Helena dormiu mais do que a cama e calçou as botas, enquanto corria até o salão de banquete para a comemoração matinal.
O uniforme tradicional era uma saia de prega quadriculada preta e cinza e uma camisa branca com uma gravata. Ela correu com o casaco na mão até que trombou com algo em seu caminho.
Vince ajudou a se levantar com um sorriso.
― Atrasada, Senhorita Crawley. ― Ele sorriu.
― Vince, você está bem? ― Helena ajudou a recolher os papeis que ele havia derrubado.
― Sim, é só que... eles me deixam louco. ― Disse se referindo aos aprendizes mais novos. ― Ser monitor não é fácil!
― Muito trabalho eu imagino.
― É gratificante, mas se já pensei em deixá-los pendurados de ponta à cabeça na janela mais alta? Devo admitir que sim.
Helena gargalhou. Vince era tão... fácil.
― Vamos, tenho um tempo extra e posso te acompanhar até o salão.
Helena concordou e recomeçaram a andar. A Academia estava silenciosa. Todos os aprendizes já deviam estar no salão de banquete.
― Você parece preocupada. ― Vince percebeu.
― Eu estou bem, eu acho. ― Helena deu um meio-sorriso. ― Eu tive um pesadelo e não quero que seja um mal pressagio.
Vince parou em frente à porta de madeira do salão e segurou as mãos de Helena.
― Na minha vez eu quase vomitei e estava tão verde que chamaram de abacate estragado por semanas. ― Helena sorriu. ― A sua vez vai ser bem melhor do que isso, garanto.
Helena assentiu e Vince abriu a porta.
― Ei, Vince! ― Helena sussurrou. ― Se precisar de uma cúmplice para pendurá-los, pode me chamar. ― Então, ela entrou.
Althariel estava no meio de um discurso, mas todos viraram as cabeças num movimento uniforme e um pouco perturbador em sua direção.
O salão de baquete era decorado com dezenas de mesas redondas cobertas com toalha de linho brancas e castiçais dourados. Um tapete de flores de diferentes cores abria caminho por entre o corredor até o púlpito de ouro maciço à frente que Althariel ocupava. Os professores ocupavam as mesas próximas. Ivan e Twyla também estavam lá.
― Não posso dividir a atenção com alguém cujo mistério e curiosidade desperta a todos. ― Althariel recomeçou. ― Meus caros, eu vos apresento Helena Crawley. A protetora perdida finalmente retorna para casa.
Helena recuou, mas Vince pôs a mão cautelosamente no seu ombro. Todos os olhares se concentravam nela. Ela viu curiosidade, determinação, medo e inveja. Não estava acostumada a ser vista daquela forma.
No meio da multidão um par de olhos escuros chamou a sua atenção. Will. O único que não a olhava. O único que não parecia visivelmente interessado. Ela acenou para todos e caminhou até a mesa que Althariel apontou.
Vince saiu do salão e quando retornou sentou-se à mesa ao lado com Charlotte e mais alguns desconhecidos. A mesa dos monitores.
― Como eu ia dizendo, é chegado o momento da Iniciação. ― Disse o diretor.
Rufus, o desprovido de cabelos ruivos do primeiro dia, tirou o véu sob o objeto desconhecido próximo ao púlpito. Helena mal havia reparado nele até que a estátua da mulher foi revelada. Ela segurava uma pira de pedra na altura do tórax e sorria de modo benevolente.
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As Raças Irmãs
FantasyNo país insular de Árcade, sob a égide dos Protetores, criaturas fantásticas convivem numa falsa paz. Após dezoito anos de uma guerra que culminou no exílio de todos os Invocadores, não há quem ouse desafiar a soberania dos Protetores e suas regras...