Capítulo 3 - Jordão

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Sentado na cama Carlos procura se distrair vendo velhos filmes em sua central multimídia pessoal. Ele está hospedado em um pequeno quarto do Quartel General do Planeta Atlas.

Hospedado não seria o termo mais preciso, talvez detido fosse mais o caso.

Ele e Juliana chegaram ao prédio juntos, porém logo foram separados. Então os interrogatórios começaram, eram diários. Eles perguntavam a mesma coisa de maneiras diferentes, tentando encontrar alguma contradição.

Nós últimos dias ele havia cruzado com Sarah, Lucas, Nina, Vivian e diversos outros nos corredores. Não deixaram eles conversar, iriam confrontar os depoimentos deles procurando inconsistências.

Ele havia ouvido palavras duras do comandante do Serviço de Inteligência Militar, um cara chamado Romano. Ele disse que Estela foi enganada como uma patinha pelos alienígenas. Que a traição do Quatro Braços era evidente, e que eles deixaram a maior parte da tecnologia escapar por entre os dedos.

Romano disse que suspeitava que talvez todos os soldados que voltaram fossem um tipo de “Cavalo de Tróia”.

Na ocasião Carlos até achou um pouco de graça quando Romano disse: “ como vou saber que na verdade vocês não são clones dos nossos soldados, e que não vão fazer atos de sabotagem assim que tiverem mais liberdade. Depois de tudo o que aconteceu, eu não tenho o direito de duvidar de mais nada”.

Então Carlos percebeu que a fala do chefe de inteligência não era tão absurda assim, que se ele estivesse na posição dele aquilo poderia perfeitamente passar pela sua cabeça, e qualquer possível graça no comentário desapareceu.

A mente de Carlos volta ao presente quando ele ouve baterem na porta de seu quarto, um soldado disse que ele estava sendo convocado para uma reunião.

A sala para onde ele foi levado dessa vez era bem diferente da que era rotineiramente usada. Era um local muito espaçoso e bem decorado.

Então o comandante geral do Planeta Atlas entrou com mais de dez auxiliares. Ele se chamava Jordão, e após se sentar disse:

- Vou direito ao ponto soldado. Você vai ter acesso a informações secretas, e se revelar algumas delas nós vamos te fuzilar por traição, está claro?

- Sim comandante, eu compreendo. – disse Carlos.

- Para a sorte de vocês os cientistas estão empolgados com os placas de cristais das cápsulas em que vocês vieram, isso vai fazer a nossa tecnologia de salto de hiperespaço evoluir muito. – disse Jordão.
Carlos estava um pouco aliviado, então Jordão continuou:

- Outra cápsula chegou a cerca de 24 horas.

A notícia fez Carlos arregalar os olhos e se endireitar na caldeira. Jordão esperou o soldado a sua frente se recompor e prosseguiu.

- Tinha um Crow dentro dele, e um hava trabalhador e um tripulante da Boreal Nove. Também havia o relatório atualizado do comandante daquela nave de transporte interestelar. O pessoal da Boreal Nove ainda acha que tudo está certo.

Além da voz de Jordão não havia mais nenhum som na sala. Carlos estava totalmente compenetrado nas informações passadas. E o relato continuou:

- O Crow foi logo se justificando. Ele disse que o Quatro Braços realmente nos enganou, mas que teria sido por uma boa causa. Que o Quatro Braços e os crows teriam desviado os batalhoídes, POCs, equipamentos, etc, para um planeta distante. Que esse planeta seria um campo de trabalho escravo em que os crows produzem teletransportadores. Que seria esse o local em que o Quatro Braços nasceu e cresceu. Ele pretenderia libertar o povo e dele. E para isso precisava da “caixa”, aquela que vocês não reiniciaram violando o protocolo.

O tom de voz de Jordão foi de acusação, mas ele voltou a sua narração.

- Então, segundo o crow, ele teria se apropriado da “caixa”,  e possivelmente os soldados humanos teriam acidentalmente sido desviados junto com a inteligência artificial, e o Quatro Braços enviará os nossos soldados assim que tiver  um teletransportador funcionando.

Jordão fez uma pausa, olhou de modo assustador para Carlos e continuou.

- Você vê o tamanho da merda em estamos, esse alien maldito que vocês encontraram raptou Augusto, Estela, mais dois oficiais, roubou uma inteligência artificial, quase mil navezinhas e ainda quer dizer que fez por um bom motivo, o que aquele filha da puta está pensando?  O que? Me responda porra!

A situação era constrangedora para Carlos, ele se limitou a morder o lábio e olhar para o chão.

O silêncio durou alguns segundos, porém pareceram horas, então Jordão disse:

- Então, vamos falar sobre o  porquê chamei você hoje. O crow e o hava e qualquer outro alienígena que a gente achar vão ser tratados como prisioneiros, acabou essa história de aliados. O crow vai construir um teletransportador e cápsulas para a gente, isso claro com uma arma apontada para a cabeça dele. Não vamos deixar nem ele trabalhar aqui em Atlas, vai que o miserável construa uma bomba capaz de explodir um planeta todo, não duvido de mais nada. Vamos mandar ele para um asteroide de mineração distante, ele vai trabalhar lá. Enquanto isso vamos montar um grupo tático especial, o qual treinará para ser enviado em cápsulas para cumprir missões em planetas distantes. Os objetivos serão o de enfrentar nossos inimigos no quintal deles, capturar o Quatro Braços e outros crows, resgatar nossos soldados, recuperar a caixa, e cumprir qualquer outra missão que se fizer necessária. Você e seus homens farão parte dessa equipe devido a sua experiência com esses seres, agora o comando será de um oficial da minha confiança, e se ele duvidar da lealdade de vocês, ele tem autorização para mata-los sumariamente. Está entendido?

- Sim senhor. – disse Carlos.

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