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Os dias seguintes se transformaram em rotina para Helena. Ela se esforçava em produzir uma esfera de fogo pela manhã, enquanto Will a encarava com total desprezo. Estudava com Twyla após o almoço e treinava com Charlotte combate corpo a corpo antes do jantar.

Charlotte era implacável. Rápida e letal. Helena terminava o treino dolorida e com a bunda no chão.

― Você faz parecer muito fácil. ― Reclamou, desistindo de fazer as posições sozinha.. 

― Porque é fácil. ― Charlotte tirou os olhos da adaga de prata que afiava.

― Depois de anos de treinamento é fácil, aposto que já nasceu com essa adaga na mão. ― Charlotte sorriu e Helena soube que era verdade.

― Herança da minha mãe. ― Ela voltou a afiar o objeto. ― A sua herança protetora está no seu sangue. Você só precisa se conectar com ela.

― Eu estou tentando. ― Ela repetiu os movimentos com o bastão de madeira.

― Quando conseguir as suas habilidades vão se aflorar. Você vai se sentir mais forte, vai conseguir se curar mais rápido e se mover tão ligeira e silenciosa como um gato. ― Charlotte falou com paixão. ― A sua vida como uma natural deve ter prejudicado um pouco o seu desenvolvimento.

Helena assentiu e voltou a se concentrar nos movimentos pela próxima hora. Quando sentou na cadeira acolchoada do salão de banquete estava exausta e coberta de hematomas.

As protetoras jantaram sozinha. Althariel costumava jantar no gabinete quando estava abarrotado de trabalho, o que era comum. Ivan e Twyla o fazia companhia.

Charlotte saiu apressada e desapareceu pelos corredores após o jantar, enquanto Helena tratou de se ocupar em espionar os desprovidos.

A voz calma da Sra. Ryan ecoou mais uma história pela cozinha. Cada parede, porta ou fechadura parecia fazer silêncio para ouvi-la naquela noite amena e agradável.

Ela subiu antes que os criados fossem para cama e atravessou os corredores em silêncio até que chegou ao quarto. Caminhou até a janela para fechar as cortinas, quando os seus olhos captaram uma sombra se esgueirando pela lateral do estabulo.

O vento forte da noite que chamava pela chuva fez o capuz do desconhecido escorregar alguns centímetros, só então ela reconheceu a cabelereira ruiva.

Helena não pensou duas vezes. Vestiu o sobretudo por cima da camisola e calçou as botas de couro. Prendeu a adaga do compartimento oculto da bota e amarrou o laço no pulso por precaução, então desceu a escadaria buscando fazer o menor barulho possível.

A tão concentrada e esforçada Charlotte tinha um segredo. Helena sabia que deveria ser extremamente difícil para ela manter um. Já que era uma veritax e veritax sabiam quando alguém mentia, mas também não podiam mentir. Era parte da sua maldição. 

Helena se esgueirou pelo pátio, aproveitando as sobras que a colunas de pedras faziam e usando as esculturas romanescas como camuflagem. Contornou o palacete de cristal até chegar aos estabulo.

Assim que entrou os qilins relincharam em suas baias para a estranha que se aproximava.

― Sou eu. ― Helena sussurrou. ― Helena.

Os animais fizeram silêncio, desinteressados. Helena contou as baias. Uma delas estava vazia. Assim como uma das celas tinha desaparecido também.

A garota saiu pela porta lateral do estabulo, que dava para a floresta agora coberta pelo negrume da noite e avistou um ponto de luz ao horizonte. Uma mistura poderosa de dourado e vermelho. 

As Raças IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora