O Deus Tulo

Capítulo 54 - Uma Longa Reunião

No Planeta Matter

Amanhecia mais uma vez na improvisada base do Planeta Matter, mas nesse dia a movimentação era totalmente diferente. Normalmente a maioria dos militares ainda estaria dormindo. Mas na noite de ontem uma cápsula havia chegado de UH 9536, ela havia transmitido uma mensagem informando sobre os pequenos animais disseminadores de patógenos que haviam chegado nas mini cápsulas.

A comandante Aline ordenou que todos passassem a noite preparando a base, lacrando as barracas e abrigos e preparando trajes lacrados com suprimentos de ar próprios. Parte do pessoal estava sendo transferido para os prédios que o pessoal do Quatro Braços havia abandonado.

A patrulha que havia encontrado a mini cápsula e os que estiveram em campo nas últimas horas antes da descoberta das mini cápsulas estavam em isolamento por cautela.

A Comandante Aline estava em seu alojamento quando o comunicador emitiu uma notificação, era uma chamada de áudio marcada como “urgente” e vinha da médica que se chamava  Shiva. Aline atendeu a chamada e Shiva disse:

- Comandante, o pior aconteceu, um dos soldados que estava no isolamento está apresentando sintomas de uma doença desconhecida. Ele está com dificuldade respiratória e manchas exóticas pelo corpo.

- Mas eles nem avistaram os tais dos animaizinhos disseminadores. – disse Aline.

- Mas se esses bichos estouram espalhando os patógenos no ar, o vento pode levá-los por centenas de metros. Não é necessário estar perto deles para ser contaminado. – disse Shiva.

- Que merda, já estou indo para o isolamento.

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No Planeta Ukar

A reunião entre os humanos e o Quatro Braços e a IA Dora durou horas.

A explanação do Quatro Braços foi muito detalhada. Ele foi narrando sobre a descoberta dos pedaços de estátuas na base Stall, e de como aquilo o fez imaginar sobre a possibilidade das viagens no tempo serem possíveis. Falou sobre a viagem feita pela cópia de Dora, a qual viajou do futuro para o passado, e montou estruturas em asteroides de um sistema solar distante, onde ela realizou mineração e construiu um exercito. Falou que pensavam em fazer um envio temporal com humanos, porém desistiram. Abordou a questão sobre a suspeita que os kleo também possuam a tecnologia de viagens no tempo, ou que virão a tê-la no futuro, o que na prática é quase a mesma coisa. E finalmente sobre a última micro cápsula que havia chegado e sobre o plano de tomada da base kleo e sobre a soldado humana que iria comanda-la.

Os únicos que tinham conhecimento de parte do que foi revelado eram Esther, Carlos e Nina, eles iriam revelar o que sabiam para o resto do grupo, um de cada vez, mas aí veio aquela reunião.

A primeira a saber foi Esther, para poder interagir com a criança Stall capturada. Mas mesmo assim ela não sabia que uma cópia de Dora veio do futuro para um asteroide no passado.

O Quatro Braços viu nos rostos dos humanos que eles estavam tendo dificuldade em assimilar aquelas informações. Notou também desconfiança quando falou sobre ele ser uma divindade para os Stalls, então ele disse:

Para aqueles que acham que eu posso ser um Stall eu digo que vocês não sabem analisar a situação. Não veem o fato óbvio de que se eu fosse um Stall vocês teriam perdido essa guerra a muito tempo.

Então Ismael disse:

- Mas você tem que admitir que se você, ou uma versão de você de outra linha temporal, não tivesse interferido na história dos Stalls, nosso inimigo não iria existir, seriam uma raça escrava de outra raça primitiva. Não teríamos tido todas essas décadas de sofrimento.

O Quatro Braços pensou um pouco e disse:

- Bem, o que teria ocorrido se a minha versão de outra linha temporal não tivesse voltado para o passado dos Stalls? Já pensei sobre isso. É claro que a sua raça teria mais algumas décadas de paz, mas isso até o dia que encontrassem com os hava. Vocês não iriam ser militarizados como são agora. Talvez conseguissem lidar com os havas mais primitivos, mas depois viriam os Rivas, Crow/havas, havas avançados, e tudo mais. No final vocês seriam mais uma conquista dos kleo.

- Certo, então vamos admitir que “foi melhor assim”. Mas e agora, podemos deixar de existir a qualquer momento se os kleo mandarem alguém para o nosso passado? Que merda. – disse Ismael.

- Infelizmente sim, mas também podemos lutar essa guerra temporal. Mas como você disse a possibilidade de deixar de existir a qualquer momento é real. – disse o Quatro Braços.

Depois de uma pausa o Quatro falou novamente tirando os humanos de seus pensamentos sombrios, ele disse:

- Nesse momento autônomos da Dora estão no planeta inabitável resgatando os equipamentos que vieram do futuro e a soldado humana que liderará vocês. Eles vão montar um teletransportador para enviar tudo para cá. Temos pouco tempo, estou enviando para seus terminais o plano geral do ataque, estudem eles, assim que a sua nova comandante chegar vamos convocar vocês para a reunião de preparação

Carlos estava contrariado e disse:

- A questão da liderança dos humanos nesta missão tem que ser discutida, a liderança da soldado que veio do futuro só vai ser aceita se o grupo estiver de acordo. E afinal, quem é ela?

- Vamos deixar para discutir essa questão quando ela chegar. O nome da soldado não consta na mensagem, mas logo ela estará entre nós.

Os humanos estavam sentindo o desconforto de tomar conhecimento de que a realidade era bem mais complicada e perigosa do que eles imaginavam a algumas horas atrás.
Então Dora disse:

- Mais alguma questão antes de encerrarmos a reunião?

Então Ismael disse:

- Do que são feitos esses biscoitos?
Dora respondeu prontamente:

- Nos asteroides em que eu mantenho instalações eu estou fazendo pesquisas para alimentar os humanos. Eu construí tanques onde eu cultivo algas marinhas do Planeta Matter. Elas crescem muito rápido e são muito nutritivas, principalmente os nódulos que elas têm entre as raízes, que são ricos em carboidratos. Esses biscoitos são fabricados com a farinha dos nódulos. Agora no final da reunião vou servir outro alimento que estou desenvolvendo.
Enquanto Dora falava os autônomos entraram na sala com bandejas contendo pequenos tubinhos secos. Os humanos se serviram e começaram a comer, então Dora diz:

- Esses são vermes marinhos, eles também vivem do Planeta Matter. Eles comem os restos das algas e são uma excelente fonte de proteínas. Então eles são desidratados e se tornam um alimento que dura anos sem a necessidade de refrigeração.

Ismael fez uma cara de nojo, ele já havia comido a metade de um tubinho, então Esther disse para ele:

- Para de frescura e coma o resto do seu verme, não desperdice comida, você vai precisar de energia pra gente ir lá resgatar a Maristela e a Simone, e pegar o filha da puta de um kleo.

- Não consigo deixar de imaginar esse bicho vivo e se mexendo, cheio de gosma. – disse Ismael.

- Pense que ele é um salgadinho de milho, eu achei ele gostoso.

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No Asteroide de Mineração FK 625

A porta da cabine de banho se abre e Calixto sai para o vestiário. Ela está de volta a FK 625 há apenas algumas horas. Depois de se certificar que o prisioneiro Stall conhecido como Priste estava seguro no laboratório, ela resolveu tomar um banho antes de tentar dormir um pouco. Ela abre um armário para pegar suas roupas quando Bob entra no vestiário. Ele cumprimenta Calixto e apesar da tristeza que sente, não pode deixar de reparar na beleza do corpo nu de Calixto.

- O que você tem Bob?  Está com uma cara péssima. – pergunta Calixto.

- Dois dos clones Stall estão apresentando sintomas de doenças degenerativas, eles não vão durar mais algumas semanas apenas, e será uma morte sofrida, talvez seja melhor uma eutanásia.

- Sinto muito por isso, também tenho notícias ruins lá de UH. – disse Calixto enquanto olhava ao redor para se certificar que estavam sozinhos, então ela continuou:

- Lá aparece.....

Calixto foi interrompida pelo alarme que toca de forma ensurdecedora. Então ela ficou mais surpreendida quando ouviu a mensagem que veio pelos alto falantes enquanto o alarme tocava, ela dizia:

- Estamos sendo atacados, equipe de segurança para os postos de batalha, os demais vão para os abrigos internos.