#pratodosverem | Descrição da imagem: em primeiro plano, vemos o mordomo Srusz equilibrando uma bandeja com uma taça. Atrás dele, sentada, Madame Voggi está com as mãos entrecruzadas sobre os joelhos, uma tiara no alto da cabeça, e observa a tudo de longe.
***
ENROLADA EM UMA TOALHA, A VERGONHA EXALADO POR CADA PORO DO ROSTO, A SRA. SOTEIN ESPERAVA EM UM POLTRONA. O quarto de Madame Voggi era quase do tamanho da sala. Ficava dois andares acima, com janelas cujo o comprimento ia do teto ao chão e uma vista privilegiada da baia de Glolk. No verão, a luz invadia o quarto em um abraço de ouro e despertava sua senhora com as cores da manhã e o canto dos pássaros. No inverno, o branco em torno da cidade podia ser visto até se perder no horizonte e a mulher poderia acompanhar o movimento de cada árvore em sua luta de resistência contra o gelo. Margareth se ajeitou na cadeira e, teve de admitir, sentiu-se confortável sentada sobre aquela plumagem alaranjada com manchas verdes.
"Não quero nem imaginar de que bicho veio isso..."
Se as histórias fossem verdadeiras, a própria Medebew teria caçado aquela fera, tirado e curtido o couro, costurado e feito de capa para as suas poltronas - e pelo visto seria um animal grande, pois a sra. Sotein contou cinco cadeiras, a colcha da cama e mais um par de cortinas feitos do mesmo material.
Imaginava a matriarca da família montada em algum monstro do tamanha daquela casa, com uma espada em uma das mãos e um escudo na outra, quando a velha Voggi e o mordomo Srusz entraram no quarto. Fechou a cara e foi até eles, mas logo a máscara de raiva caiu: o empregado trazia nos braços as peças de roupa da sra. Sotein, todas secas e sem nenhum vestígio de sujeira ou odor.
— Co-Como você fez isso tão rápido?
— Folhas. – Margareth assustou-se com o tom da resposta. A voz de Srusz não parecia sair da garganta e sim das entranhas de um abismo, como um eco. – Muito boas, senhora.
— Folhas de quê?
Srusz virou a cabeça para Madame Voggi como se pedisse autorização para contar o segredo. A senhora deu de ombros.
— Folhas de Manon, senhora.
Margareth franziu o cenho. Parecia um carma: mais uma vez via-se às voltas com Manon. Olhou pela janela, em direção à floresta. Manon ou Sol-Pequeno, na linguagem dos arcéh era uma espécie de planta de difícil manejo por precisar de uma área extensa para suas raízes e de temperaturas elevadas para se desenvolver. Muitos dos responsáveis pelas estufas cansaram de tentar cultivar mudas de Sol-Pequeno e apenas gastar recurso, tempo e paciência. Por isso o susto quando a Terceira Estufa foi vistoriada e encontraram a plantação de Manon no subsolo do lugar. Até então, os poucos exemplares da espécie só eram achados na floresta do continente, em locais de difícil acesso (e bem distante daquele tempo invernal).
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Bailarino de Arcéh
Fantasía🏆 Vencedor Wattys 2020, Fantasia 🏆 2º lugar no "Concurso Wattpad Brasil"/2018 - Fantasia do grupo "Wattpad Brasil Facebook" 🏆 3º lugar no "Concurso Team Literário/2017 - Fantasia" do perfil @TeamLiterário17 🏆 3º lugar no "Concurso Team Literári...