23

215 35 23
                                    


Dormiu pouco mais de uma hora quando Mora abriu as cortinas e deixou os raios de sol esquentarem o seu corpo. Helena desabou na cama ainda vestida e a esfera de luz azul serpenteava pelos seus pensamentos até que adormeceu.

― Tem alguma coisa que possa me acordar? ― Ela saiu do banheiro, bocejando.

― Café. ― Mora sorriu.

― Alguns hábitos não mudam, não é? ― Helena pegou a xícara com o líquido escuro.

― A senhorita não dormiu bem? A cama não está confortável o suficiente? ― Mora afofou o travesseiro diversas vezes.

― Está ótima. ― Helena apressou-se em dizer. ― Só fiquei estudando até tarde. ― Mora fez sinal de que recolheria a bandeja e Helena concordou com um aceno. ― A propósito, você sabia que existe uns totens de pedra próximo daqui? Herança de uma batalha ou algo assim.

A tilintar de xícaras e pratinhos inundou o quarto quando a tão comedida e séria Mora derrubou a bandeja de prata. Helena se apressou em ajuda-la com a tarefa. As mãos finas e calejadas de Mora tremiam.

― Está tudo bem?

― Sim, senhorita. ― Ela arfou e se apressou em sair do quarto.

Indecisa, ela girou o corpo e fitou Helena, como se quisesse dizer alguma coisa, mas a máscara séria e compenetrada já havia retornado, então ela partiu. A reação apavorada de Mora só confirmou o que Helena receava. Havia algo de muito errado naquela clareira e ela foi atraída para o perigo que espreitava ali.

― Vai pôr fogo em alguma coisa hoje ou só vamos ficar nos encarando como sempre? ― Will se afastou da parede em que se apoiava preguiçosamente com um sorriso irônico.

― Aonde está Charlotte? ― Ela ignorou a provocação.

― Na enfermaria.

― O que aconteceu com ela? ― Ela perguntou em tom urgente.

Will ergueu as sobrancelhas. Helena se esforçou em manter a expressão neutra, mas aquele suspense a estava matando.

― Ela caiu da escada ontem à noite com a adaga na mão.

Era mentira. Uma veritax mentia, mas porquê? Ou por quem?

― Podemos vê-la?

― Produza a sua bola de fogo. ― Foi tudo o que Will disse.

Não haviam alvos na clareira naquele dia e nenhum sinal de Ivan. Helena bufou. Will a faria ficar ali até anoitecer se ela não produzisse nada naquele dia.

― Uma bola de fogo, Helena. ― Ele ordenou.

― Aonde está Ivan?

― Resolvendo alguns assuntos. ― Foi tudo o que ele respondeu. ― Uma bola de fogo, não tenho o dia todo.

Helena afastou os pensamentos em Charlotte e se concentrou. Mas como uma minhoca rastejante aquela esfera azul brilhante começou a inundar os seus pensamentos. E se eles soubessem que o seu poder havia se manifestado naquele lugar? E se eles soubessem o que ela havia feito ali?

― Will... ― Ela arriscou.

― Menos conversa e mais concentração. ― Ele vociferou.

Ela respirou fundo e se concentrou. Relaxou cada musculo do seu corpo e manteve a respiração num ritmo tranquilo e constante, buscando o calor dentro de si. A onda verde e circular que emanou do seu corpo, incinerando os móveis e queimando todo o primeiro andar do orfanato. O mesmo calor que reduziu Madalena a cinzas.

As Raças IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora