SANGUE NA NEVE (PARTE 3)

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HAVIA LUZ...

Uma luz tão branca quanto a neve caída sobre a cidade. Não fria ou melancólica. Quente. Acolhedora. A Luz sorria para Oiv Ó Midhir. Como, ele não saberia dizer, mas sentia o abrir de um sorriso a cada abraço do luminoso. Não via rosto, braços ou vestes. Apenas uma forma sobre ele. Quis falar, perguntar. O esplendor o impediu de fazê-lo. Havia alguma pergunta para tantas respostas? Não precisava pensar em suas dúvidas ou em medos, pois a cada elevação nesse sentido seu peito palpitava em apenas uma frase:

"Deixe o medo e renasça para si"

A voz tinha a suavidade das brisas de uma tarde à beira do mar, com as pernas dentro d'água e o olhar perdido no horizonte; tinha a voz de sua mãe dizendo-lhe para seguir adiante; tinha a voz do pai, erguendo-o para o alto em seus ombros para mostrar-lhe a estufa e como aquilo tudo era dele.

Dele...

Dele?

Sim, Oiv não era uma menina sobre os ombros do pai ou debaixo do toque da mãe. Era um garoto. Era como se via diante do espelho. Era como se sentia diante de si. Era, enfim, sua verdade.

O pai e a mãe agacharam-se diante do garoto, sorriram e disseram em uníssono naquela voz de outros mundos.

"Pode irnão precisa provar nada a ninguém, Oiv. Você já provou algo a si mesmo: você pode. Você conseguiu. Você sorriu mesmo quando o mundo não sorriu de volta; você ficou de pé mesmo caminhando em pedras cheias de lodo. Não se prenda pelos outros, Oiv; não viva os nossos sonhos. Nós somos apenas tutores, não amarras. Não precisa mais chorar, meu menino. Chega de apenas estar feliz, Oiv."

"Está na hora de ser feliz!"

O Unagor olhou para cima e viu-se nos braços de um homem, carregado para baixo, para a terra firme, em uma dança flutuante. O cinza caia sobre ele e, apesar dos lábios não sorrirem, os olhos o faziam e diziam estar tudo bem. Os fios da roupa pareciam feitos com as nuvens, tão leves e finos ao ponto de se confundirem com o vento. O cabelo elevava-se ao alto e perdia-se no Universo. Oiv sentia os braços em torno do seu corpo, mas não havia peso, não havia força.

Havia luz...

#pratodosverem | Descrição da imagem: diante de um cristal de gelo que parece nascer como sol, irradiando um brilho intenso, vê-se o deus do inverno carregando o Unagor Oiv desmaiado em seus braços

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#pratodosverem | Descrição da imagem: diante de um cristal de gelo que parece nascer como sol, irradiando um brilho intenso, vê-se o deus do inverno carregando o Unagor Oiv desmaiado em seus braços.

***

As nuvens passaram por eles e entraram no caminho dos flocos de neve. Dali, sobrevoavam as copas das árvores da ilha. O branco fundiu-se ao branco, o azul sorriu para o cinza, Oiv sentiu-se sozinho ao cair em direção à carruagem largada no meio da Estrada do Mar Sem Fim. O corpo do cocheiro estava de um lado, o do cavalo de outro e, no interior do veículo, viu o seu próprio corpo caído no espaço entre os assentos.

Havia uma flecha em seu peito.

A poucos centímetros do cadáver, Oiv sentiu o branco do ambiente tomar-lhe a mente e a luz começar a se apagar. Mas, antes de renascer, ouviu uma última frase:

"Não tenhas medo, filho dos Homens"

Houve escuridão.

Oiv Ó Midhir respirou.

Somado à cena na qual o Inverno se ajoelha diante de Sâmia, esta cena dele carregando Oiv é uma das minhas preferidas junto com a respectiva ilustração

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Somado à cena na qual o Inverno se ajoelha diante de Sâmia, esta cena dele carregando Oiv é uma das minhas preferidas junto com a respectiva ilustração.

É humano.

É a dureza da vida... Injustiça, talvez....

Uns se salvam para outros morrerem.

Obrigado pelo apoio.

O Bailarino de ArcéhOnde histórias criam vida. Descubra agora