🏆 Vencedor Wattys 2020, Fantasia
🏆 2º lugar no "Concurso Wattpad Brasil"/2018 - Fantasia do grupo "Wattpad Brasil Facebook"
🏆 3º lugar no "Concurso Team Literário/2017 - Fantasia" do perfil @TeamLiterário17
🏆 3º lugar no "Concurso Team Literári...
UM PANO FOI JOGADO SOBRE O MUNDO E O ANOITECER CAIU. No ceu não havia estrelas, cor ou lua; abaixo, os troncos ao longo da trilha não passavam de sombras enfileiradas feito estacas, com seus galhos nus perdidos na escuridão acima. O silêncio ficara intenso ao ponto de Gyen poder ouvir a própria respiração. O barulho era tão claro e tão alto que, no início, ele espiou de lado para se certificar de que não havia ninguém ao seu lado, soprando no seu ouvido.
Torcia para estar enganado.
Pouco tempo depois do escuro ter invadido a floresta, o Inverno ouviu um barulho diferente, abafado e solitário. Mas, como as roupas, os passos e até o coração acelerado já faziam tanto barulho, concluiu ser mais uma armadilha de sua própria imaginação. Ou então, uma peça pregada pelo seu cansaço.
"Não", pensou o deus com pesar, "Isso não é só cansaço..."
Era bem pior: sono.
Gyen dormia, é claro, mas não do modo como os humanos ou os animais, para repor as energias. O seu dormir era mais um processo de meditação em busca de respostas, nada comparado a um "desligar do corpo". Durante esse processo, apesar de ele parecer adormecido, continuava em alerta, ciente de tudo ao redor do corpo físico ao mesmo tempo em que vagava por uma espécie de "plano espiritual". Segundo Gyen, a sensação era como se um homem navegasse em um rio com a metade direita do corpo banhada pelo sol e a esquerda tomada pela noite. O fato de agora sentir os olhos se fecharem sem o seu controle era preocupante; desesperador.
"Você precisa dormir, Gyen.", disse-lhe a voz.
"Eu nunca durmo."
"O sono é traiçoeiro, Gyen. Ele chega quando menos se espera..."
"Não comigo. Eu ainda sou um deus!"
"Tens certeza disso, Gyen?"
"É claro que eu tenho."
Gyen caminhou por mais alguns metros. As palavras da voz ressoavam dentro dele em eco. Ele era um deus, sim. Sentia-se como tal. Isso não bastava? Tocou em uma árvore próxima e a congelou. Aquilo o deixou tranquilo, mas, ao dar alguns passos em frente, sentiu o equilíbrio lhe faltar e o corpo pender. Como previra a voz, ele desacelerou a caminhada aos poucos, as pernas pesadas e os vultos ao redor cada vez mais turvos até o ponto de tudo rodopiar. Ele mesmo se viu sem orientação, os pés em círculo, as mãos à frente com medo de bater em algo.
O deus estava com medo de si.
Sem controle, seus pés tropeçaram.
O Inverno caiu.
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ABRIU OS OLHOS DEVAGAR E LEVANTOU-SE DE UM PULO. A noite densa e o silêncio das árvores pareciam intactos, mas ele não sabia responder por quanto tempo ficara desmaiado. Podia muito bem ter se passado um dia inteiro ou talvez semanas. O corpo estava rijo, dolorido. Ele nunca se sentira desse jeito antes. Andou alguns passos e parou.