Waiting

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Não conversamos depois. Fui com Penny e Eliza até a portaria, e elas se despediram. Penny pediu para que eu fosse forte e paciente, e "ignorasse a babaca da Callie" como se isso fosse possível.

- Ela ama você. Só não vê isso ainda, por que... bem, porque é idiota. Só ignore ela. Ignore a babaca da Callie, até que alguma de vocês duas decidam que não conseguem ficar sem o corpo uma da outra - Disse. É claro que eu ri. Abracei as duas, e elas seguira seu caminho.

A cirurgia de Sofia demorou longas 9 horas, que eu gastei ora andando pelos corredores, e ora sentada na frente da sala de cirurgia, tentando captar algum sinal de vida. Eu precisava ligar para a editora e explicar o motivo de nunca mais ter enviado os capítulos do livro, mas não conseguia fazer aquilo agora. Por causa de Sofia, e bem...

 Callie parecia ter decidido fazer o mesmo que eu. Sentar e esperar, depois de ter percebido que andar para lá e para cá não ajudaria em nada. Eu percebia em sua expressão facial que ela queria puxar assunto. Mas eu não estava preparada para ouvir desculpas, e muito menos aceita-las.

Me levantei e voltei a andar pelos corredores do hospital, e ela não me impediu. Quando a cirurgia acabou, ás 10 horas da noite, vários médicos sairam da sala. Suas expressões eram desanimadoras, o que me deixou desesperada. Amelia veio logo atrás, conversando com um médico mais alto.

- Arizona! - Ela sorriu quando me viu - Foi um sucesso. Dr. Owen fez a cirurgia.

Fiquei paralizada, sentindo apenas meu sorriso crescer no rosto.

- Pelo que é visível agora, conseguimos retirar o tumor - O doutor afirmou, com um sorriso orgulhoso no rosto, apesar de parecer exausto.

- Ela está livre do câncer? - Sorri, não conseguindo mais me controlar  - Podemos leva-la para casa?

- Não, não, eu sinto muito, Arizona. Nós estamos apenas começando. Sofia está desacordada, e vai ficar sob observação até que desperte, e então, vamos apenas checar como está antes de começar a quimioterapia e a radioterapia. Será um periodo difícil, mas vocês sempre terão nosso apoio.

- Apesar de não ser o conto de fadas que eu sempre espero para ela, isso é ótimo. Obrigada por tudo, vocês são ótimos no que fazem, eu realmente não sei o que dizer - Ri.

- Bom, agora eu preciso ir. A cirurgia foi longa e eu preciso descansar antes da próxima. Nós nos vemos depois, senhoritas -  O doutor olhou para mim, e depois para Amelia então apenas sorriu e saiu.

Amelia me lançou um olhar indescritível. Um olhar que fazia parecer que ela era uma adolescente, corando pelo seu primeiro amor. Olhei para trás, onde o Doutor havia parado para cumprimentar uma criança, e depois para ela de novo.

- Quer falar sobre isso? - Perguntei, apesar de querer ver Sofia naquele momento. Amelia olhou para os lados e sorriu.

- Acho que posso conversar um pouco. Isso acabaria com minha pose profissional, mas merda, é visível, não é?

Assenti e então nos sentamos nas cadeiras de espera em frente a sala de cirurgia. Calliopr não estava por perto, o que era bom, porque eu não conseguiria me concentrar.

- Você gosta dele - Chutei, mas estava bem claro, ela apertou os lábios e olhou novamente para os lados.

- De forma estritamente profissional, eu estou louca por esse cara, eu não quero que ele perceba o quanto eu estou sendo falha no meio profissional, mas ao mesmo tempo quero que ele perceba e perceba que é igualmente falho.

Ri da sua confissão desesperada.

- Ele olha pra você de um jeito diferente e isso é visível, mas talvez esteja com medo de demonstrar o que sente porque você não demonstra, por que não tenta uma aproximação?

- Não é tão seguro...   

- Nada seguro vale a pena - Falei, abaixando o volume a medida que Callie se aproximava de nós, e ela olhou diretamente para a doutora, procurando alguma informação.

- Foi um sucesso, mas creio que tenha que pedir para que aguarde alguns minutos, enquanto esclareço alguns assuntos para Arizona Você pode esperar, certo?

