Suspirei mais uma vez quando o cheiro do doce perfume de bebê invadiu minhas narinas. Sofia esfregou o nariz de forma engraçada, e voltou a dormir, com as mãos sobre o rosto. Beijei sua testa demoradamente, na esperança de que em seu sono, ela soubesse o quanto eu a amava.
Desviei o olhar para a janela. Apesar de o chão do quintal estar coberto de neve e as árvores também, ela ainda caia lentamente, como se escolhesse o lugar para pousar. O inverno havia chegado. E com ele o início dos problemas.
Um tempo depois de termos colocado Sofi na cama, ela acordou. Por alguma razão, ou conexão, eu acordei exatamente na mesma hora, e pude ver sua expressão de dor. Ela não respondeu quando eu perguntei qual era o problema. Ela simplesmente não conseguiu dizer nada antes de se arrastar para fora da cama, e vomitar antes de chegar no banheiro. Corri e me ajoelhei ao seu lado, segurando seu pequeno corpo que impulsionava para frente, e ao mesmo tempo, tirando os fios de cabelo de seu rosto. Eu sabia que ela precisava fazer isso, mas céus, era horrível vê-la assim. Callir acordou quando a menina caiu em meus braços, sem forças depois daquilo tudo. A morena pediu que eu fosse dar um banho em Sofia e ela limparia o chão. E foi isso que nós fizemos. Cabeças baixas, corações pesados, a madrugada fria foi longa.
Ás 4:00 da madrugada, depois de chorar e se contorcer pelo enjôo, Sofia finalmente pegou no sono em meus braços. Callie também, exausta, deitou a cabeça em minhas pernas e dormiu. E eu fiquei olhando a neve, porque não conseguia fazer nada além daquilo. Eu parecia entorpecida pela dor de ver minha menininha vomitar. E pela dor de saber que isso era só o começo. Eu estava tão assustada, tão aterrorizada com a ideia de perder Sofia!
E eu sabia que alguém havia se sentido exatamente assim há algum tempo atrás.
Deus, eu precisava ligar para ela.
Deitei Sofi na cama e arrumei alguns travesseiros em volta, para que não caísse e não sentisse frio. Callie continuou dormindo como uma pedra e eu não precisei fazer nada para evitar que acordasse. Ela não iria.
Saltitei para fora da cama, com o celular em mãos, pisando na madeira gelada no chão até chegar a varanda, onde o frio era pior e a imagem da neve mais bonita ainda. Disquei o número de minha melhor amiga, sem medo de acorda-la. Provavelmente iria. Mas não é como se ela fosse me matar por isso.
"Eu vou matar você, Arizona Robbins" Foram suas primeiras palavras ao atender. Sorri quase que involuntariamente.
- Não vai nada - Ri. Ouvi minha melhor amiga bufar e depois bocejar - Eu precisode ajuda, Apri...
"Eu conheço essa voz. Você está segurando o choro."
Advinhou, como sempre.
"E se eu não me engano tem haver com Sofia"
E mais uma vez, ela acertou. Ao ouvir aquele nome minhas pernas enfraqueceram e eu sentei no sofá atrás de mim, um cansaço súbito acompanhado de tremor.
- Ela vomitou pela primeira vez hoje, April. Ela acordou e vomitou. Eu a segurei, segurei seu cabelo mas aquilo não parecia ter fim. E depois, ela caiu nos meus braços, sem forças, e só conseguia chorar. Você sabe o que é a agonia de ouvi-la chorar? Você sabe o que é a agonia de saber que minha filha sente dor e eu não posso fazer nada?
"Eu sei, Ari"
Ela falou baixo, funguei, e enxuguei algumas lágrimas.
"Eu sei como se sente. Sei que arrancaria a dor dela para colocar em você. Eu sei como é".
- Eu a amo tanto, April, eu queria tanto olhar em seus olhos e chamá-la de filha. Mas eu simplesmente não suporto a ideia de tomar o lugar de Addison ou... perdê-la.
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The Restart
Romance"Como uma pessoa pode causar o mesmo efeito em outra depois de anos? Depois de decepções, de lágrimas, de gritos e términos, depois de seguir em frente e quase acreditar na ilusão de ter superado Calliope Torres ainda me deixava nervosa como uma men...