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Numa sala abafada e pequena no subsolo do Ministério do Protetorado fora para onde levaram aquele líder religioso. Os gritos ecoavam pelos corredores de mármore escuro, mas ali ninguém poderia ouvi-lo.

O cavalheiro aguardou do lado de fora numa falsa calma. Já estava enojado daquelas preces sem fim e dos pedidos de misericórdia. Mérope não o salvaria. Mérope não dava a mínima. Aquelas pessoas o deixavam farto, mas não negava o papel crucial que elas teriam em breve. Isso é claro se elas conseguissem fazer a droga do trabalho.

O som de passos apressados ecoou pela escada lateral e oculta. O cavalheiro pôs a mão na espada mais por instinto do que por medo. Não relaxou por completo até ver o homem de capuz escuro e sorriso de cobra.

― Ele está pronto?

O cavalheiro concordou com um aceno de cabeça. Os dois homens se olharam por um segundo. Não havia qualquer traço de amizade entre eles, mas um desprezo mútuo, que deixaram de lado em prol do bem comum.

Entraram na saleta e o cheiro enjoativo de sangue e urina preencheu as suas narinas. O homem magro estava acorrentado de cabeça para baixo, com lacerações no rosto e hematomas sob o corpo seminu, vestígios da sua própria urina caiam sob o seu rosto.

― O Príncipe não está nada satisfeito com o seu trabalho, Memphis. ― Disse o homem encapuzado. ― Mas suponho que podemos encontrar uma outra utilidade para você.

― Não, não, por Mérope, por favor. ― Ele resfolegou.

― Mérope não o salvara. ― Falou o cavalheiro.

O cavalheiro empunhou a adaga fina. Era preciso um corte fino e preciso para que o sangue escorresse pela sua veia no pescoço. Não podiam desperdiçar uma gota. A impureza do homem deveria ser extinguida num processo lento de decantação. Deveria estar puro em seus propósitos.

O cavalheiro se aproximou sem cerimônia. Já estava puto o bastante por perder a sua manhã com aquela baboseira fanática.

― Por favor... ― O homem chorou em seu fim iminente.
Patético.

― Não, por favor, espera. ― Ele continuou. ― Espera... ― O cavalheiro encostou levemente a ponta da adaga em seu pescoço. ― Eu a vi.

O homem de capuz fez um sinal. Memphis percebeu a sua salvação e um lampejo brilhou em seus olhos cinzas mortos.

― Eu a vi. ― Ele repetiu. ― Ela tem os olhos dele. Olhos dissimulados e bestiais.  

***
De quem será que ele estava falando?

As Raças IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora