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Helena arregalou os olhos quando entrou no salão de banquetes e viu Will segurando um cálice adornado de vinho. Charlotte também não parecia nada satisfeita com a sua presença repentina. O rapaz sorriu de um jeito presunçoso e ergueu a taça na direção de Helena, que o ignorou.

Os três comeram em silêncio e Charlotte disparou do salão de banquete antes de Helena terminar. Ela observou a garota partir e começou a engolir a própria comida. Will a observava descaradamente.

― Com pressa para espiar os seus novos amigos?

Helena engasgou e tomou um gole de suco.

― O que faço ou deixo de fazer não é da sua conta. ― Ela vociferou. ― Porque não volta para sua masmorra das trevas e fica lá? Já não basta me atormentar durante os treinos?

― Eu estou preso a você até que controle a droga do seu poder, então se você não está concentrada o suficiente, eu tenho que saber o porquê.

― Eu também não queria estar presa a alguém tão repugnante como você, mas eu estou reclamando? Não! Então, porque não faz a droga do seu trabalho e para de bancar o garoto mimado?

Helena deixou a salão sem esperar por uma resposta de Will. Não foi em direção a porta secreta como sempre fazia para ouvir as histórias. Ao contrário, foi direto para o quarto, vestiu a túnica preta emprestada e pegou a adaga.

Esgueirou-se até os estábulos silenciosos e se escondeu em uma das baias.

Não soube por quanto tempo cochilou até os relinchos a despertarem do seu sono. Encolheu-se ainda mais por dentre os fenos até que o qilin começou a cheirar o topo da sua cabeça.

― Sai daí. ― Vociferou.

Ela ficou em silêncio absoluto quando as portas de madeira foram abertas. Os passos cautelosos ecoaram até uma das baias.

― Espero que esteja pronta, garota. ― Charlotte murmurou para o animal.

Helena ouviu a porta ranger novamente. Os cascos do animal se misturando ao som dos passos leves de Charlotte. Depois de alguns segundos, Helena se levantou.

Não sabia exatamente o que fazer se a encontrasse ali. Agora que havia confirmado, ela precisava ir até o fim. Atrapalhada, ela selou o qilin de pelo prateado que cheirou o topo de sua cabeça.

Ela não precisou lhe dizer o que fazer, pois o animal trotou em disparada pela floresta beijada pelas sombras da noite no encalço do ponto de luz dourado e vermelho no horizonte.

O qilin tomou cuidado em manter distância durante a perseguição. Na escuridão da floresta corujas piavam conforme eles passavam, mas ela tinha ciência de que outros animais noturnos também estavam à espreita.

As arvores retorcidas não passavam de um borrão e por duas vezes Helena inclinou o corpo para frente por causa de um galho baixo demais. Em dado momento Charlotte deu uma guinada e deixou a estrada de terra para traz.

O caminho entre a floresta era mais perigoso por causa dos galhos densos, mas Helena deixou que o qilin fizesse todo o seu trabalho.

O limite da floresta terminou em um penhasco alto e gramado. O qilin dourado de Charlotte deu um salto gracioso em direção ao véu azul-marinho da noite e Helena prendeu a respiração, conforme o seu qilin prateado caminhava em direção a queda livre.

Por um instante ela fechou os olhos e prendeu a respiração. Já havia perdido a conta de quantas primeiras vezes tivera em Brascard. Cavalgar era uma delas. Cavalgar sob uma fera que poderia ser brutal era uma delas.

A pouco menos de um metro do salto o qilin prateado parou, freando as patas dianteiras e sentando sobre as próprias patas. Helena sacolejou na cela e se agarrou no corpo de animal, por pouco não caindo penhasco abaixo.

As Raças IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora