Aos quarenta e dois anos, Calliope Torres ainda parecia uma bebê quando dormia. Eu quase não respirava com medo de que ela acordasse e interrompesse a visão mais linda do mundo. Deslizei meus dedos pelo rosto que representava a perfeição, meu anel de casamento brilhando ao encontrar a luz de um raio de sol que entrava pela janela.
Nenhum detalhe passou despercebido, nem as novas pequenas rugas quase impercetíveis ela odiava e eu amava. Era muito estranho que eu tirasse alguns minutos e até horas nas minhas manhãs só para ver minha esposa dormir?
Ela enrugou o nariz e fungou, me puxando para perto pela cintura. É claro que fiquei frustrada porque assim eu não poderiacompletar meu ritual de adoração, mas era tão adorável quando ela me puxava mais para perto e ronronava contra meu pescoço que foi impossível ligar para isso.
Iniciei uma caricia lenta em seu cabelo e sorri ao perceber que Callie estava mesmo ronronando como um gatinho sonolento,esfregando o nariz em meu pescoço, e soube que ela estava lutando para continuar dormindo.
- Por que você só faz isso quando eu tenho que acordar? - Sussurrou, com a voz rouca de todas as manhãs, e manhosa também.
- Não disse que você tem que acordar. Mas falando nisso, tem mesmo.
- Naaaaaaaaão, Ari - Choramingou, apertando meu corpo contra o seu - Cinco minutinhos?
- Hmmm, ok - Me soltei do aperto dos seus braços e pulei para fora da cama antes que ela me puxasse de volta. Fiquei surpresa quando não a ouvi bufar nem reclamar, mas foi compreensível quando vi que ela já havia voltado a dormir.
Preguiçosa.
Dei graças a Deus por estar vestida quando a porta se abriu e minhas duas garotas entraram, Amina carregando uma Sofia sonolenta nas costas.
- Bom dia - As duas murmuraram, antes de cairem na cama e entrarem debaixo das cobertas com Callie.
- Ei, bom dia. Todas sonolentas hoje?
- Eu tive que carregar a Sofi até aqui porque ela ainda estava dormindo. Sério, mãe, você é a única pessoa acordada aqui.
- A única - Sofia confirmou, deslizando para mais perto de Callie, procurando uma posição confortável - Mamãe, você é espaçosa demais, puta m...
- Sofia Montgomery Robbins-Torres.
- Foi mal.
Rolei os olhos antes de deitar perto das três, que agora estavam quase pegando no sono de novo, juntas.
Suspirei de saudade e quase agonia quando vi minhas pequenas garotinhas as duas adolescentes. Oito anos haviam se passado desde o casamento, desde a luta contra o câncer e a adoção, e agora, a luta era contra os hormônios da adolescência e...bem, com as"chatices de mãe" que nós estávamos nos esforçando para não ter porque as garotas quase imploravam que não tivéssemos.
E estávamos nos dando bem. Pelo menos, Callie estava, já que as vezes ela demonstrava ter a mesma idade mental das meninas.
Eu estava tentando.
- Que dia é hoje? - Sofia murmurou, me abraçando e jogando as pernas por cima da mãe e da irmã.
- Depois eu sou espaçosa - Callie balbuciou, virando para abraçar Amina.
- Hoje é sábado, pequena.
A Sofia de 13 anos abriu os olhos e sorriu para mim, e eu quase pude ver a Sofi de 6 anos, as janelinhas entre os dentes, o cabelo curto. Agora seu cabelo estava abaixo da cintura, esperando pacientemente para ser cortado e doado para uma instituição de câncer. Ainda tinha o mesmo brilho nos olhos. Aquele brilho de quem está perdidamente apaixonada pela vida.. era uma das coisas que eu mais amava nela.
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The Restart
Romance"Como uma pessoa pode causar o mesmo efeito em outra depois de anos? Depois de decepções, de lágrimas, de gritos e términos, depois de seguir em frente e quase acreditar na ilusão de ter superado Calliope Torres ainda me deixava nervosa como uma men...