NAS PROFUNDEZAS DE ARCÉH (PARTE 3)

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O TIRO PASSOU POR ELES E ESTRAÇALHOU O CADÁVER DE UM SENHOR. Pedaços da estátua voaram para todos os lados e deixaram uma nuvem de gelo. Sâmia se ergueu e viu um movimento de tochas no décimo sétimo posto, há cerca de trezentos metros. O brilho das armas salpicava a noite na ponte. Perguntava-se quem seria louco àquele ponto quando a confirmação ecoou pela ponte.

— NÃO ADIANTA FUGIR! EU TENHO A PROVA DA INVASÃO!

O Unagor gargalhava e balançava algo de um lado para o outro como se fosse uma bandeira. Sâmia torceu pelo contrário, mas seus olhos não deixaram margem para dúvidas: Drenton tinha em mãos o casaco de Phil. Os latidos e uivos dos cachorros denunciavam a forma como ele conseguira localizar os dois: aquele casaco estava impregnado com uma mistura de cheiros da estufa e também do pássaro.

A garota se mexeu e mais uma estátua explodiu a centímetros dela. Perguntou-se se as pessoas na cidade não ouviam aqueles tiros. Jogou-se sobre Phil e deu tapas em seu rosto. Ele continuava desacordado.

— Grande ajuda, Phil Voggi!

Os homens do Unagor aproximavam-se. Era possível ouvir a afobação dos cães ao farejarem a presa, atrasados apenas pelas estátuas pelo meio do caminho. Sâmia não acreditava naquilo. Noites antes, estava em casa, com planos para uma aventura qualquer, e agora fugia de um obcecado pelo poder capaz de fazer de tudo para conquistar mais ganhos - e isso incluía destruir o santuário da Ponte de Arcéh e incitar a ilha em uma guerra contra as cidades da região.

Os segredos de Arcéh pareciam despencar sobre os ombros da menina.

Pegou o pedaço de uma das estátuas e ignorou o pensamento sobre qual parte do corpo seria aquela. Talvez estivesse com o coração, o estômago ou o rim de alguém nas mãos. Não era hora para aulas de anatomia.

Mirou a arandela no alto do posto de observação e atirou.

Ajudado pelo vento, o impacto fez o objeto despencar no chão e a escuridão tomar conta daquela parte da ponte. Lembrou-se da sua tentativa de passar-se por morta perante o deus. Não faria aquela atuação de novo, é claro, mas a falta de consciência de Phil seria uma qualidade naquela hora.

Sem tempo a perder, tirou a camisa do garoto, amarrou-a na cintura dela e o cobriu com pedaços das estátuas e com a neve acumulada pela ponte. O resultado não fora nada satisfatório e o garoto mais parecia um monte de gelo muito tosco, contudo, era o melhor a fazer naquele momento.

Ouviu mais um latido e correu para a amurada. Pensou em dependurar-se nas ripas, mas os guardas com certeza apontariam suas tochas para baixo. Sâmia desceu pela lateral da ponte até seus pés encontrarem o vazio.

#pratodosverem | Descrição da imagem: vê-se uma imagem aproximada da lateral da Ponte de Arcéh, com várias pessoas na parte de cima e a silhueta de uma pessoas pendurada pelo lado de fora, as pernas soltas no ar

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#pratodosverem | Descrição da imagem: vê-se uma imagem aproximada da lateral da Ponte de Arcéh, com várias pessoas na parte de cima e a silhueta de uma pessoas pendurada pelo lado de fora, as pernas soltas no ar.

*** 

Abaixo, só havia o mar congelado.

Acima, viu a luz das tochas se aproximarem da amurada.

Só havia um jeito de escapar.

Desejou sorte à Phil e soltou as mãos.

Desejou sorte à Phil e soltou as mãos

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O Bailarino de ArcéhOnde histórias criam vida. Descubra agora