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O chalé simpático dos Dunne ficava em Lancastelo, uma cidade fundada pela poderosa família de Mordhor. Chegaram pouco depois do chá e Helena foi recebida com choro e sorrisos pelos avós.

Josephine era uma senhora baixinha de sessenta e poucos anos. Os cabelos castanhos tingidos estavam presos por um lenço quadriculado que não combinava com o seu vestido estampado. Tereza tinha os seus olhos. Olhar para ela era como ver a mãe com mais idade, mesmo sabendo que isso nunca iria acontecer.

Robert, por sua vez, era mais velho que Josephine, magrelo e esguio. O seu temperamento forte era a herança para Tereza e, consequentemente, para Helena.

― Entrem, entrem. ― Josephine pediu. ― Vocês devem estar congelando. Kitty cuide desse jovem antes que ele parta, por favor. ― Ela ordenou para a sua criada.

A moça cumprimentou Helena com um aceno e conduziu Rufus por uma outra porta até a cozinha.

― Como foram de viajem?

― Bem. ― Helena respondeu antes que Will ousasse dizer alguma coisa.

O corredor dos Dunne era repleto de itens decorativos de diferentes países. O casal de protetores viajava o mundo e colecionava descobertas.

― Como foi o Egito? ― Helena perguntou sem jeito.

― Quente e uma perda de tempo. ― Robert reclamou.

― Ora, querido. Não foi uma total perda de tempo. ― Josephine falou. ― Nós gostamos de procurar objetos mágicos perdidos. ― Josephine tagarelou subindo a escada. ― Tem sido o nosso hobby, desde... ― Ela suspirou. Helena não precisa ouvir o resto da frase.

― Havia rumores de um cetro num templo longínquo numa cidadezinha próxima ao Cairo. ― Robert explicou.
― Estamos em expedição há meses.

― Que tipo de objetos vocês procuram? ― Will perguntou.

― Relíquias mágicas que se perdem no tempo e acabam parando em cidades naturais. Você deve imaginar como isso é perigoso, não é?

Helena sorriu e assentiu. Foi dominada por um sentimento diferente, um misto de alegria e saudade. Talvez fosse o que as famílias de comercial de margarina sentiam quando estavam felizes. Aquilo era bom.

― Esse rapaz é o seu noivo, minha filha? ― Perguntou Josephine durante o jantar. O jantar, por sinal, era um verdadeiro banquete na sala aconchegante do casal, que cheirava à carne assada e torta de chocolate.

Will e Helena se entreolharam. Helena não conseguiu evitar e corou, enquanto Will tomou mais um gole de suco, já que Robert dissera que protetores não-graduados não podiam beber bebida alcoólica, o que Will classificou como um comportamento um tanto quanto retrogrado.

― Nós estamos muito felizes. ― Disse Will, diante do silêncio constrangido de Helena.

― Então, eu não ganhei só uma neta, como também um neto. ― Josephine comemorou. Ela era só felicidade.

― Ela é muito jovem para casar. ― Robert franziu o rosto.

― Bobagem, querido. Nos casamos os dezessete. ― Ela sorriu, servindo mais um pedaço de torta para Will.

― Aqueles eram outros tempos, Josie.

Will passou os braços pelos ombros de Helena e sorriu para ela, de modo provocativo.

― Somo apenas amigos, Josephine. Ou melhor, colegas. Will é apenas muito brincalhão. ― Disse Helena, se desvencilhando de Will.

Josephine murchou e fitou Robert como um bichinho maltratado, ele deu tapinhas carinhosos em seu ombro. Só então Helena percebeu que o havia feito.
 
― Não se preocupe, você chamará quando se sentir confortável. ― Josephine disse pegando nas mãos de Helena.

As Raças IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora