#pratodosverem | Descrição da imagem: vemos uma mão que segura um bolinho de carne com molho escorrendo e vermes saindo.
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MARGARETH SOTEIN JÁ ESTAVA APREENSIVA ANTE O SUMIÇO DA FILHA PELAS ENTRANHAS DAQUELA CASA - OU SEJA LÁ O NOME DADO ÀQUELA "COISA" USADA COMO MORADIA. O assoalho parecia gemer a cada brisa mais forte; havia um barulho incessante de ventania devido àquele fosso ("Quem projetou essa casa tinha ideias absurdas!", pensou a sra. Sotein) e a lareira, vez ou outra, cuspia fuligem, como se a fumaceira do cachimbo da velha Voggi já não fosse suficiente. Olhou para a bandeja deixada ao seu lado por um empregado. As bolinhas de carne pareciam apetitosas, bem como o pote com um molho amarelo para acompanhar. Pegou uma, molhou no acompanhamento e levou-o à boca. Para a sua sorte, parou a poucos centímetros dos lábios.
Havia um verme pendurado no aperitivo: uma coisinha comprimida cujo corpo se retorcia como se estivesse alegre e saltitante.
Margareth soltou um grito e jogou o bolinho nas chamas.
— Q-Q-Que co-coisa nojen-jen-ta é essa?
— Ora, isso é pergunta que se faça? – Madame Voggi abriu o leque com um estralo e fez pose de ofendida enquanto se abanava. — Definitivamente, você precisa sair mais, querida. Tenha modos! Isso são vermes de Scorcherdleg! Uma iguaria que vale seu peso em ouro.
A sra. Sotein teve ânsia de vômito. Scorcherdleg era um tipo de árvore encontrada em algumas florestas da região cujo o tronco apodrecia no frio. Durante essa época de baixas temperaturas, a planta atraia vermes que consumiam a madeira e, assim, ajudavam no reflorescimento da árvore. Nos lugares próximos às áreas de crescimento de Scorcherdleg, era comum as pessoas emigrarem durante o inverno devido ao cheiro de carniça.
— E ainda dizem por aí que eu não sei ser fina; que sou muito exótica. E eis aqui alguém que não aprecia a boa culinária... É uma pena você não ter gostado, meu bem. De fato, Scorcherdleg não é para todos. Ainda mais para alguém tão... Delicada. Scorcherdleg é para pessoas de – fechou o leque com um malabarismo. — atitude.
Margareth olhou para a senhora sentada em seus trajes multicoloridos e cerrou os dentes. Engoliu o insulto, empinou o nariz e pegou três bolinhos de uma vez. Os vermes se mexiam feito cabelos soltos na brisa. Prendeu a respiração, pôs tudo na boca e ainda bebeu metade do molho. Um erro: a carne tinha gosto de couro de peixe cru temperado com especiarias fora da validade; o molho, porém, tinha somente um ingrediente: pimenta-de-leão.
— Olha só! Você é das minhas, hein?! Estava escondendo o jogo esse tempo todo! – a sra. Voggi exibia um sorriso no canto da boca. Entrecruzou os dedos e inclinou o corpo para frente. — E então, meu bem, o que achou do gosto?
Margareth começava a ficar vermelha e já desabotoava um botão do vestido.
— Ótimo...
— Hum... E o molho?
— Ma-ra-vi-lho-so...- ergueu a saia até os joelhos e jogou a tiara para longe, os cabelos caídos por sobre a testa.
— Você já tinha comido Scorcherdleg antes?
— ...
— Minha flor, você está passando bem?
Margareth não conseguia falar. Levantara as mangas até os braços, retirara os sapatos e jogara as meias para o alto. Pegou uma das almofadas e começou a se abanar. Talvez fosse impressão causada pelo calor em excesso, mas sentia os vermes em descida pelo seu esôfago em um passeio nada agradável rumo ao estômago. O suor lhe escorria pela fronte como se tivessem posto uma pedra de gelo para derreter sobre a sua cabeça.
Soltou um urro e anunciou:
— EU TÔ PEGANDO FOGO!
— Ah, querida, chega uma fase da vida que todas nós ficamos desse jeito! Não se assuste, é normal...
— ÁGUA! EU PRECISO DE ÁGUA!
Madame Voggi revirou os olhos.
— A cozinha fica quase no último andar, meu bem. Nas profundezas desta casa. Você deveria ter pedido para o Srusz trazer junto com a comida. Agora, vamos ter que esperar ele aparecer por aqui de novo...
— O QUÊ? – Margareth correu de um lado para o outro. A fumaça e a agonia de todo aquele calor a impediam de pensar direito. Parou de frente para a matriarca e mostrou os dentes feito uma fera prestes ao ataque. — É PRA DEIXAR AQUELES DOIS SOZINHO, NÃO É?! EU NÃO VOU DEIXAR!
— Querida, do jeito que você está derretendo você precisa primeiro se acalmar para só depois deixar ou não deixar alguém fazer as coisas. Além disso, o meu neto...
A sra. Sotein não ouviu o restante da frase. A quentura chegara ao ponto de ebulição e ela não pensou duas vezes: olhou para a fonte de carpas e jogou-se de peito aberto para junto dos peixes.
As carpas, enojadas, esconderam-se da intrusa.
Quando ergueu a cabeça de dentro d'água, Madame Voggi acenava para ela.
Ao lado da mulher estava o empregado, Srusz, com uma jarra com água.
Margareth voltou a mergulhar o rosto para não fazer uma loucura contra a velhota.
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O Bailarino de Arcéh
Fantasía🏆 Vencedor Wattys 2020, Fantasia 🏆 2º lugar no "Concurso Wattpad Brasil"/2018 - Fantasia do grupo "Wattpad Brasil Facebook" 🏆 3º lugar no "Concurso Team Literário/2017 - Fantasia" do perfil @TeamLiterário17 🏆 3º lugar no "Concurso Team Literári...