Capítulo 51 - No Blindado

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No Planeta UH 9536

O dia está ensolarado, porém a equipe de soldados não ousa sair do veículo blindado de transporte modelo GK-378. A missão deles é verificar se mini cápsulas chegaram a UH, e também descobrir e eliminar qualquer ameaça que possa ter vindo nelas.

O veículo deles carrega confortavelmente a equipe de oito soldados, além de muito equipamentos. Suas seis rodas tracionadas independentemente permitem trafegar por quase qualquer terreno. Com duas torretas no teto, uma na parte da frente e a outra na traseira, permitiam que se defendessem de soldados, veículos leves e aeronaves do inimigo.

A soldado Cíntia Patrícia estava monitorando as câmeras e os sensores do veículo, ela também podia operar as duas torretas, que estavam armadas cada uma com um disparador de plasma de longo alcance e dois mísseis antiaéreos.
O veículo deles estava parado no alto de uma planície. Tinham uma excelente vista dos arredores, mas o que eles estavam procurando devia ser pequeno, teriam varrer a região de perto.

Os demais soldados preparavam os pequenos drones terrestres de reconhecimento, os quais seriam controlados remotamente pelos soldados.

Os pequenos drones eram “carrinhos” com quatro rodas, as quais eram relativamente grandes para o tamanho deles. Eles pensavam uns dois quilos e eram do tamanho de bolas de futebol. No alto do chassi havia um conjunto de câmeras, sensores e antenas. Na frente havia dois braços mecânicos retráteis para a coleta de amostras de solo e outras tarefas. Aqueles equipamentos não eram nada bonitos, não tinham carenagem e seus motores elétricos e outros componentes ficavam aparecendo, mas eram muito eficientes para vistoriar o terreno.

Os soldados tentavam parecer descontraídos, mas havia preocupação entre eles, uma invasão podia estar prestes a acontecer.
Pike, o chefe da equipe constatou que a preparação dos drones estava completa e ordenou que a porta traseira do veículo fosse baixada. Então ele disse:

- Vamos lá pessoal, vamos pôr os carrinhos pra rodar e fechar logo essa porta, eu quero estar pronto pra sair caso a coisa fique feia. Cíntia, fique atenta.

- Certo chefe, se uns havas ou Stalls aparecerem posso mandar plasma neles? – perguntou Cíntia Patrícia.

- Claro, pode mandar eles pro inferno. – respondeu Pike.

Em poucos minutos os drones corriam pelo solo poeirento e a porta traseira do blindado se levantava.

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Depois de quarenta minutos Cíntia Patrícia já estava entediada e começou a pensar sobre a sua vida.
Ela havia completado dezoito anos há poucas horas, ela pensava que esses “aniversários” não faziam muito sentido. O Planeta Terra, e o tempo que ele demora para dar uma volta na estrela daquele sistema solar, não tinham mais nenhuma relevância real na vida de Cíntia e de seus amigos.

Ela havia crescido em um planeta chamado Esthia. Era na órbita desse planeta em que era feita a montagem das gigantescas naves de transporte interestelares. A maior parte das estruturas das naves era feita lá também. Os asteroides do sistema eram minerados e os estaleiros orbitais fundiam as grandes peças.

A mãe de Cíntia Patrícia era engenheira do estaleiro e o pai dela era enfermeiro na capital do planeta. Ela cresceu imaginando o dia em que iria embora em uma das naves que sua mãe ajudava a construir. Ela queria participar da grande aventura humana que era a exploração do espaço. Seus pais ao contrário só queriam uma posição que lhes dessem segurança e estabilidade. Foi decepcionante para eles verem que sua filha gostava muito do treinamento militar básico  e  que logo que completou 16 anos se engajou em uma missão militar.

Cíntia Patrícia pensou o que sua mãe pensaria, se ela soubesse que a filha dela estava naquele momento em um blindado, em um planeta que podia ser invadido a qualquer momento por aliens bizarros e misteriosos. Ela gostaria de um dia poder contar para sua mãe sobre suas aventuras em UH, sobre o Stall que ela matou na invasão do Grande Desfiladeiro. Aquela experiência a fez deixar de vez a adolescência, as vezes ele pensava naquele Stall, se ele tinha família e essas coisas.

Os devaneios de Cíntia Patrícia foram interrompidos quando o soldado Júlio disse em voz alta:

- Chefe! Achei alguma coisa.

Todos,  exceto Cíntia Patrícia olharam para o terminal portátil de Júlio. O drone que ele controlava encontrou algo atrás de uma pedra grande, era uma mini cápsula.

Rapidamente os outros drones terrestres foram direcionados para aquele local, e a base do Grande Desfiladeiro foi avisada.

Depois de quinze minutos outro drone se deparou com o pequeno animal. Ele parecia uma mistura de rato com lagarto, era peludo e feio. Se movia lentamente enquanto se alimentava da vegetação rasteira. Ele estava a cerca de dez metros do drone.

No blindado Pike disse para Denise, a soldado que operava aquele drone:

- Será que você consegue capturar essa coisa?

- Acho que sim. – respondeu Denise enquanto aciona os comandos em seu terminal portátil, e no drone, que está a quase quatro quilômetros de distância, dois pequenos braços se estendem da frente do pequeno chassi.

O drone se aproxima lentamente do pequeno animal por trás. Porém quando chega a quatro metros tem sua presença notada pelo “bichinho”. Nesse ponto os comandos do Grande Desfiladeiro e do Acampamento Central já acompanhavam tudo em tempo real por vídeo.

Denise faz o drone parar. Então ela e seus companheiros ficam observando. O animal fecha os olhos, cai de lado e fica imóvel, então para espanto de todos o abdômen dele começa a inchar. E continua a inflar. Em pouco tempo era como se a parte de baixo do animal tivesse se tornado um pequeno balão. A pele da barriga do bicho já estava ficando transparente.

O abdômen se inflou ainda mais um pouco, então aconteceu. A parte de baixo do animal estourou, como um balão de gás que é furado por uma agulha.

O ar próximo de onde o animal estava ficou cheia de partículas brancas, que estavam sendo levadas pela brisa.
Pike ficou sem saber o que fazer por um instante, então pelo rádio o oficial Tiago que acompanhava a transmissão por vídeo gritou:

- Risco químico/biológico, lacrem o veículo, saiam daí.

Então a voz da oficial médica do Acampamento Central também é ouvida pelo rádio. Ela diz:

- Vocês estão de quarentena, não voltem para a base, aguardem instruções, mantenham a calma, isso é só por cautela.

Então Pike percebe que eles tem razão, aqueles bichos são o meio perfeito de espalhar uma arma biológica. Provavelmente eles devem comer qualquer coisa, devem se reproduzir rapidamente, funcionam como fábricas vivas dos vírus e bactérias, e ao encontrar alguém se estouram espalhando os patógenos.

A perspectiva de morrer de uma doença horrível o atingiu, ele chutou um contêiner vazio e logo depois se arrependeu,  ele pensou que devia manter o controle, afinal ele era o líder ali, devia dar o exemplo.

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No Planeta Ukar

As nuvens de poeira se levantam do chão. Nos últimos dias os ventos estavam fortes e o Quatro Braços evitou de sair ao ar livre. Pelos monitores ele acompanhava a movimentação na base. Ele via os autômatos e havas trabalhadores montando as tubulações que trariam água para a base. Via cápsulas que chegavam de Torix com suprimentos serem recolhidas, e outra infinidade de atividades.

Então o alerta de cápsula desconhecida saindo do hiperespaço tocou. Logo Dora fala pelos auto falantes da sala:

-  A cápsula está transmitindo, é estranho que não a detectamos nos radares,  nem vimos o flash da saída do hiperespaço. Recebendo os dados, são muitos, foram enviados por nós do futuro. Aguarde um pouco, tenho que processar, é muita coisa.

O Deus TuloOnde histórias criam vida. Descubra agora