I Do.

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Não choramos quando a levaram. Callie suspirou e me puxou para um abraço. Éramos só nós duas, de novo. Meus braços em volta do seu pescoço e suas mãos em minha cintura.

- Você vai trabalhar? — A pergunta saiu mais manhosa do que eu esperava.

- No momento, só estou interessada em uma escritora — Ela sorriu fraco e beijou meu nariz — E preciso ficar aqui e dar apoio para essa escritora — Balancei a cabeça negativamente enquanto ria — Mas sério Ari. Tem outros funcionários. Aquele lugar não para quando eu saio. Ainda mais quando eu tenho um motivo com olhos azuis tão lindos.  

Se o objetivo dela era me deixar com vergonha, ela o alcançou. Abaixei a cabeça, sem graça, sentindo meu rosto queimar.

Ouvi sua doce risada e sorri junto, involuntariamente. Sempre involuntariamente. Meu amor por aquela mulher era algo tão espontâneo, e isso o tornavara tão bonito. Nós não faziamos ideia do que aconteceria. Só queríamos estar juntas.

Senti um incômodo no peito e logo soube o que era aquilo. Deitei a cabeça no ombro de Callie e suspirei.

- Você acha que vai ficar tudo bem?

- Sim, e eu vou te levar para sair — Ela respondeu, puxando minha mão para que eu a seguisse pelo corredor.

- Você o que? C-Calliope, você é louca? Nós não podemos!

- Ninguém disse que nós precisamos esperar aqui. Eu tenho certeza de que posso levar minha namorada para sair. Sabe,o hospital não é um bom lugar para se ter um encontro.

- Um encontro? Você realmente quer ter a porra de um encontro enquanto sua filha está em uma...

- Ai meu deus, exatamente, você é tão inteligente.

- Callie, para — Eu a puxei pela mão, e então ela parou e me olhou — Eu não quero sair. Eu quero esperar aqui e...me afogar em minhas próprias lágrimas. Eu preciso disso.

- Eu entendo... — Ela abaixou a cabeça, balançando positivamente, como se concordasse. Mas logo depois exibiu um sorriso travesso e me pegou no colo tão facilmente quanto se pegava uma criança — Por isso nós vamos sair.

- Deus, pare. Pare com isso. Eu vou te matar, Calliope Torres. Eu sei andar.

- É, eu também.

Chegamos ao lado de fora. Ela continuou me levando nos ombros e eu continuei dando tapas em seus braços e ombros na tentativa de fazê-la me soltar. Mas ela só me soltou no banco do meu carro, sorrindo como uma criança travessa.

- Dá pra parar de ser imprevisível, por favor? — Eu disse quando ela entrou do outro lado.

- Eu não sou imprevisível! Vou te dizer meus planos: fazer sexo no carro.

- C-A-L-L-I-E.

- Desculpe, babe. Você me conhece. Eu sou imprevisível.

Eu ri. Ela riu também. E então nossos olhos se encontraram. Eu ainda estava sorrindo olhando para aquelas belas pedras castanhas que faziam o tempo parar. Ela se aproximou devagar e eu segurei seu rosto, beijei seu nariz e logo depois, seus lábios. O beijo não tinha desejo. Nós só queríamos estar juntas. Sentir uma a outra. Quando acabou, ela sorriu e beijou meu nariz.

Dissemos "eu te amo" ao mesmo tempo, e então ela voltou para o lugar, e ligou o carro.

Callie dirigiu devagar, deslizando pela estrada molhada pela chuva, enquanto ouvíamos James Taylor. Eu estava sorrindo com a cabeça encostada no vidro, ouvindo sua grave e doce voz se juntar á música, sentindo meu coração se aquecer lentamente com amor. Ali, eu quase pude acreditar que tudo estava bem.

The RestartOnde histórias criam vida. Descubra agora