Capítulo 33

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NEGAN

Posso lembrar muitas coisas de quando eu era criança. O cheiro da grama. A maneira como a água caia contra minha pele após um longo dia brincando. A forma como as folhas dançavam ao vento. O calor do sol depois de um dia chuvoso. A maneira como meus amigos riam de algo engraçado. Os sorrisos dos entes queridos. O toque quente do sol quando queima a pele. A picada de uma lâmina. A dor de um soco. O calor de uma lareira.

No entanto, agora, enquanto eu estou sentado aqui não posso sentir nada disso. Sentidos ou emoções. Lentamente, minhas lembranças estão exatamente isso, desaparecendo.

Me sinto frio, sem vida, sem calor ou conforto. Apenas o chão frio e duro embaixo do meu corpo entorpecido. Meu objetivo era matar esse maldito e fazê-lo sofrer. Eu fiz e não me senti melhor, pelo contrário. Essa era a confirmação, a assinatura que eu a havia perdido.

Não queria acreditar que ela tinha ido embora. Continuei esperando, rezando para que ela voltasse para mim. Emma era meu tudo, afinal. Era. Foi.

Eu me sinto sozinho e vazio. Eu sinto meu próprio soluço e as lágrima salgadas quando elas caem dos meus olhos, mas tudo o que posso ouvir é o seu grito de agonia enquanto é machucada. Ele ecoa uma e outra vez na minha mente, como um pesadelo que não vai desaparecer.

Eu e Emma éramos duas metades de um ser. Se você tirasse um, o outro cairia. E eu caí.

Eu não conseguia ouvir nada, exceto o barulho alto nos meus pensamentos. Uma vez que meu lado racional voltava a funcionar, todo o inferno se soltou. 

Um rosto veio à minha mente, um cheio de dor, arrependimento, tristeza, ódio e amor. Mas eu também vi amor e fez meu coração doer. Eu queria pedir que me desculpesse. Eu queria dizer muitas coisas. 

Não posso suportar pensar que aquela foi a última vez que vi seus olhos, que eu juro que toda vez que eu olhei para eles era como se estivesse me afogando e ela fosse minha âncora.

Então sua voz seguiu. Eu não podia falar ou olhar de onde vinha, mesmo que eu quisesse. Minha respiração foi tirada de mim. Quando eu tomei coragem de levantar e olhar de onde vinha, o que eu podia fazer era olhar para aquela imagem a minha frente, esperando que meus olhos mostrassem que era só mais um delírio meu, mesmo eu dando tudo para que fosse real.

Não pude pensar. Eu ainda sentia aquela terrível dormência dentro de mim que não me deixaria reagir, como se alguém me tivesse congelado no tempo. Eu sabia que não era capaz de caminhar, mas mesmo que eu tivesse sido fisicamente capaz de fazê-lo, eu ainda não teria conseguido. Eu a tocaria e ela desapareceria novamente. Aqui, parado, eu pelo menos tinha a chance de vê-la mais uma vez.

A sala estava meio escura, mas eu não me movi para ascender uma lâmpada. Eu não queria correr o risco de fazê-la desaparecer de alguma forma.

O meu transe é quebrado pelo som do meu nome sendo chamado novamente.

Era como uma queimadura na garganta, como se eu estivesse morrendo lentamente e a primeira coisa tirada de mim fosse minha voz. Eu não conseguia responder.

EMMA


Nunca vou esquecer o que vi quando abri aquela porta. Ele... aquilo estava algemado em uma cadeira, totalmente desfigurado. Um monstro, exatamente o que ele era.

Meu coração caiu aos meus pés quando vi Negan, sentado em um sofá, de costas para mim. Ele estava inclinado para frente, os antebraços apoiados nos joelhos, a cabeça baixa, olhando para o chão. Não precisava olhá-lo para saber como ele estava. A mutilação a minha frente mostrava a quantas ele estava.

Depois do Recomeço | Negan | LIVRO DOIS de Depois do Fim Onde histórias criam vida. Descubra agora