A TERCEIRA ESTUFA (PARTE 1)

341 90 105
                                    

NÃO HAVIA ARANDELAS ACESAS NA PARTE DE BAIXO DA CASA. Com medo de atrair a atenção de algum passante (ou seja lá quem estivesse disposto a xeretar a casa alheia debaixo da neve), Sâmia e Phil estavam parados lado a lado no corredor de entrada, os olhos de ambos debruçados sobre os ingredientes do Chá de Afasta Morte.

— Já decorou tudo? - a garota passou o toco de vela para a outra mão. Seus dedos já estavam vermelhos e cheios de cera. — A gente está perdendo tempo!

— Calma! Já imaginou a gente correr esse perigo todo e voltar com alguma coisa errada? É a última vez, eu prometo. Vamos lá: precisamos de cinco "Folhas de Manon", uma "Maçã verde" e... "quantidade suficiente de Alga de Naaohc". O que seria uma quantidade suficiente? Dez quilos?

— O quanto o nosso coração mandar, Phil. - Sâmia apagou a chama.

— Nossa, poesia na escuridão ...!

A menina ignorou o comentário.

— Bom, a maçã é o mais simples. A Terceira Estufa é aqui perto e está cheia de macieiras. Alga de Naaohc eu sei que tem nas margens... Agora, Folhas de Manon... Acho que nas árvores do outro lado da ponte deve ter.

— Ah, claro... Nossa, que maravilha! Do outro lado da ponte, no meio de uma nevasca...! Um passeio muito divertido! Por que eu nunca pensei em fazer isso antes?!

— Porque as vezes só uma mulher consegue organizar as coisas como devem ser.

— Isso parece uma frase que sairia da boca da sua mãe, sabia disso, sra. Sotein?

— Ah, cala a boca, Phil!

Sâmia tratou de empurrar a imagem da mãe para o fundo dos pensamentos. Pensar em Margareth Sotein em uma situação como aquele não lhe traria nenhum conforto. Só naquelas poucas horas já quebrara todas as regras impostas em sua casa - e mais algumas que a sra. Sotein jamais sonhara em ter de estabelecer para Sâmia, afinal, nunca passaria pela cabeça da mulher imaginar a filha prestes a invadir uma estufa para roubar maçãs.

A garota aprumou o gorro sobre a cabeça e deu mais duas voltas do cachecol em torno do pescoço. Ao abrir a porta, só não foi empurrada pela rajada de vento graças à Phil. A neve caia aos turbilhões e, sem nenhum poste aceso, transformava o horizonte em um convite ao mistério. Sâmia apertou o casaco contra o peito e deu o primeiro passo.

— Onde vamos primeiro?

— Para dentro de casa seria uma boa, não?! - olhou para os dois lados. Os ventos vinham do norte e, assim, descer a rua à favor da ventania seria bem mais fácil. Por outro lado, a Terceira Estufa ficava na parte alta da cidade e com certeza o caminho até lá, contra ao vento, seria bem mais custoso. Era melhor começar pelo mais difícil. — Para a Terceira Estufa...

— Certo. Amarre essa corda na cintura. Se ficarmos presos um ao outro será mais fácil nos ajudarmos em caso de acontecer alguma coisa. - diante do olhar de zombaria do rapaz, Sâmia se apressou em dizer: 

 — E não, isso não é um desejo oculto de ficar presa à você, Phil Voggi! Te enxerga!

Ele manteve a compostura, atou a corda ao corpo e logo os dois caminhavam ladeira acima.

***

#pratodosverem | Descrição da imagem: diante de um fundo preto, vê-se um cenário de casas em uma ladeira e, diante delas, a sombra de duas pessoas rua acima, amarradas um ao outro pela cintura, contra a ventania de neve em seus corpos.

#pratodosverem | Descrição da imagem: diante de um fundo preto, vê-se um cenário de casas em uma ladeira e, diante delas, a sombra de duas pessoas rua acima, amarradas um ao outro pela cintura, contra a ventania de neve em seus corpos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


O Bailarino de ArcéhOnde histórias criam vida. Descubra agora