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Helena foi direto para a enfermaria cuidar dos cortes provocados pela corrida desenfreada pelas árvores e lá mesmo foi interpelada por Althariel e Ivan. Ela contou sobre o bilhete e sobre o encontro com Leon.

― Ele a atacou? ― Althariel perguntou.

― Não... ― Helena pensou. ― Eu o ataquei primeiro, então corri até a clareira.

― Na clareira, o que aconteceu?

― Ele começou a falar dos meus pais, zombar de mim. Eu o atacava e ele apenas desviava. Então, ele apareceu...

― Ele quem? ― Ivan perguntou.

― Quem apareceu, Helena? ― Althariel insistiu.

― Olha, eu sei que vai parecer impossível, mas eu fui salva por um dragão.

Althariel e Ivan se entreolharam.

― Isso é impossível. Dragões foram extintos há centenas de anos.

O homem que entrara na Academia vestia um terno caro e usava uma bengala ornamentada. Os seus cabelos eram prateados e ele possuía intensos olhos verdes. Ainda assim não era nem um pouco bonito. O seu nariz era grande demais para o rosto e as sobrancelhas arqueadas que lhe davam uma aparência severa.

― Mordhor. ― Althariel cumprimentou e Ivan se limitou a um aceno de cabeça. ― Veio rápido.

― Teria chegado antes do interrogatório se houvesse tanta demora em comunicar o Ministério do Protetorado que nosso fugitivo estava na Academia.

― Leon não estava na Academia. ― Ivan o corrigiu.

Mordhor o ignorou e voltou-se para Helena com olhos de rapina.

― Imagino que a senhorita seja a famosa Helena Crawley. ― Ele não esperou pela confirmação. ― Não me surpreendi ao saber que fora a senhorita que viu o nosso fugitivo. Se me lembro bem, estava confabulando a respeito de dragões?

Helena assentiu.

― Bobagem! ― Foi o que ele disse. ― Centenas de guardiões estão escrutinando a floresta atrás de Leon, quando talvez deveríamos estar procurando nos céus. ― Ele zombou.

― É verdade. ― Helena se alterou. ― A sua pele é feito gelo e ele tinha garras como pequenas adagas de cristais. O seu rabo parecia a ponta de uma lança alongada e...

― E a sua boca era como centenas de espadas. ― Mordhor completou. ― Eu conheço as histórias.

Helena ficou em silêncio.

― Então sabe que não são apenas histórias!

― Mordhor por favor deixe Helena descansar. ― Althariel interviu. ― Vamos ao meu gabinete.

***

O som de risadas a atraiu de volta ao presente. A presença de Leon nos arredores da Academia noticia pelo Pergaminho de Brascard não foi suficiente para acabar com o burburinho no café da manhã sobre o baile da noite passada. Thomas e Charlotte lhe encaravam de um jeito preocupado.

― Você não comeu nada. ― Thomas reparou.

― Não estou com fome. ― Ela disse. ― Will já voltou?

― Ainda não. ― Thomas murmurou. ― Você vai pra casa dos seus avós nas férias? ― Ele mudou de assunto.

― Althariel acha que é mais seguro que eu fique na Academia, enquanto Leon está à solta. Aparentemente os meus avós concordam, quem se importa com o que eu acho? ― Ela riu de um jeito amargo.

― Eu vou ficar também. ― Charlotte anunciou. ― Não quero ficar um mês tendo que encarar a minha madrasta.

― Vocês podiam me visitar. ― Thomas sugeriu. ― As minhas irmãs iam adorar.

― Seria maravilhoso, mas eu não quero atrair nada de ruim para sua casa e para as suas irmãzinhas. ― Helena disse num tom sério.

― Nós podemos te proteger e pode ir e voltar no mesmo dia. ― Ele insistiu.

― Eu realmente adoraria, mas é melhor não.


Thomas deu um abraço de urso em Helena no hall da Academia. Charlotte também estava arrumada para partir já que não foi poupada de um jantar em família. Helena acenou para os dois, enquanto os viu descer o caminho até a estação, então, se viu sozinha na Academia.

Apesar do lugar permanecer em silêncio, ela precisou de um refúgio longe dos olhos que a vigiavam. Era como estar numa prisão sem grandes.

Ela sentou com o livro em branco no sofá. O orbe de luz queria que ela ficasse com aquilo, mas ela ainda não sabia o porquê. Nenhuma caneta tinteiro funcionava quando tentava escrever. Ela tentou mais uma vez, mas não funcionou. Num movimento inconsciente furou a ponta afiada da caneta no seu dedo indicar e uma pequena gota de sangue caiu.

― Droga!

O sangue manchou o papel por um segundo, então desapareceu por completo. A página voltou a ser branca e imaculada, mas apenas por alguns momentos. Porque o que apareceu em seguida fez ela fechar o livro num baque.

A frase numa grafia caprichada havia surgido bem a sua vista e quando tornou a abrir o caderno ainda estava lá.

Olá Helena.

Ela releu mais uma vez, então usou a caneta tinteiro ainda suja com o seu sangue e escreveu:

― Olá.

As frases desapareceram e outras surgiram no lugar.

Esperei por muito tempo para que nos falássemos.

― Como você sabe o meu nome?

Eu sei de tudo, foi a resposta.

― Como? Você me conhece?

Eu sou um Oráculo e fui dado a você.

― Pelo orbe de luz azul?

Não, escreveu, então continuou, pelos seus pais.

O coração de Helena bateu rápido, então ela recomeçou.

― Porque?

Porque eles sabiam que você ia querer a verdade e que ninguém estaria disposta a lhe contar.

― Que verdade?

Todas as coisas têm seu tempo. Primeiro, tem algo que você precisa fazer.

― O que?

O oraculo não escreveu nada durante meio minuto e Helena segurou o caderno de um jeito tenso e desesperado. Que a sua vida era repleta de segredos, isso ela já sabia, mas que segredos ainda restavam sobre Francis e Tereza Crawley era o que restava para descobrir.

Siga a luz.

O caderno se fechou sozinho e Helena o escondeu no esconderijo sob o assoalho e voltou assustada para o quarto. Cruzou com Mora no corredor, mas a desprovida acuada não disse nada, ainda se sentia culpada pelo falso bilhete. Leon fora astuto e contratou um mensageiro de Brascard para entrega-lo e enganou a todos.

As Raças IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora