Dezoito anos mais velho do que na escultura, Edgar ainda era um homem belo. A sua pele era branca e os cabelos pretos penteados para trás traziam duas faixas grisalhas. Os seus olhos eram determinados e escuros, combinavam com a sua sobrancelha grossa e arqueada. Um sorriso torto despontou naquele rosto cumprido.
― Ora, ora, ora, mas é um prazer ter sido finalmente convidado para Brascard. ― Ele disse numa voz jocosa e alegre.
Atrás dele, a dupla era um tanto fora do comum, uma senhora de pouco mais de setenta anos e um rapaz de cabelos castanhos. Não se pareciam em nada com Angelina e Marius Jenkins.
― Leon, meu velho amigo, o que fizeram com você? ― Leon foi o primeiro a se levantar. Helena e Will o imitaram longo em seguida.
― Finalmente, posso morrer em paz. ― Ele cumprimentou Edgar.
― O tempo não lhe fez nada bem. ― Edgar falou.
― Isso é impossível. ― Will deixou escapar. ― Você está morto.
― O filho dos Cardragon. Você é a cópia exata do seu pai, espero que tenha puxado a inteligência da sua mãe. ― Edgar brincou.
Helena entendeu o que a Sra. Ryan quis dizer. Edgar tinha um jeito cínico de conquistar as pessoas. Parecia que tinha voltado de uma colônia de férias e não de dezoito anos em exílio. Quando o invocador pôs os olhos nela pela primeira vez, ele deu um meio-sorriso, orgulhoso e um calafrio a atingiu.
― E, finalmente, nos encontramos novamente. Creio que a senhorita tem algo que me pertença. ― Ele disse.
Helena segurou o cetro com firmeza, mas Edgar apenas ergueu as mãos e objeto flutuou em sua direção. Era com ele que estava a sua lealdade, afinal. Foi como ver em primeira mão a escultura realista da sala.
― Ah, quanto tempo eu espero para ter essa sensação novamente. ― Ele divagou, acariciando o seu cetro. ― Vamos fazer um teste.
O invocador olhou um a um na sala. Até Leon engoliu em seco, quando Edgar apontou o cetro em sua direção. Ele se concentrou em Vince, que estava agachado semiconsciente no canto da caverna.
― Mordhor? ― Edgar falou. ― Não, muito jovem. O seu filho, talvez.
A ficha de Helena caiu. Mordhor, o homem que queria expulsá-la, era pai de Vince. O mesmo sangue corria em suas veias, mas ainda assim, tão diferentes.
― Deixe-o. ― Helena se interpôs em direção ao cetro.
― Corajosa como a sua mãe. ― Edgar disse, com um brilho no olhar. ― Que seja, talvez esse aqui!
Edgar atingiu Phineas com um raio transparente e disse palavras numa língua que Helena não soube identificar. O protetor tentou correr, mas o raio o pegou de costas. Phineas se curvou e a sua pele derreteu feito plástico. Os gritos eram insuportáveis até mesmo para o homem responsável pela morte de seus pais. Daquela mistura grotesca de pele derretida, tufos de cabelos e sangue, Helena viu se esgueirar a serpente mais repulsiva já vista.
― Uma invocação simples para revelar a sua verdadeira natureza. ―Edgar falou.
A serpente se contraiu como se queimasse por dentro, enroscou-se como uma bola. Helena desviou o rosto da cena com o estomago embrulhado.
Num movimento solene de Edgar, os cacos do espelho de espinhos se uniram, como imãs, formando uma parede de vidro escuro. Um portal. Leon se juntou ao seu grupo e Edgar olhou para Helena e estendeu a mão, num convite.
Will pegou a espada caída e parou ao lado de Helena, instintivamente. Edgar riu do seu gesto, pois Helena sabia que se ele quisesse o quebraria feito um graveto.
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As Raças Irmãs
FantasyNo país insular de Árcade, sob a égide dos Protetores, criaturas fantásticas convivem numa falsa paz. Após dezoito anos de uma guerra que culminou no exílio de todos os Invocadores, não há quem ouse desafiar a soberania dos Protetores e suas regras...