"Calliri?"

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Foram boas seis horas e meia de sono. Acordei com mãos pequenas e macias balançando meu ombro. Sorri ao ver os olhinhos doces de Sofia sobre mim.

- Bom dia — Sussurrei. 

- Boa tarde - Ela riu baixo — O ponteiro mamãe está no número um, e o ponteirobebê também -A pequena suspirou, e eu já sabia o que se passava em sua mente. Fizsinal para que se aproximasse, e quando obedeceu, deitei sua cabeça em meu peito epassei meus dedos pelos fios quase dourados. Senti-a relaxar. 

  - Mesmo que o ponteiro mamãe vá mais rápido na frente, e o ponteiro bebê asvezes se sinta só e perdido, tem alguns pequenos ponteiros que não se mexem, e vão ficaraqui com ele. Um dos pequenos ponteiros dorme muito — Baguncei o cabelo de Callie, eela nem se mexeu. Sofi ri

  - Ok, Calliri

- Calliri?   

 - Callie e Arizona... - A garotinha nem terminou de falar, e saiu correndo. Pulei da cama e corri atrás dela. Sua gargalhada era um som maravilhoso. Gostaria de ouvi-la sempre. Quando finalmente alcancei a pequena e a fiz cócegas, cansamos de correr. A ajudei a escovar seus dentes com uma escova rosa que nunca havia sido usada (e eu achava que nunca usaria) e deixei uma azul na pia para Torres. Fiquei feliz por ter aquela pequena coleção de escovas de dente. Seguimos para a cozinha, para fazer o almoço. Abri o armário.

  - Oh não, Sofi. Estamos sem mantimentos! - Coloquei a mão sobre o coração,dramatizando. A garotinha riu, mas voltou a me olhar com a expressão séria — Hm, certo.Eu tenho batatas fritas e suco de laranja, isso serve até irmos ás compras?

 - Gosto de batatas fritas. 

- Então vamos comer - Fiz sinal para que ela sentasse comigo nos banquinhos dobalcão da cozinha, e então abrimos as batatas fritas. Despejei suco de laranja em coposgrandes para nós duas. Ela não parecia satisfeita. Continuava me olhando, séria - O que houve? 

- Bebi um gole do suco. 

- Callie disse que vocês eram namoradas. 

Meu rosto esquentou imediatamente. Céus. O que dizer a ela? 

- Você a amou muito? — Sussurrou. Sorri, rodando um anel no dedo. Ele eraprateado, e tinha uma pedra castanha no centro. Eu podia negar pra qualquer um queperguntasse, mas sim, aquela pedra servia apenas para me lembrar dos olhos de Calliope - Ainda ama - Ela falou, como se lesse meus pensamentos. Olhei em seus olhos, comose pudesse me comunicar só assim. Passei tanto tempo tentando passar a imagem de quetinha superado, de que tinha passado por cima, mas não tinha. E aquela garotinha de 5anos conseguiu ver isso com tanta facilidade e naturalidade. Puxei a pequena para umabraço. 

- O amor é algo tão simples pra você - Sussurrei. Por trás dos ombros dela, viCallie. Meu coração disparou e minhas mãos suaram. Mas que diabos... 

Ela tinha tirado a jaqueta para dormir e usava uma camiseta da banda Kiss. Seucabelo um pouco bagunçado ainda a deixava maravilhosa. Me afastei da garotinha, queolhou para trás e sorriu. 

- Hmmm, olhar bobo-apaixonado, cena de romance Calliri — Cantarolou, enquantose esforçava para descer do banco. 

- Calliri? — Callie quis saber. 

- Callie e Arizona. Ela colocou na cabeça que nós... 

- Oh, sim. Calzona soa melhor, não acha Sofi? combina mais com Callie e Arizona? Podíamos fazer um fã clube - Callie e Sofia começaram a conversar sobre isso sem parar. Soavaestranho Calliope falar disso. Disse á mim mesma que ela falava porque não se sentia mal. Sem memórias. Sem sentimentos. Não se iluda, Arizona. Não de novo. 

