Acordei ouvindo vozes no fim do corredor. Tateei a cama ao meu lado eimediatamente senti falta do calor de minha namorada.
A janela da varanda do quarto estava aberta, permitindo que o vento frio entrasse. Eu podia ver as nuvens, escuras e as árvores balançando. Uma chuva se aproximava.
Fui até lá e fechei a janela, e me permiti pensar em meu emprego. Precisava escrever. Precisava enviar algo para a editora e talvez me aceitassem novamente. Mas eu simplesmente não conseguia pensar em nada. Só conseguia pensar em Sofia.
Tentei esquecer aquilo por algum tempo. Tomei um banho, escovei os dentes e vesti uma blusa de lã azul e uma calça branca, e fui até a sala, onde estavam Callie e Sofia.
Esperei que estivessem brincando ou conversando sobre algo divertido, mas não estavam. Sentada no colo de Callie, Sofia soluçava e chorava. A morena tentava acalma-la, mas eu via o quanto ela estava nervosa. Sentei ao lado das duas no sofá e Callie me olhou nos olhos. Estava usando todas as forças para esconder as lágrimas.
- que houve? Alguma dor?
Sofia me olhou bem nos olhos, com uma expressão triste que faria qualquer um chorar.
- Quero ver minha mamãe.
Senti meu coração se partindo em milhares de pedacinhos. Não era justo que ela sofresse a perda da mãe e ainda estivesse doente. Eu queria tanto poder arrancar toda a sua dor e jogar bem longe, ficando só com seu sorriso por perto.
Olhei para Callie. Eu conseguia ver sua dor atravez dos olhos castanhos marejados.Também havia perdido a mãe, e entendia aquela dor muito melhor do que eu.
- Eu prometi pra ela que ia colocar flores, em qualquer lugar que ela fosse descansar. É uma promessa. Pessoas boas cumprem promessas.
- Sofi... - Callie falou baixo. - Se você não estiver fraca, ou com alguma dor, nós podemos ir.
Ao ouvir isso, Sofia sorriu fraco, entre as lágrimas, e ficou de pé no chão.
- Estou bem - Afirmou, a voz ainda chorosa - Só preciso levar as flores mais bonitas. Por que as pessoas usam preto quando vão ver suas mamães descansando?Minha mamãe gostava de azul e nós todas temos que usar azul. Eu tenho certeza de que a minha gaveta enorme tem algo azul - Ela continuou falando, mas já estava no quarto,então não conseguiriamos escutar.
Olhei para a mulher ao meu lado, que me olhava com a cabeça encostada no sofá. Me aproximei dela e deixei que deitasse a cabeça em meu peito, abraçando minha cintura.
- Será que ela sempre vai sentir falta da mãe? - Perguntou. Quase ri do tom manhoso da sua voz.
- Você sente falta da sua?
Callie me olhou com uma expressão pensativa, depois voltou a deitar.
- É, ela vai. Mas vai ter apoio aqui.
- Você está cogitando adotar?
- Eu não disse nada.
- Call!
Ela se afastou com um sorriso sugestivo.
- Você viu aquele pedido, "não me deixem ficar sem nenhuma mãe"? Eu amo desafios, e odeio ter que ser responsável. Mas então eu percebi que ser responsável é meu maior desafio. E ele está sendo tão incrível... Então, sim. Eu estou cogitando... se você estiver, é claro.
Sorri e a abracei com força. E quando fechei os olhos, pude imaginar o que nunca consegui imaginar ter: uma família.
Xxx
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The Restart
Romance"Como uma pessoa pode causar o mesmo efeito em outra depois de anos? Depois de decepções, de lágrimas, de gritos e términos, depois de seguir em frente e quase acreditar na ilusão de ter superado Calliope Torres ainda me deixava nervosa como uma men...