49

62 10 4
                                    

Charlotte saltou para o telhado colonial assim que o segundo corpo foi ao chão. O centauro girou a cabeça em sua direção, mas não a via de verdade, não com aqueles olhos cinzentos esbugalhados. Thomas saltou logo em seguida com a espada em punho.

― Você não tem saída. ― Ele gritou. ― Está cercado.

O centauro fez uma reverência e riu. Ele girou a espada no próprio punho. A lamina refletiu o sol e por um instante cegou a ambos, foi quando o centauro atacou. A protetora interpelou o golpe antes de Thomas ser atingido, mas foi empurrada telhado abaixo pelo trote da criatura. Thomas atacou em seguida, ele girou as duplas espadas que levava consigo, mas mal conseguiu atingir o centauro.

Charlotte se levantou da beirada do telhado a tempo de ver a multidão que se afastava do terceiro corpo. O sangue se espalhava sobre o manto vermelho dos Profetas do Caos. Ela se levantou e correu em direção ao centauro. Amaldiçoou a si mesma por ter sido tão cega. A protetora tomou impulsou numa saliência do telhado colonial e pulou em direção ao centauro com o leque de metal em punhos.

Rasgou a crina e o dorso da criatura, que uivou como um animal. As fumaças brancas misturadas as sombras surgiram no telhado. Charlotte saltou do dorso do animal. Os guardiões lançaram sob o centauro dezenas de cordas elásticas e as prenderam com pregos de ferro. O centauro repuxou a corda diversas vezes, mas os guardiões se mantiveram firmes.

― Ele vai cair. ― Thomas disse para si mesmo. ― Ele vai cair! ― Ele gritou em seguida.

O guardião o ignorou e continuou prendendo o centauro que, como um animal desesperado, repuxava ainda mais dando coices no ar, até que as telhas alaranjadas se desprenderam sob os seus cacos e ele caiu.

Thomas correu para pegar a corda, que escapou da palma das suas mãos. O centauro caiu sob as cordas no vazio e sufocou no próprio desespero.

― Você não vai fazer nada? ― Charlotte gritou. ― Ele está morrendo!

O guardião se aproximou dela, com ar de superioridade, então deu um meio-sorriso.

― Vocês dois para fora do telhado, AGORA! ― Ele ordenou. ― Aprendizes. ― Zombou para os colegas, que riram.

― Ele não pode morrer sem ser julgado. ― A protetora gritou.

O guardião a olhou de modo ameaçador e interrogativo. Thomas puxou Charlotte pelos ombros antes que a garota arrumasse uma prisão disciplinar para ambos. Quando os dois saltaram para a varanda do prédio, a corda se partiu e os guardiões xingaram. O corpo do centauro caiu, rodopiando em torno de si mesmo como se fosse um pião. 

***

O Clube dos Perdidos fora completamente revirado. Helena reparou na bagunça por uma fração de segundo, então correu para o corredor. Will chegou logo atrás com a expressão séria.

― O Manifesto sumiu. ― Ele disse.

― Só assim ele vai poder entrar. ― Helena continuou correndo.

― Entrar aonde? Helena!

― Não tenho tempo para explicar. Vince está em perigo.

As pedras de Vince formavam uma pilha intacta no píer. Helena engoliu em seco. A protetora ignorou Will e se abaixou, tocando a água gelada que se estendia como um véu ilibado. Ela torceu para que funcionasse, pois não fazia ideia de como chamar o barco. Bolhas se formaram na extensão do lago e o barco imergiu das profundezas. Will xingou, surpreso. Os dois entraram e sem emitir nenhum som o barco começou a navegar sozinho, em direção a um caminho conhecido. 

― O que está acontecendo, Helena? ― Will quebrou o silêncio.

― No início do ano eu despertei uma coisa na floresta. ― Ela admitiu, baixinho. ― Ela me mostra coisas, lugares, objetos.

― O orbe de luz. ― Ele disse para si mesmo e Helena arregalou os olhos. ― Eu vi no meu sonho, mas não é possível, é? Você.... Não foi um sonho, foi?

