Capítulo 52 - Quarentena

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No Planeta Ukar

Os ventos se reduziram momentaneamente e o Quatro Braços aproveita para sair das instalações subterrâneas e ir até uma plataforma de pouso. Lá estava a sua nova nave atmosférica, era um levitador que havia sido modificado e equipado com uma cabine grande o suficiente para acomodar o grande alienígena.  Infelizmente os sistemas de armas tiveram que ser retirados para reduzir o peso do veículo, mas como a utilização dele seria apenas para o simples transporte do crow não havia problema.

A decolagem vertical foi totalmente silenciosa, a nave conseguia inverter a atração gravitacional do planeta e usá-la para se impulsionar pela atmosfera. Quando ela se elevou acima dos paredões de rocha da grande trincheira, ela se impulsionou horizontalmente para a região de saída do hiperespaço daquele planeta. A aceleração fez o Quatro Braços ficar colado a poltrona. Em poucos minutos chegaram ao seu destino.

Enquanto a nave manobrava para aterrizar em um trecho plano o Quatro Braços avistou o grupo de quatro autômatos bípedes se aproximar.  Eles foram os primeiros a chegar ao local de pouso da cápsula. Há alguns minutos Dora havia avisado que a cápsula possuía apenas cinco centímetros de diâmetro.  O Quatro Braços não ficou tão surpreendido assim, ele próprio pensava em ter teletransportadores menores para mandar pequenas cápsulas com mensagens.

Um dos autômatos carregava a pequena cápsula e depois do pouso da nave atmosférica a entregou para o Quatro Braços, nesse instante a voz de Dora saiu pelos autos falantes do painel da nave.  

-Sabe a próxima janela de envio temporal, da ideia de mandar humanos, esqueça, não vai dar certo, vão se perder no hiperespaço ou outra coisa qualquer.

-Certo, mas por que eu deveria esquecer? Eu nem conseguiria fazer isso? - Perguntou o Quatro Braços.

-É só uma expressão dos humanos, quer dizer deixe pra lá. - respondeu Dora.

-Eu sempre falo para você parar com essa mania de falar como os humanos, eles usam a própria língua de maneira muito confusa. - disse o Quatro Braços.

-Bem, como já sabíamos o envio veio do futuro, no sistema de medição de tempo dos humanos ela veio de dez anos e três meses no futuro, e na verdade ela chegou em um planeta inabitável.  Vieram apenas quatro cápsulas. Em uma delas veio um mini teletransportador, um aparelho esférico com 25 centímetros de diâmetro, o qual enviou essa micro cápsula para cá. E ainda tem mais, temos que atacar uma base dos Kleo, onde eles estão usando as soldados humanas capturadas para fazer armas biológicas contra os humanos. Se não os impedimos eles vão acabar com quase todos os humanos da galáxia e depois com o que restou dos Stall. Parece que os humanos já atacaram os Stall com armas biológicas. Nossos ex-aliados não estão perdendo tempo.

O Quatro Braços ficou pensativo por alguns instantes e depois disse :

-Precisamos organizar esse ataque, o que tem nas outras capsulas?

-Tem alguns componentes de teletransportadores, se os usarmos em nossos equipamentos poderemos fazer envios que vão chegar ao seu destino sem a emissão de luz e radiação que acontece normalmente, ou seja não serão percebidos pelo inimigo. Eles são vitais para fazer um ataque surpresa, precisamos virar o jogo capturando um Kleo com vida. - disse Dora.

Os crows normalmente não tem emoções que possam ser percebidas, mas a possibilidade de colocar as mãos em um dos Kleo com vida afetou tanto o Quatro Braços que a pressão sanguínea dele aumentou e sua respiração acelerou. Dora notou a mudança de espirito de seu aliado e disse:

-Claro que vamos fazer de tudo para por a mão em um desses filhas da puta, mas não vai ser fácil, e no fim pode não dar certo.

-Sim, é verdade. - disse o Quatro Braços.

-E tem outra coisa. - disse Dora.

-O que é? - disse o Quatro Braços.

-Em uma das cápsulas veio uma soldado humana. Ela é parte importante da missão, se preparou por meses para a invasão da base inimiga, conhece em detalhes o local e o plano. Ela liderará o grupo de incursão dos humanos. Os Kleo ficam sempre perto de um teletransportador, se não forem pegos totalmente de surpresa eles vão fugir.

-Certo, vamos mandar resgatar a soldado e os equipamentos no planeta inabitável e vamos fazer ua reunião com os humanos. - disse o Quatro Braços.

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No Planeta UH 9536

O blindado estacionou em um vale, o local estava deserto, eles iriam esperar ali pelo pessoal que instalaria o centro de quarentena. Denise estava com seu terminal portátil operando o drone terrestre, ele também estava se dirigindo para o vale, ele trazia com os seus pequenos braços mecânicos os restos do animal que se estourou. Nas últimas  horas os outros drones haviam achado outros três animais e eles também se estouraram, seus restos também foram recolhidos e estavam sendo trazidos.  Dessa forma metade da tripulação do blindado está com os olhos fixos em telas para dirigir os drones.

Cíntia Patrícia continuava monitorando as cameras e sensores do blindado, seus olhos ardiam, porém ela não ousa se distrair por um único instante, afinal a vida de todos no veículo dependiam dela. Sheila, uma soldado negra, a melhor atiradora do grupo se aproximou e disse:

- Deixa que eu assumo um pouco, vai descansar, você está precisando.

- Certo, eu preciso mesmo me levantar um pouco, desgrudar a minha bunda dessa cadeira. – disse Cíntia Patrícia sorrindo.

Cintia se levantou, ficar de pé foi ótimo, mas infelizmente  ela não podia sair do veículo para dar uma caminhada.

Os minutos foram passando, os drones chegaram e depois o primeiro veículo com médicos e cientistas, eles usavam trajes protetores lacrados e com suprimento de oxigênio.

Depois do lanche de biscoitos e bebida láctea Cíntia Patrícia sentiu vontade de fazer xixi. Ela foi até a lateral do veículo e pegou um “saquinho” em um compartimento. Então foi até a parte de trás do blindado. Os demais soldados evitaram olhar para Cíntia enquanto ela abaixava as calças e urinava no saquinho, o qual possuia um sistema especial de lacração, o qual não deixava o mal cheiro escapar e permitia o armazenamento dos dejetos até que pudessem ser descartados de forma segura.

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No Acampamento Central a movimentação era intensa, todos estavam empenhados na preparação para tornar aquela base pronta para enfrentar um ataque com armas biológicas. As barracas estavam sendo preparadas para serem lacradas hermeticamente e os trajes de proteção estavam sendo desembalados e deixados prontos para uso.

Jordão se reuniu com Calixto e Jurandir na centro de comando. Ele estava chateado por ter que adiar o interrogatório de Priste mais uma vez. Mas afinal ele sabia que a ameaça dos kleo no momento superava a ameaça Stall. Ele começou a reunião dizendo:

- Eu e meus assessores achamos melhor evacuar vocês, as IAs Stall e Priste para um local seguro.

- Certo chefe, vou preparar tudo para o transporte. – disse Jurandir, ele não escondia o alivio de sair daquele planeta. Ele não gostava nada de correr riscos, achava que isso era papel dos militares.

- Não é melhor evacuar todo mundo? antes que esses animais disseminadores de patógenos se espalhem, ou que outra invasão generalizada aconteça?  – disse Calixto demonstrando estar chocada com a situação em que estavam, ela não conseguia deixar de imaginar os soldados humanos morrendo em agonia, vítimas de doenças terríveis como as que eles mesmos tinham usado contra os Stall.

Jordão respirou fundo e disse:

-  Não podemos, temos que ficar e resistir de qualquer forma. Se o inimigo dominar esse planeta ele pode chegar a Atlas, e depois ir dominando nossas colônias. Agora mais do que nunca nossa presença militar aqui é fundamental e vai ser reforçada. Nós sempre estivemos preparados para uma guerra biológica, podemos lidar com isso. Penso inclusive que devemos começar imediatamente a pesquisa de patógenos que possam ser usados contra os crows, havas e qualquer outra espécie que possa ser considerada um risco.

Calixto ficou chocada e pensou consigo mesmo: “ só as máquinas vão sobrar no final dessa guerra”.

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