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― Não seja estupido Will, ela não tem poder para isso. ― Charlotte prendeu o cabelo num coque e voltou a examinar Helena com olhos de rapina.

Helena encolheu os ombros. Eles não podiam saber que ela não era nenhuma vítima naquela história e que a morte de Madalena não foi nada além do que sua culpa. Ela precisava lidar com a culpa sozinha e não com acusações.

― Então... me fala um pouco de Brascard. ― Pediu para mudarem de assunto. ― Que tipo de criaturas vivem aqui?

― Não muitas, Brascard é a capital de Árcade e cidade originalmente protetora. Apenas aquelas criaturas mágicas que conseguem o visto de permanência podem viver e morar aqui. ― Charlotte deu de ombros. ― Mas temos anões, elfos, hobbits, alguns trolls, como vocês bem viu.

― Suga-Almas. ― Will despenteou os cabelos escuros e deu um sorriso.

― Não existem suga-almas em Brascard, pelo amor do Elo.

― O que é isso?

― O nome é autoexplicativo, você sabe. ― Will perfurou Helena com os olhos escuros. ― Eles sugam almas de meninas virgens.

― Você é estupido. ― Charlotte revirou os olhos e voltou-se para Helena. ― Nós banimos os suga-almas há anos. Só existem poucos clãs dessa espécie ao redor do mundo.

― Vocês protetores tem autoridade para banir alguém?

― É o nosso dever, entende. Precisamos controlar as criaturas mágicas para evitar que elas matem umas às outras. ― Charlotte explicou. ― Vira e mexe interferimos em brigas de elfos e fadas. Ou de anões e centauros.

Helena absorveu tudo aquilo. A sua cabeça explodia de curiosidade. Há poucos dias a sua vida era sem perspectiva e amargurada para alguém tão jovem, mas agora mil e uma possiblidades se abriam e ela não fazia ideia de como agir.

Mas uma perguntava pairava em sua mente e ressurgia à medida que ela tentava deixar de lado: porque os pais deixaram esse mundo de magia para trás?

Naquele instante Vilna bateu à porta e entrou com um carrinho cheio de quitutes que Helena não conhecia. Alguns pareciam deliciosos, como o bolo vermelho com cobertura branca e cerejas; outros nem tanto, Helena franziu a testa para a sopa que era mais verde e dura que Vilna.

― Vocês deveriam deixa-la descansar. ― Vilna censurou.

― Só estávamos lhe apresentando algumas coisinhas, Vilna. ― Will disse com um sorriso.

― Muito bem. ― Vilna semicerrou os olhos. ― Aproveitem o lanche, por conta da casa. ― Ela se aproximou de Helena e sussurrou: ― Se quiser se livrar deles é só me avisar. Ivan é responsável por você, mas essa ainda é a minha pousada e nenhum hospede deve ser incomodado.

Helena assentiu com um sorriso e se aproximou da mesa. O seu estomago roncou e resolveu não fazer cerimonia.

― Preciso que vocês me ajudem. ― Pediu aos dois.

― Começa pelo bolo de morango silvestre. ― Disse Charlotte.

Helena pegou uma grossa fatia com bastante calda de chantilly e pegou um copo de um suco de laranja. Assim que experimentou franziu a testa, não era laranja, afinal.

― Suco de abobora. ― Disse.

― Você vai se acostumar. ― Will disse. ― Parece que está sempre com fome.

Helena não se importou com a provocação e continuou a comer, enquanto Will e Charlotte se ocupavam em responder as suas curiosidades. Não que estive sempre com fome, mas é que ter acesso a comida boa e farta era raro. Madalena economizava em praticamente tudo, até mesmo os legumes que cozinhava naquela sopa sem graça e grudenta, eram as sobras do que haviam na feira.

Maggie com muito esforço batia um bolo às escondidas para servir de sobremesa vez ou outra e servia no quarto, depois de Madalena apagar as luzes. Um bolo de chocolate para dezesseis garotas não durava muito, afinal.

Helena pôs os pensamentos melancólicos de lado e se pôs a ouvir os protetores. Descobriu que a Academia de Brascard era a única escola de protetores em Brascard e que todos, com exceção dela, estudavam lá desde os doze anos. Brascard era a capital protetora, mas não era a única cidade protetora que existia em Árcade.

― Navisko é a mais próxima. ― Will explicou. ― É a uma cidade portuária. Recebe a maioria dos olhos-mágicos, das criaturas mágicas de outras partes de Árcade e, é claro, os desprovidos.

― Desprovidos?

― Quem é filho de protetor e não tem magia. Ou aqueles que são meio-sangue. ― Will explicou. — Filhos de protetores com algum ser mágico e que por azar não manifestam poder algum.

― Depois de Navisko, tem a Pedra Cardragon, a Ponte Quebrada e o Lago Lovegreen. ― Charlotte finalizou.

― Espera. ― Helena pensou rápido. ― Têm cidades com os nomes de vocês?

Will deu de ombros e Charlotte corou. Estava certa quando pensou que William era rico, na verdade podre de rico. Se todos os alunos da Academia de Brascard fossem assim, seria difícil para ela se adaptar.

― Não é grande coisa. ― Charlotte se defendeu de antemão.

― Não mesmo. ― Helena ironizou. ― Bom, o papo está bom, mas eu vou dar uma volta.

― É contra as regras. ― Charlotte bradou. ― Ivan foi claro!

― Ele também foi claro sobre vocês me vigiaram.

Will se levantou de imediato e foi até a porta sem dizer nada. Charlotte arregalou os olhos e se viu vencida naquela discussão. Helena podia notar o conflito em suas feições. Não queria descumprir as regras, mas também não queria ficar de fora.

― Ela não consegue nem chegar na esquina sozinha. 

As Raças IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora