Helena andou pelo mesmo corredor duas vezes até se dar conta de que havia se perdido. A Academia era um labirinto e todos os corredores bem decorados pareciam os mesmos.
Helena desistiu de ir a um lugar e entrou em todas portas que encontrava. Salões de banquetes vazios, salas de treinamentos silenciosas, salão de música e de ballet, tudo era novidade para ela. Ao menos as salas de aula não eram tão diferentes das que conhecia.
Abriu duas portas de madeira e arquejou quando viu a biblioteca. Grandes estantes repletas de livros se erguiam num labirinto e escadas de ferro decoradas com arabescos levavam aos andares superiores. Opulentas mesas de mogno se estendiam no primeiro andar e luminárias flutuantes crepitavam de maneira preguiçosa.
Helena ouviu murmúrios por entres os corredores e seguiu o som até onde a luz não chegava. No alto de uma escada uma mulher se equilibrava na ponta dos pés, enquanto guardava grossos livros. A escada bombeou e ela murmurou para si mesma.
― Precisa de ajuda?
Num sobressalto ela derrubou os livros e por pouco não caiu da escada, mas Helena fora rápida o bastante para impedir que ela bambeasse. A mulher desceu com um sorriso desconcertado.
Era pálida e usava óculos de armações antigas, que deixavam os seus olhos azuis e assustados maiores. Os traços delicados lhe davam um rosto suave e preocupado, como se visse em cada esquina um cãozinho abandonado. O cãozinho nessa ocasião, era Helena.
― Você deve ser Helena. ― Ela apertou a mão de Helena. ― Twyla Lightstar, chefe dos arquivos. Eu sinto muito pelos seus pais.
E lá estava. O olhar de pena. Twyla deu batidinhas condolentes em seu ombro. Já podia imaginar como ouviria essa expressão e como receberia aqueles olhares.
― Gostou dos livros? ― Ela procurou animá-la.
― Ainda não li, mas obrigada.
― São seus. ― Ela recolheu a escada e começou a caminhar. ― Tomei a liberdade de encomendar a bibliografia do sexto ano e dos anteriores, só o básico.
Helena suspirou.
― Não se preocupe, você vai pegar o ritmo bem rápido. ― Tranquilizou Twyla, como se lesse os seus pensamentos. ― Imagino como deve ser difícil ter sido criada afastada.
O cãozinho não só fora abandonado, como tinha a patinha quebrada.
― A proposito teremos duas horas de aula por dia, o que Althariel chamou de conhecimentos gerais. ― Ela continuou ante o silêncio de Helena.
― Você é uma protetora? ― Helena perguntou a primeira coisa que veio a sua mente. ― Digo, não parece...
― Todos os nascidos protetores frequentam a Academia de Brascard, mas aqueles que não são considerados aptos para os testes realizados no quarto ano são mandados para casa.
― Parece bem cruel. Eu sinto muito se a ofendi.
― Não se preocupe. Lutar e viajar durante semanas em missões perigosas nunca foi muito o meu estilo. Gosto mais de livros. Mas acho que você já percebeu isso...
― O que acontece se você é considerado inapto?
― Bom, você pode se matricular numa Escola de Ofício de Brascard. Eu me formei na Escola de Ofício dos Arquivistas. Ou você pode assumir os negócios da sua família ou até mesmo se tornar aprendiz de alguma coisa.
― Então, eu... ― Helena começou.
― Ah, não! ― Twyla a interrompeu. ― Mas é claro que não. Quem tem um dom especial feito o seu sequer é testado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Raças Irmãs
FantasyNo país insular de Árcade, sob a égide dos Protetores, criaturas fantásticas convivem numa falsa paz. Após dezoito anos de uma guerra que culminou no exílio de todos os Invocadores, não há quem ouse desafiar a soberania dos Protetores e suas regras...