- Então, crianças -  Olhei diretamente para Torres, que abaixou a cabeça com um sorriso no rosto - O almoço era batata frita. Mas uma das crianças devorou a batata frita.O que acham de um piquenique? Tenho sanduíche e pelo menos mais 5 litros de suco de laranja. Depois podemos comprar roupas novas para Sofi, já que as minhas roupas são gigantes. 

Percebi o brilho nos olhos da pequena, que logo foi trocado por medo. Ela trocouolhares com Callie. Depois abaixou a cabeça. Callie se aproximou de mim, e parou a pouco centímetros, o que, obviamente, me deixou tensa. 

- Sei que é importante para ela, mas eu não tenho como pagar você por isso, Ari. 

- E eu não quero que pague. Calliope, eu tenho estado solitária por tanto tempo. Sou escritora, você sabe. Passo meus dias aqui dentro procurando inspiração na dor da solidão. E agora minha inspiração é Sofia. Eu não quero perdê-la. E nem você... —Sussurrei a última parte, mas um sorriso se formou nos lábios de Callie. Ela se inclinou e beijou minha bochecha (céus, você já não me conquistou o suficiente?), e eu fiquei observando enquanto conversava com a garotinha.

  - Sanduíches! - Anunciei, me virando para a geladeira. Eu não era a melhor na cozinha, então comprava coisas prontas. E lá estavam alguns sanduíches guardados empapel alumínio. Abri o micro-ondas e Sofi veio correndo para onde eu estava. 

- Posso apertar o botão? — Pediu, carinhosamente, os olhinhos brilhando. Não pude resistir. Dei espaço a ela, que apertou o botão que eu indiquei assim que coloquei os sanduíches. A luz lá dentro se acendeu e a garotinha aplaudiu. Peguei-a no colo e abracei. 

- Você é uma gracinha! — Ela gargalhou. A afastei um pouco para olhar em seus olhos — Sabe aquele quartinho com roupas e gavetas? Do lado das gavetas, tem algumas toalhas. Você pode escolher uma para colocarmos no chão e termos nosso piquenique, oque acha?

 A loirinha assentiu e pulou do meu colo, correndo pelo corredor. Ri e voltei a preparar as coisas. Enchi uma jarra com suco e peguei três copos, antes de ouvir a voz rouca de Callie bem perto. 

- Ainda não falamos sobre nós - Falou baixo. Só algumas palavras e eu já estava gelada, e ao mesmo tempo, em chamas. Minhas mãos suavam segurando o copo - Olha pra mim - Pediu, carinhosamente. Soltei o copo e virei vagarosamente, porque queria evitar olhar em seus olhos, mas não consegui. Ela pegou em minhas mãos e apertou.Estavam trêmulas, geladas e suadas -  Isso é um problema, Ari? - Calliope realmente queria saber. Eu via isso em seus olhos. Ela estava preocupada. Mas eu não podia fazer isso. Queria ela por perto, nem que fosse como amor platônico. E sabia que se admitisse,aquela morena impulsiva iria para longe, com medo de me magoar. 

-Não, Callie - Soltei nossas mãos, e me virei de costas para ela, porque não conseguiria negar meus sentimentos olhando em seus olhos - Você é minha amiga, eu não sinto nada, minhas mãos só são geladas, é normal. 

Calliope tocou meu braço, e eu pude sentir sua mão ainda macia, mas trêmula, gelada e suada. Virei meu rosto e vi seu sorriso sarcástico, como se dissesse "minhas mãostambém só são geladas". Mordi o lábio e voltei a fazer o que estava fazendo, tentando –sem sucesso – não me iludir pensando que meu amor platônico não era tão platônico.

The RestartOnde histórias criam vida. Descubra agora