― Indo a algum lugar? ― Disse o homem.
― Essa maldita me atacou. ― O rapaz saiu de dentro do orquidário esfregando o queixo.
― Você mereceu, imbecil. ― Helena grunhiu.
― Já gosto dela. ― Disse a ruiva com satisfação.
― Vocês dois, chega! Helena, precisamos que venha conosco. ― Disse o homem tentando o máximo ser cauteloso.
― Como você sabe o meu nome? ― Helena deu dois passos para trás e trombou com o rapaz, que segurou os seus ombros.
― Todos sabem o seu nome. ― Sussurrou.
Helena se desvencilhou e mostrou a espada fina e afiada que carregava consigo. A ruiva revirou os olhos e ela ouviu o rapaz sorrir atrás de si. O homem a sua frente não demonstrou reação algum diante da ameaça.
― Responda. ― Ela tentou soar o máximo ameaçadora.
― Tudo bem. ― O homem estendeu as mãos em sinal de rendição. ― Eu conheci os seus pais. Francis e Tereza Crawley, não?
Helena congelou por um momento. Não ouvia aqueles nomes fazia muito tempo. Dez anos mais precisamente. Nem mesmo pensava naqueles nomes.
― Mais um motivo para eu não confiar em você. ― Disse, seriamente. ― Você os conhece mesmo? Sabe o que eles fizeram comigo? ― Ela disse em tom amargo. ― O que aconteceu, eles se arrependeram e contrataram detetives particulares para me encontrar? ― Ela gritou de um jeito esbaforido. O homem robusto permaneceu sério na sua frente. ― Pois bem, diga a eles que eu não dou a mínima, entendeu? Sem ressentimentos! ― Esbravejou com o coração na boca. ― Só quero seguir o meu caminho, beleza?
― Eles morreram, Helena. ― Disse o homem calmamente. ― Foi há dez anos. Não sabíamos que eles haviam tido uma filha, por isso demoramos tanto para encontrá-la. Só descobrimos a sua existência há dois anos atrás.
Helena engoliu em seco e cambaleou. Depois que os dias seguintes ao abandono se transformaram em semanas e as semanas em meses, Helena, mesmo com sete anos, considerou a possibilidade de os pais terem morrido.
Talvez tivessem sido atingidos por um ônibus a caminho de busca-la. Talvez tivessem sido assaltados e mortos por bandidos. Mas no fundo, nunca acreditou que Francis e Tereza estivessem mortos. Era mais fácil sentir raiva deles do que se entristecer.
Mesmo naquele momento em que, supostamente, deveria se entristecer, tudo o que sentiu dentro de si foi uma raiva crescente. Ela não sabia exatamente do que sentia raiva, mas sentia de uma maneira mortal e lancinante. E a sua raiva era perigosa. Madalena que o diga.
Depois que abrandou a raiva em seu peito, Helena soltou o ar. O instante de choque não durou mais do que alguns segundos. O seu coração palpitou em seu peito de um jeito descompensado, como se tivesse sido apertado ao máximo por mãos de gigantes.
O fluxo do seu sangue era tão intenso e o ar não era suficiente para os seus pulmões. Ela não teve certeza se uma nuvem de chuva havia encobrido o céu ou se a sua visão que escurecia lentamente. Durante a queda, enquanto sucumbia, só pode sentir mãos frias, como escamas, segurando o seu corpo. Definitivamente, a segunda opção.
Não podia ser o homem robusto, porque ele olhava em seus olhos de um jeito preocupado. A confirmação veio quando um rapaz de cabelos negros e olhos escuros apareceu em seu campo de visão.
― Peguei você. ― Ele disse. Helena não tinha certeza se ele estava sussurrando ou se ela que estava desfalecendo, mas o som soo tão baixo que ela suspeitava que havia sido real.
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As Raças Irmãs
FantasyNo país insular de Árcade, sob a égide dos Protetores, criaturas fantásticas convivem numa falsa paz. Após dezoito anos de uma guerra que culminou no exílio de todos os Invocadores, não há quem ouse desafiar a soberania dos Protetores e suas regras...