UMA ILHA DE MILAGRES (PARTE 1)

4K 249 415
                                    

#pratodosverem | Descrição da imagem: ao fundo, vê-se um conjunto de nuvens e no horizonte várias montanhas e vales verdes

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

#pratodosverem | Descrição da imagem: ao fundo, vê-se um conjunto de nuvens e no horizonte várias montanhas e vales verdes. Diante dessas formações, ergue-se uma cidade à beira mar que tem uma porção de terra que avança água adentro até encontrar uma ponte que corta o oceano. Percebe-se que há três torres em lugares distintos da cidade.

***

A POPULAÇÃO DE ARCÉH TINHA TANTO ORGULHO DA PRÓPRIA CIDADE AO PONTO DE SEREM CONHECIDOS COMO "OS ARCÉH". Chamá-los pela denominação correta (arcehanos ou arcenianos) era tido como um insulto digno de expulsão. Eles eram a essência daquela terra; os escolhidos. Ponto. Não havia discussão. Sentiam-se presenteados pelos deuses como se Arcéh não houvesse sido fundada. Não! A ilha era um diamante surgido do clamor dos Divinos; uma terra forjada no auge da criatividade do Universo; um presente dos deuses para os humanos. Acreditavam nisso ao ponto de a verdadeira história sobre a fundação da cidade ter se perdido no tempo. Mergulhados em suas crenças, os arcéh difundiram histórias mundo afora sobre o quanto eram especiais.

Ou sobre o quanto acreditavam ser...

Gostavam de mostrar as belezas da cidade, faziam questão de ceder suas casas para os visitantes e era uma ofensa não aceitar ao menos um dos presentes de boas-vindas, tão diversos quanto uma cesta de frutas ou um pingente feito com pedaços do vidro das estufas. Entretanto, nada superava o maior prazer dos arcéh: impor aos visitantes passeios de horas e horas por toda a extensão da Ponte de Arcéh (a única ligação entre a ilha e o continente), com direito à piqueniques se o tempo estivesse favorável e também se não estivesse.

A idolatria ao monumento chegava ao ponto de as crianças, antes mesmo de aprenderem a ler ou a escrever, receberem aulas sobre a história de sua construção e participarem das noites de vigília em um dos trinta postos de observação espalhados pela ponte. As pequenas enfrentavam o frio do oceano soprado pelos ventos, a solidão dos dias em meio ao nada e ajudavam nos reparos mesmo quando não havia nada a reparar. A presença dos pais era evitada para os pequeninos aprenderem a se "integrarem às tradições".

Muitos diriam ser algo estranho de se fazer.

Contudo, havia estranhezas ainda mais impactantes.

Contudo, havia estranhezas ainda mais impactantes

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

#pratodosverem | Descrição da imagem: o desenho mostra a ponte de um ângulo mais próximo, lateralmente

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

#pratodosverem | Descrição da imagem: o desenho mostra a ponte de um ângulo mais próximo, lateralmente. Veem-se os postes com lampiões nas pontas, a estrutura de madeira, as montanhas ao fundo com as casas aos pés das rochas, tudo enquanto uma carroça puxada por um jumento atravessa a ponte carregada de bagagens.

***  

ARCÉH TINHA APENAS DUAS ESTAÇÕES, CADA UMA COM DURAÇÃO DE CINCO ANOS: O VERÃO E O INVERNO. Devido a isso, os arcéh adequaram suas vidas a ciclos de dez anos com momentos de frio, gelo, derretimento, renascimento e colheita. De geração em geração, por toda a história, os arcéh nunca se apegaram às coisas da natureza como florestas, lagos ou a própria neve. Para eles, a natureza estava dentro das estufas. Apegar-se às "coisas de fora" era tido como uma perda de tempo, afinal, seria uma tolice ir para os campos durante o verão, ter trabalho para cultivar algo e, anos depois, entregar tudo ao gelo e sua cortina de destruição. Essa influência do clima também se estendia, por exemplo, para o registro de nascimento em Arcéh. Além de dados como nome do bebê, nome dos pais, data e peso, os documentos traziam também a classificação da criança como Zerett (filho do sol) ou Aohc (filho do gelo). Viviam assim há muitos e muitos ciclos, sem questionarem, sem se exaltarem contra o inevitável, por vezes, capazes de sorrir para a tristeza e engolir as lágrimas em prol da continuidade das lendas.

De uma única lenda.

Um mito acima da ponte, acima das estações e dos filhos; acima das estufas e do orgulho.

De fato, muitas pessoas visitavam a cidade pela qualidade dos alimentos produzidos pelos arcéh ou para conhecerem a ponte. De fato, reconheciam a importância daquele pedaço de terra e o quanto Arcéh era essencial para a história do continente. No entanto, nenhuma dessas justificativas conseguia mascarar a verdade: por baixo de qualquer desculpa corria pelas veias de jovens e velhos, ricos e pobres, visitantes e locais, um motivo místico para as visitas àquela ilha.

Todos queriam fugir da própria realidade.

Queriam provar o milagre.

No fundo, queriam se tornar imortais.

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


O Bailarino de ArcéhOnde histórias criam vida. Descubra agora