Callie olhou para mim, e depois para Amelia, e por último para mim de novo. Seu olhar era um misto de tristeza e confusão, eu não conseguia vê-la assim, ela sabia que só um olhar e algumas palavras me fariam cair em seus braços. Mas isso não aconteceria tão cedo, a morena se virou e voltou a caminhar pelo corredor.

- Pelo visto não sou só eu que preciso conversar - Amelia cantarolou e eu á  olhei nos olhos.

- Isso acabaria com minha pose profissional?

Nós rimos, Amelia estava sendo uma amiga maravilhosa naquele período.

- Você sabe que não somos casadas, certo?

- Sim, e advinhe quem contou? - Ela fez uma careta segurando o riso - Sofia disse que se vocês não começassem a namorar, ela ia ficar muito brava com as duas.

É provável, contei a história do começo ao fim, e ela ouviu cada palavra atentamente. Não esqueci um sequer detalhe de cada momento. E nenhum dos nossos altos e baixos. Quando terminei de falar, chegando a situação que enfrentavamos agora, ela suspirou.

- Ela não sabe como lidar com a situação, mas ela quer falar com você. Eu vi isso quando ela veio até aqui, mas ela não sabe o que dizer - Hesitei, olhando minhas mãos - Callie ama você, ela tinha seu telefone depois de todo esse tempo e só estava esperando o momento certo de voltar, mas precisam ser pacientes agora. Ela pode não estar tão pronta quanto você.

- Eu esperei por ela por todo esse tempo, mesmo que outras e outros tenham passado por minha vida, eu sempre vou esperar por ela, Amelia - Falei baixo - Eu amo essa mulher.

A médica sorriu e ficou de pé, estendendo a mão para mim.

- Então a espera não será longa.

Fomos até a sala de cirurgia. Uma parede de vidro nos separava da pequena Sofia que dormia. Estudei cada traço facial. Os cilios longos, os lábios avermelhados entre abertos e a bochecha rosada. Eu a amava tanto que me assustava as vezes. Pensei na proposta de Callie, sobre ficar com ela. Eu queria tanto ficar com essa garotinha. Queria cuidar dela e dar a melhor infância possível. Mas eu sabia que se ficasse com ela, Callie desapareceria, sempre se culpando de ser irresponsável e não poder ficar. Eu não me importava com sua irresponsabilidade. Eu a amava.

Amelia foi até a porta, e eu continuei olhando a pequenina. Estava tão encantada e ao mesmo tempo tão aliviada por não tê-la perdido. Amelia deu um leve aperto em minha mão direita, me tirando dos meus pensamentos. Olhei para a direita, procurando vê-la, mas não era ela.

Calliope tinha as mãos espalmadas e a testa encostada no vidro. Seus olhos estavam fechados com força, e lágrimas grossas escorriam por suas bochechas.

Olhei para Amelia e ela tinha um pequeno sorriso nos lábios. Sua expressão quase dizia "é agora, Robbins".

É agora, Robbins! Assim que tirei as mãos de Callie do vidro e as coloquei em volta dos meus ombros, diferente do que achei que faria, ela enterrou a cabeça em meu pescoço. Fechei os olhos, sentindo seu cheiro e fiquei mais calma enquanto sentia ela ficar mais calma também. Era como se estivessemos conectadas, como se eu pudesse sentir tudo o que ela sentia. E no momento, ela sentia medo.

A Callie assustada e insegura que ela lutara todos esses anos para que não aparecesse estava começando a se mostrar de forma clara. Eu queria mostrar que a amava mesmo assim e a queria por perto, mas sabia que podia estragar tudo se dissesse algo, Mas não fui eu que estraguei tudo.

Callie se afastou um pouco. Seus olhos encontraram os meus quando ela encostou a testa na minha, e ela me olhou profundamente, com aquela habilidade única de transformar segundos em um infinito. E por um segundo-infinito, eu pensei que tudo ficaria bem.

Mas ela beijou minha testa e sussurrou um pedido de desculpas, com uma voz fraca. Não consegui me mover depois disso.

Calliope Torres enxugou as lágrimas, e se afastou. Se afastou até que eu só conseguisse ver o vulto de cabelos negros chegando até a recepção, e então, provavelmente abrindo a porta e saindo. E depois disso, eu não a vi mais. E apesar de tudo, continuava esperando, ela tinha ido embora outra vez, me deixado ali no hospital com a nossa filha.

The RestartOnde histórias criam vida. Descubra agora