UMA PASSAGEM DE TEMPO

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#pratodosverem | Descrição da imagem: ao fundo, vê-se os rostos de Phil, Sâmia e do deus

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#pratodosverem | Descrição da imagem: ao fundo, vê-se os rostos de Phil, Sâmia e do deus. Á frente deles, em cenas distintas da vida de Arcéh, vemos Drenton acorrentado, um homem ferido e mulheres de braços erguidos em protesto.

***

ARCÉH RESPIROU.

Após um início de inverno tão conturbado e com tantas mudanças, a cidade conseguiu caminhar. A nova configuração dos poderes presentes na ilha contribuiu para harmonizar a relação entre os arcéh e os continentais e evitou novas propostas sobre barreiras ou guerras. Assustados por se descobrirem enganados por Drenton Paberos e cientes das maldades do ex-Unagor para se manter no poder, os senhores das estufas uniram-se para compartilhar vivências e métodos de trabalho nas plantações. O objetivo agora, ao invés de fomentar pequenas disputas entre as estufas, era crescerem juntos.

O "Segundo Bastião", grupo dos Unagor dissidentes, não se mostrou capaz de elevar sua voz e se manteve distante das decisões da maioria. Contudo, quando, no ano seguinte, a prisão ao norte de Arcéh foi atacada de forma misteriosa e houve uma tentativa de libertar Drenton, o agora chamado "Primeiro Bastião" decidiu prender os dois Unagor contrários às suas ideias. Mesmo com a oposição de Higor Sotein, abafaram o "Segundo Bastião", caçaram seus integrantes, jogaram-nos na prisão e ridicularizaram suas ideias em praça pública.

A ilha agora era outra, não podiam conviver com aquela mancha de erros.

Foram louvados e aplaudidos pela maioria, sim, mas ao mesmo tempo plantaram uma semente de ódio nas celas ao norte de Arcéh. Ignoraram sua existência e seguiram em frente sem debater o problema ou buscar por soluções. Porém, sementes esquecidas ainda podem ser regadas e, quando crescem, tornam-se um problema.

Por hora, nada aconteceu...

            NA CASA DOS SOTEIN, A VIDA MUDOU TANTO QUANTO A PASSAGEM DAS ESTAÇÕES NA ILHA

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NA CASA DOS SOTEIN, A VIDA MUDOU TANTO QUANTO A PASSAGEM DAS ESTAÇÕES NA ILHA. Após mais dois anos de gelo, Sâmia viu seu coração se apertar com a chegada do verão. Por sorte, devido as tragédias ocorridas na cidade durante o inverno, as celebrações pela chegada do calor foram canceladas. Ao menos, ela não seria obrigada a se fingir de feliz enquanto todos dançavam pelas ruas e exaltavam o fim do gelo. Mesmo assim, era impossível não deixar de ver a mudança no oceano e o retorno gradual dos pássaros. Margareth parecia mais feliz, Higor estava radiante pelo início de uma nova era, Phil ansiava por novidades, enquanto um peso caia sobre a jovem Sotein.

Ver o gelo derreter nos galhos das árvores tinha um duplo sentido para ela: por um lado, cada gota parecia lembrar-lhe que dali a cinco anos sua promessa deveria ser paga; por outro, o derretimento inundava sua alma com mais saudades do deus. Porém, triste ou não, a vida seguiu.

As águas voltaram a correr, os pássaros tornaram a cantar, as ondas do oceano espreguiçaram-se na orla da cidade e trouxeram de volta o cheio da maresia. Sem as estátuas de gelo, a Ponte de Arcéh abriu-se para o mundo e, aos poucos, era como se os cinco anos de inverno nunca tivessem acontecido.

O tempo passou e Sâmia amadureceu.

A menina de treze anos que sobrevivera à Noite da Nyrill e enfrentara a morte de Erwank Maxil, e depois, aos quinze, quase morrera em uma noite pelos bosques nas entranhas de Arcéh, aos dezenove anos alcançara o posto de Encarregada de Relações com o Continente, função antes ocupada apenas por homens, e passara a ter uma vida bastante atribulada: pela primeira vez, viajou para fora da ilha, visitou as cidades do norte do continente e ficou semanas fora de casa, sozinha. Seu exemplo conseguiu influenciar outras meninas a também buscarem novos ares e a enfrentarem as tradições que insistiam em ressurgir na cidade. Sâmia orgulhou-se por ter um papel transformador na vida da ilha. Lutara muito por aquilo. Não era mais uma "mera rebelde".

Mas não teve rebeldia suficiente que a impedisse de aceitar uma velha tradição: aos vinte e dois anos, quando menos esperava, foi pedida em casamento por Phil Voggi.

Aceitou, é claro.

Como não aceitaria?

Sorriu como deveria sorrir, gargalhou como esperavam, pôs as máscaras de felicidade de uma mulher pedida em casamento; chegou a fazer inveja para Baa Icethy quando se encontraram dias após o pedido, convidou dezenas de pessoas para a festa e, sob o teto envidraçado da Quinta Estufa, em uma cerimônia presidida pelo Unagor Chadon, cantou para Phil e ouviu a música dele, cada verso feito para enfatizar a união entre os dois. Mas, não se engane: quando todos pensaram que ao menos naquele momento suas ideias transgressoras haviam se acalmado, Sâmia chocou parte dos convidados ao não trocar o seu sobrenome pelo sobrenome do marido

"Só vou ser Sâmia Voggi se o Phil virar Phil Sotein!", ameaçou.

Sem oposição, assinou os papeis, dançou debaixo de uma chuva de folhas e pétalas, foi abençoada por Madame Voggi, chorou um pouco ao lembrar-se de Erwank e lamentar a ausência da avó e do Unagor Ó Midhir, sorriu mais um pouco. Contudo, quando tudo acabou e ela sentou-se na carruagem para seguir em viagem por dois meses ao lado de Phil, ainda havia dúvidas dentro dela.

— Você está tão tensa. - ele observou ao sentar-se ao lado dela e envolvê-la em seus braços.

— Só estou cansada. Foi muita coisa.

— Bom, agora temos uma nova aventura pela frente. A partir daqui é só descanso e alegria... Depois de tudo, finalmente vamos viver nossas vidas.

Sâmia sorriu e o abraçou. Deitou-se sobre o seu peito e escutou as batidas do seu coração. Phil estava radiante. Virou um pouco o rosto e conseguiu ver o ceu através da janela. A cortina da noite estava estrelada e os pontinhos de luz pareciam saudar o casamente da Sotein com o Voggi.

Uma das estrelas parecia brilhar mais forte que as outras.

A mulher achou reconfortante imaginar ser Erwank, mas a mente não conseguia enganar o coração: seus pensamentos logo foram para longe, mergulhados em mares gelados perdidos em cinza.

Abraçou o marido com mais vigor.

Dali a um ano, mais um inverno chegaria.

E a chegada do gelo seria uma verdadeira provação para ela...

E a chegada do gelo seria uma verdadeira provação para ela

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Estamos de volta, sete anos depois...

Sim, o tempo passa. Muita coisa aconteceu durante essa época, contudo, Sâmia só tinha olhos e mente para sua promessa...

Pois bem, chegou a hora.

É hora de cumprirmos a promessa do primeiro capítulo.

Ou será que não?

O Bailarino de ArcéhOnde histórias criam vida. Descubra agora