Como se estivéssemos prestes a levantar voo. Mas a sensação era de estar caindo. Quando chegamos, a primeira coisa que notamos foram as cadeiras vazias, e uma aglomeração de pessoas perto da área infantil. 

- Fique atrás de mim, segure minha mão - Calliope falou, calma, mas sua voz falhou.Estava com medo, mesmo que tentasse não demonstrar. Fiz o que ela pediu, e ela meguiou, abrindo caminho pela multidão, enquanto eu repetia "somos as mães". E foi ainda pior quando chegamos. 

Sofia estava nos braços de um rapaz jovem, que checava seu pulso. Ela estava totalmente imóvel. Um dos braços pendia ao lado do corpo como se ela não tivesse controle dele, e sua cabeça estava caída para trás. Foi quase como se eu não tivesse mais controle de mim, e de nada. Foi tudo um vulto. Me atirei no chão e segurei o rosto da garotinha. Estava vermelho, e pálido ao mesmo tempo. Lágrimas grossas escorriam por sua bochecha. Ela estava acordada. Ouvi Callie chamando uma ambulância atrás de mim, elogo depois, ela pegou a pequena nos braços. E nós corremos, de novo, para a ambulância. E de dentro da ambulância para os corredores do hospital. Lembro que colocaram Sofi em uma maca e correram com ela pelo corredor, e ela me olhou. Seus olhos castanhos eram um misto de desespero e medo, e dor. Eu queria correr até lá. Eu queriapegar tudo o que estivesse sentindo para mim, e ver seu sorriso de novo. Eu juro que teria corrido, mas Calliope me segurou pela cintura. Passara um tempo dando nossos nomes para a secretária. 

- Eu estou aqui — Sua voz rouca saiu em um sussurro. Encontrei paz naquela sórbitas castanhas, inundadas, que me olhavam com carinho. E soube que ela sentia o mesmo. Estávamos no meio de um corredor. No meio de um caos. Em volta de nós, tudo era medo. Mas quando eu deitei a cabeça em seu ombro, e ela apertou minha cintura,pressionando os lábios contra minha bochecha, eu me senti bem. 

Quando voltamos a terrível realidade, Callie me puxou para sentar em um sofá decouro bem atrás de nós. Continuei com a cabeça deitada em seu ombro, e ela manteve seu braço em minha cintura. E nós ficamos assim por horas. Totalmente entorpecidas pelo medo. Até que alguém chamasse nosso nome. 

Era uma mulher, não tão alta, cabelos curtos e lisos em um tom de castanho escuro, e belos olhos castanhos. Ela sorriu gentilmente quando nós aproximamos, mas a dor era perceptível em seus olhos. 

- Vocês são as mães da Sofia? - Perguntou. 

- Sim, mas... 

- Eu sou pediatra. Meu nome é Amelia Shepherd. É um prazer imenso conhecê-las. Por favor,me acompanhem. 

Calliope apertou minha mão e nós a seguimos, em passos forçadamente lentos. Eu sóqueria ver a Sofi. Mas quando Amelia entrou em uma sala, não foi a de Sofia. Parecia só um escritório comum. Uma cadeira branca atrás de uma mesa de madeira, com alguns papéis bem organizados e lenços de papel, e duas cadeiras brancas do outro lado. As paredes eram brancas e o chão também, me dando uma sensação de vazio. 

- Sentem-se, por favor — Pediu, e nós obedecemos. A mulher sentou do outro lado,e suspirou, olhando para o teto — Não é fácil fazer isso. 

Minha mente começou a alarmar naquele exato momento. Callie segurou minha mão, sempre mais forte do que eu. 

- Eu já tinha visto Sofia algumas vezes. Sua mãe estava internada em outra unidade deste hospital, que não tem atendimento pediátrico. Mas antes que o câncer tomasse conta dela, ela veio aqui. Estava preocupada com a garotinha. Disse que um pouco antes de completar 5 anos, Sofia começou a sentir dores de cabeça de manhã. E depois tinha... vômitos. E então ela caia no chão. Só caia. Achou que fosse uma brincadeira de criança. Mas ela ficava imóvel, pedindo ajuda com dificuldade. Fizemos alguns exames,sempre considerando a opção do psicológico. A mãe estava doente. E depois de um tempo, as dores melhoraram um pouco. Disse a Addison para retornar se notasse algo estranho. Mas ela não pôde - Amelia respirou fundo, só então eu percebi que chorava - Estou grata por ter vocês aqui, e ao mesmo tempo lamento tanto. 

- Qual é o problema com ela, Doutora, por favor, por favor — Implorei. 

- Era tudo quase previsível. Nós fizemos alguns exames no pulmão. O câncer da mãe não a afetou naquele local. E então pensamos no cérebro e fizemos mais exames,várias vezes. E então nós analisamos, e vimos o que menos queríamos. Um tumor maligno com localização no cérebro. Chama-se meduloblastoma. Um câncer que atinge crianças... - Parei de escutar. Parei de respirar. Morri por segundos. Eu deveria sentir algo, mas não senti. Senti como se não pudesse me mover. Como se estivesse me afogando, acorrentada. Aos poucos, a realidade veio. Como gotas de chuva ácida caindo em meu corpo. Respirei novamente, em um grito. Minhas lágrimas caiam em minhas pernas, com uma velocidade absurda. 

- Ari - Ouvi a voz rouca de Callie, fraca pelo choro. Ela estava ajoelhada em minha frente, segurando minhas mãos, e eu não tinha percebido nada disso. 

- Por favor, me diga que é mentira. Me diga que isso é tudo uma brincadeira, nós vamos voltar para casa com ela... 

- Ari, por favor, me escute - A morena soluçou. Seus olhos injetados de sangue olhando apenas nos meus. E ninguém mais existia nesse mundo, a não sermos nós duas e a pequena Sofia.

- Nós precisamos ser fortes, ou Sofi não vai conseguir ser. Você me faz forte, Arizona. Por favor, fique comigo. 

Apertei suas mãos, puxando-a para cima, e ela me puxou de volta. Voltamos ao mesmo abraço do corredor, com a dor duplicada, e a força aumentando devagar. Por Sofia, nós lutaríamos. 

                                                                                                       ~X~

 Amelia nos deixou vê-la á noite, quando se certificou de que estamos bem o suficiente. E depois de ficar por um tempo abraçada á Callie, ouvindo-a sussurrar em meu ouvido o quanto eu era forte e o quanto precisava de mim por perto, eu estava bem. Quando vi a pequenina, tudo o que senti foi orgulho. 

- Fique comigo, você é uma guerreira - Sussurrei, em seu ouvido. Ela dormia. Porquase impulso, deitei ao seu lado na maca, e encostei meus lábios em sua testa. Callie deitou do outro lado e sorriu para mim. 

- Nós somos! - Pegou a mão da garotinha, e eu fiz o mesmo. 

- Contanto que estejamos juntas. 

Torres era minha âncora quando eu estava afogando. E Sofia era meu raio desol quando eu emergia. Prometi á mim mesma, ali naquela sala de hospital, nunca soltar aâncora, e nunca deixar meu raio de sol deixar de brilha.   

The RestartOnde histórias criam vida. Descubra agora