🏆 Vencedor Wattys 2020, Fantasia
🏆 2º lugar no "Concurso Wattpad Brasil"/2018 - Fantasia do grupo "Wattpad Brasil Facebook"
🏆 3º lugar no "Concurso Team Literário/2017 - Fantasia" do perfil @TeamLiterário17
🏆 3º lugar no "Concurso Team Literári...
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#pratodosverem | Descrição da imagem: diante de um cenário enevoado, vê-se o momento em que uma bala estilhaça a cabeça de uma das estátuas de gelo, pedaços voando por todo lado.
***
DRENTON QUEBROU UMA DAS ESTÁTUAS COM UM CHUTE. O Unagor odiava a incompetência tanto quanto odiava os continentais. Não sabia quem eram aquelas pessoas, mas tinha certeza de uma coisa: pega-las significaria o ápice de seus planos. Com uma prova contra as cidades do outro lado da ponte, seria autorizado a "agir" para proteger Arcéh. A casta dos Unagor compraria armas, convocaria legiões de guerreiros e atacaria o continente de uma vez por todas. Seria um ataque para pôr fim ao que os seus antepassados começaram muitos anos antes.
Mas ainda havia a Nyrill.
A odiável Nyrill...
Da boca para fora, Drenton era um defensor do culto à Nyrill de Arcéh. Financiava os festivais, participava das oferendas à deusa, exigia respeito ao tratarem sobre o assunto em sua presença. Porém, deitado em sua cama, todas as noites o Unagor imaginava o quanto a sua riqueza cresceria se não houvesse o "Maldito", apelido dado ao inverno por uma parcela dos Unagor.
A Terceira Estufa tinha uma estrutura capaz de atender à toda a região e, quem sabe, ir além. Apesar dos seus conflitos com o continente, carroças e carroças de mantimentos abasteciam as capitais mais próximas de Arcéh e tinham autorização para percorrerem as estradas continentais. Os governantes além-mar tinham ciência do quanto os produtos cultivados na ilha eram "diferentes", "especiais" e "abençoados".
Sim. Drenton Paberos lutara muito por aquilo e conseguira. Contudo, a Nyrill e seu "Maldito" impusera um limite aos seus planos. O inverno estancava sua produção, as vendas caíam pelo fato das carroças não conseguirem entrar ou sair de Arcéh devido ao museu de cadáveres congelados e ele se via obrigado a cultivar menos durante aqueles cinco anos de frio. E então, quando o verão chegava, passava pelo menos um ano para recuperar o ritmo e voltar aos lucros. Por isso, a pergunta sempre voltava à sua mente:
"E se matássemos a Nyrill?"
Não precisava dos demais Unagore nem mesmo da aprovação dos arcéh (algo improvável perante a figura maternal da Nyrill). Precisava apenas de uma desculpa para incitar um conflito, fazê-lo perdurar pelos anos e, na próxima vinda da deusa, matá-la. Os culpados seriam, é óbvio, os continentais e ele lucraria com o acirramento da guerra entre Arcéh e as demais cidades. Tinha um estoque de armas suficiente para abastecer tanto a ilha quanto o continente.
— Os cães perderam o faro, senhor. Eles devem ter se jogado no mar.
Drenton olhou para os dois cães. Apesar do tamanho, ainda eram filhotes e, sem treinamento, pouco ajudavam em uma caçada. A morte dos cachorros adultos e a fuga do pássaro fora um baque para ele. A segurança da Terceira Estufa estaria comprometida por pelo menos um ano.
Aproximou-se da amurada e olhou o oceano. Não havia sinais de quebra da superfície de gelo ou de algum corpo estendido. Voltou sua atenção para a ponte. As estátuas estavam intactas, sem vestígio algum de um urso. Seria difícil convencer o Conselho de Administração e o Bastião dos Unagor sobre a culpa do continente se o impacto das provas não fosse sentido na alma de cada arcéh.
Uma coisa era ele ter perdido seus cães de Halbriew, outra eram os arcéh perderem seus entes queridos.
Encarou seus guardas.
— Vocês também viram o urso, não viram? - mesmo quem não estava na estufa no momento do ataque confirmou. A expressão de fúria de Drenton não dava margem à embates. — Mas, não vemos aqui nenhum rastro do urso, vemos? Não, não vemos. Por enquanto...
Pegou a arma das mãos de um guarda, apontou para o peito de uma senhora cujo olhar petrificado era de encanto diante da figura da Nyrill e puxou o gatilho. A estátua desfez-se aos pés do Unagor enquanto o barulho ricocheteava pela ponte e perdia-se no silêncio. Sem demonstrar arrependimento algum, Drenton fez o mesmo com mais uma dezena de mortos e sorriu para o bando.
— Vamos lá, senhores! Vamos dar ao urso um corredor de passagem do continente até Arcéh! Vamos impedir que os continentais dominem nossa ilha e matem nossa Nyrill.
Os homens hesitaram.
— V-Va-Vamos destruir n-nossos familiares...?
— E o que vocês preferem: um pecado menor ou ver Arcéh tomada pelo inimigo, suas casas destruídas e suas famílias mortas? Hoje eles enviaram um urso. Amanhã, enviarão um batalhão de soldados para sermos pegos desprevenidos. E como será, então? Viraremos prisioneiros pelo resto das nossas vidas? É o que vocês desejam, homens?! Se for, tudo bem. Não façam nada. Eu cuido disso sozinho. Mas lhes digo: vocês serão cobrados por essa covardia. Saibam disso quando, ao invés de cadáveres de gelo, vocês estiverem diante do corpo da Nyrill de Arcéh, morta pelos continentais.
Drenton estendeu a espingarda para um deles.
Os guardas se entreolharam.
A dúvida e a crença são tipos de armas cuja eficiência não pode ser medida de forma imediata, pela força. Tal qual vinhos, quando bem cuidados e maturados, tais artifícios mesclam-se ao inconsciente das pessoas e permanecem ali como um filtro pelo qual passam toda e qualquer decisão ou pensamento. Havia dúvidas quanto a chamar os continentais de "inimigos", contudo, a mera possibilidade de um ataque aos fundamentos da cultura de Arcéh mexeu com os brios daqueles homens.
A Nyrill seria generosa e não os condenaria por tal ato.
Pegaram as armas e começaram a destruir as estátuas.
No meio da confusão de tiros, um deles apontou para Phil e disparou contra o peito do garoto Voggi.
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