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Helena esperou a dor dos espinhos, mas foi como pular em água. Através do espelho a escassa claridade se foi. Helena só conseguia ouvir a respiração pesada de Will e ele a dela. Os dois tatearam as mãos um do outro no escuro e se firmaram.

Então, houve luz. Fogos-fátuos azuis se acenderam junto à parede e iluminaram o interior do lugar como se soubessem da presença dos visitantes, revelando uma escultura de pedra no centro da sala circular de piso verde-escuro.

A figura macilenta e magra de Leon saiu de trás da escultura carregando Vince ensanguentado pelo pescoço. Helena engoliu em seco antes a figura do rapaz. O sangue seco sob o seu rosto, o cabelo loiro bagunçado, o desespero...

― Eu sabia que você não me desapontaria. ― Ele falou.

Will empunhou a espada e Helena produziu uma bola de fogo.

― Trouxe companhia. A sua presença vai ser mesmo necessária, garoto.

― Eu estou aqui, agora largue Vince. ― Helena disse com autoridade.

― Helena, não! ― Vince gritou.

Ela deu um passo à frente, mas os dedos de Will a prenderam feito algemas.

― O seu amiguinho tem me dado mesmo muito trabalho. ― Leon apertou a garganta do rapaz numa chave de braço. Ele apontava uma adaga para o pescoço do rapaz. ― Não sei porque se importa com esse verme e a família dele.

― É a mim que você quer. ― Ela tornou a dizer.

― A vida desse vermezinho pouco me importa. ― Leon cuspiu no chão. ― Você o terá, mas antes quero que faça algo para mim. ― Leon apontou para a escultura.

Foi como se Helena a tivesse notado apenas naquele instante. Um belo homem estendendo um cetro de pedra era representado ao centro. Em ambos os lados, como dois escudeiros, um homem segurava um livro e uma mulher sorria. A mulher era esbelta com cabelos presos por um arco e sorria de modo confiante.

Helena a reconheceu de imediato. Era a mulher espectral. O orbe de luz azul. Um sorriso brotou nos lábios de Leon ante a confusão momentânea de Helena. Não podia ser... Aquela estatua.

― Angelina Jenkins era tão bonita quanto letal. ― Leon parafraseou. ― Eu mal acreditei quando ela apareceu em minha cela.

― Não, isso não é verdade. ― Helena esbravejou. ― Você não passa de um assassino mentiroso.

― Do que ele está falando, Helena? ― Will sussurrou atrás dela.

― Vamos, conte a ele! ― Leon gritou numa voz que mostrava divertimento e impaciência. ― Conte a ele o que você libertou na floresta.

― Não, eu não sabia, Will. ― Helena suplicou.

― O que você fez? ― Will se desvencilhou. A sua voz pesada e acusatória.

A ponte indivisível entre eles tornou a aumentar. Helena queria alcança-lo, mas era intransponível. A afastava não só de Will, mas de tudo o que aprendeu e conquistou nos últimos meses, das pessoas que conheceu.... Ela estava se perdendo.

― Ela invocou.

A ponte invisível se quebrou como uma bala atingindo uma parede de vidro. Era permanente. Helena ergueu o rosto na direção de Will, envergonhada. Ela queria dizer que era mentira, que Leon não passava de um manipulador assassino, mas no fundo, sabia. Soube no instante que a sua gotícula de sangue tocou a água cristalina daquela pira de pedra. O rosto do protetor era uma mistura de decepção e desespero. Ele esperou a negação de Helena, que não veio.

As Raças IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora