🏆 Vencedor Wattys 2020, Fantasia
🏆 2º lugar no "Concurso Wattpad Brasil"/2018 - Fantasia do grupo "Wattpad Brasil Facebook"
🏆 3º lugar no "Concurso Team Literário/2017 - Fantasia" do perfil @TeamLiterário17
🏆 3º lugar no "Concurso Team Literári...
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#pratodosverem | Descrição da imagem: ao fundo, vê-se um conjunto de nuvens e no horizonte várias montanhas e vales verdes. Diante dessas formações, ergue-se uma cidade à beira mar que tem uma porção de terra que avança água adentro até encontrar uma ponte que corta o oceano. Percebe-se que há três torres em lugares distintos da cidade.
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A POPULAÇÃO DE ARCÉH TINHA TANTO ORGULHO DA PRÓPRIA CIDADE AO PONTO DE SEREM CONHECIDOS COMO "OS ARCÉH". Chamá-los pela denominação correta (arcehanos ou arcenianos) era tido como um insulto digno de expulsão. Eles eram a essência daquela terra; os escolhidos. Ponto. Não havia discussão. Sentiam-se presenteados pelos deuses como se Arcéh não houvesse sido fundada. Não! A ilha era um diamante surgido do clamor dos Divinos; uma terra forjada no auge da criatividade do Universo; um presente dos deuses para os humanos. Acreditavam nisso ao ponto de a verdadeira história sobre a fundação da cidade ter se perdido no tempo. Mergulhados em suas crenças, os arcéh difundiram histórias mundo afora sobre o quanto eram especiais.
Ou sobre o quanto acreditavam ser...
Gostavam de mostrar as belezas da cidade, faziam questão de ceder suas casas para os visitantes e era uma ofensa não aceitar ao menos um dos presentes de boas-vindas, tão diversos quanto uma cesta de frutas ou um pingente feito com pedaços do vidro das estufas. Entretanto, nada superava o maior prazer dos arcéh: impor aos visitantes passeios de horas e horas por toda a extensão da Ponte de Arcéh (a única ligação entre a ilha e o continente), com direito à piqueniques se o tempo estivesse favorável e também se não estivesse.
A idolatria ao monumento chegava ao ponto de as crianças, antes mesmo de aprenderem a ler ou a escrever, receberem aulas sobre a história de sua construção e participarem das noites de vigília em um dos trinta postos de observação espalhados pela ponte. As pequenas enfrentavam o frio do oceano soprado pelos ventos, a solidão dos dias em meio ao nada e ajudavam nos reparos mesmo quando não havia nada a reparar. A presença dos pais era evitada para os pequeninos aprenderem a se "integrarem às tradições".
Muitos diriam ser algo estranho de se fazer.
Contudo, havia estranhezas ainda mais impactantes.
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#pratodosverem | Descrição da imagem: o desenho mostra a ponte de um ângulo mais próximo, lateralmente. Veem-se os postes com lampiões nas pontas, a estrutura de madeira, as montanhas ao fundo com as casas aos pés das rochas, tudo enquanto uma carroça puxada por um jumento atravessa a ponte carregada de bagagens.
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ARCÉH TINHA APENAS DUAS ESTAÇÕES, CADA UMA COM DURAÇÃO DE CINCO ANOS: O VERÃO E O INVERNO. Devido a isso, os arcéh adequaram suas vidas a ciclos de dez anos com momentos de frio, gelo, derretimento, renascimento e colheita. De geração em geração, por toda a história, os arcéh nunca se apegaram às coisas da natureza como florestas, lagos ou a própria neve. Para eles, a natureza estava dentro das estufas. Apegar-se às "coisas de fora" era tido como uma perda de tempo, afinal, seria uma tolice ir para os campos durante o verão, ter trabalho para cultivar algo e, anos depois, entregar tudo ao gelo e sua cortina de destruição. Essa influência do clima também se estendia, por exemplo, para o registro de nascimento em Arcéh. Além de dados como nome do bebê, nome dos pais, data e peso, os documentos traziam também a classificação da criança como Zerett (filho do sol) ou Aohc (filho do gelo). Viviam assim há muitos e muitos ciclos, sem questionarem, sem se exaltarem contra o inevitável, por vezes, capazes de sorrir para a tristeza e engolir as lágrimas em prol da continuidade das lendas.
De umaúnicalenda.
Um mito acima da ponte, acima das estações e dos filhos; acima das estufas e do orgulho.
De fato, muitas pessoas visitavam a cidade pela qualidade dos alimentos produzidos pelos arcéh ou para conhecerem a ponte. De fato, reconheciam a importância daquele pedaço de terra e o quanto Arcéh era essencial para a história do continente. No entanto, nenhuma dessas justificativas conseguia mascarar a verdade: por baixo de qualquer desculpa corria pelas veias de jovens e velhos, ricos e pobres, visitantes e locais, um motivo místico para as visitas àquela ilha.
Todos queriam fugir da própria realidade.
Queriam provar o milagre.
No fundo, queriam se tornar imortais.
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