Helena negou com a cabeça e Will a encarou. Ela buscou desvendar aquele olhar, mas ele feito uma rocha intransponível. Anjo de Gelo. Ela quis gritar, mas algo dentro dela se endureceu.

― Você pode fugir se quiser. ― Ela disse, amargamente.

Will não respondeu. Os minutos pareciam horas. O silêncio tornou-se insuportável e ela quase podia tocar na ponte invisível que se formava entre eles. Uma palavra, bastava uma palavra. Ela engoliu em seco e abriu a boca sem saber direito o que dizer, mas ficou em silêncio.

O barco atracou na rocha plana e lodosa e Will saltou tão rapidamente, que ela não teve escolha, senão continuar. O corredor da caverna estava silencioso. Helena emanou uma esfera de fogo para iluminar a frente, pois sem o orbe de luz era impossível ver o caminho. Os dois caminharam lado a lado sem dizer uma palavra e quando viraram a esquina, Will ergueu os olhos para a paredes brilhante repleta de nomes.

― Nomes de invocadores. ― Ele disse.

O átrio da caverna estava vazio. A protetora se virou para o espelho no extremo oposto. Ignorando o seu reflexo, buscou ver além daquela parede, qualquer sinal de Leon ou Vince, mas as costas de Will era o tudo o que via.

Helena deu um passo à frente e o protetor se virou em silêncio. Ela ergueu a mão e os espinhos se formaram, centenas deles, escrutinando o seu rosto em busca de um invasor.

― O que acontece agora? ― Will perguntou, quando os espinhos se tornaram imóveis.

― Isso não deveria acontecer. ― Ela andou de um lado para o outro. ― Eles deveriam nos deixar entrar!

Você sabe o que fazer.

― O que você disse? 

― Eu não disse nada. Helena, o que está acontecendo? ― Will puxou o seu queixo para que ela o encarasse.

― Ela está aqui.

As centenas de espinhos refletiram a luz azul do orbe de luz. Will deu dois passos para trás quando o orbe pousou nas mãos de Helena e a envolveu com a sua luz. Os seus cabelos levitaram como ondas revoltas. Will foi atingido pela lembranças daquela noite. O sangue sob as roupas e a sensação de que aquele corpo já não o pertencia. Os olhos de Helena desesperados e aquela voz etérea.

O orbe se esvaiu e Helena estendeu as mãos em sua direção. Um convite inesperado para algo mais inesperado ainda. Sempre era inesperado quando se tratava dela. Ele aceitou.

O rapaz não fez perguntas quando Helena tomou as suas mãos e se afastou do espelho. Nem mesmo quando ela engoliu em seco e trincou o maxilar, olhando fixamente para os espinhos.

― Ela disse para pularmos. ― A protetora falou.

Will examinou os espinhos. Era loucura. A sua mente gritava para se afastaram, dizendo que nem mesmo gostava de Vince para se arriscar tanto. Helena era um belo convite para o inferno. Ele a encarou e ela tentou sorrir, mesmo que o sorriso não chegasse até o seu olhos. Ainda assim continuava linda. Dane-se! Que ardesse até os ossos.

Will assentiu. Os protetores correram em direção ao espelho de espinhos e de mãos dadas pularam em direção à morte. 


*** 

Explicação e um pedido de desculpas sincero.  

Depois de quase 1 ano finalmente eu atualizei a história. Primeiramente, peço desculpas para quem esperou todo esse tempo (oi? tem alguém ainda aí?). A parte 3 (e conclusão da aventura Helena e seus amigos) realmente estava escrita, mas eu perdi os capítulos quando tive que formar o computador e fiquei realmente muito desmotivada para escrever tudo do zero. Fora que muitas coisas aconteceram na minha vida nesse período e era praticamente impossível continuar revisando e mexendo na história e escrevendo. Mas esta aí! Trouxe para vocês três capítulos e, agora assim, espero poder concluir essa aventura. Mil desculpas, de verdade! 

As Raças IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora