Capítulo 5

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A bruxinha em pele de cordeiro abre um sorriso e entra na sala.

– Oi sobrinha. – Nem me dou o trabalho de responder. Ela se aproxima do Caleb e lhe dá um beijo nos lábios, sinto que meus olhos quase saltam do rosto.

Ele se afasta rapidamente.

– O que foi? – Ela pergunta.

– Me acompanhe por favor. – Ele diz e sai com a mão nas costas dela.

Que porra é essa? Então o novo namorado dessa mulher é ele? Como ela conseguiu? Eu não acredito que um homem como ele está com uma mulher como ela. Sonsa, falsa, prepotente, egoísta e ridícula.

Mas se ela acha que vai sair por cima nessa, está muito enganada. Eu vou voltar com a aposta e vou agarrar esse homem e mostrar pra essa mulher que um dia chamei de tia, com quantos paus se faz uma canoa. Agora vou dar motivos pra ela me xingar de puta, piranha e galinha como sempre fez.

Esse homem vai comer na minha mão ou não me chamo Antonella Muniz.

Minutos depois ele volta pra sala e fecha a porta.

– Desculpa por isso.

– Nada não titio. – Digo de forma sarcástica e ele me olha com uma expressão muito séria no rosto.

– Eu exijo respeito, sou seu professor.

– Diz isso quando sua namorada não interromper nossa aula e te agarrar na minha frente.

– Isso já foi resolvido e não voltará a acontecer. Agora vamos voltar a matéria. – O resto da aula eu só fingi prestar atenção, não fiz mais nenhum comentário.

Quando o sinal finalmente tocou eu peguei minhas coisas e sai, mas fui parada com a voz dele.

– Antonella? – volto e levanto uma sobrancelha. – Te vejo na sexta-feira.

Não digo nada e continuo andando. Quando chego na sala todos já estão em seus devidos lugares, jogo a mochila na minha mesa e olho pros meus amigos.

– Eu quero a aposta, mesmo se vocês estiverem fora. – Falo séria, Sam como uma naja se arrasta até meu lado e abre um sorriso diabólico.

– Se você pegar, você leva a aposta. E olha que legal, você tem até o final do ano letivo para isso. Estão dentro? – Isis pula na cadeira e bate as mãos super animada.

– Estamos. – Juh diz e eu abro um sorriso.

Então vamos a nova parte da aposta, eu estou resolvida a pegar esse homem.

***

No meio da aula de Educação Física meu pai me ligou, dizendo que minha mãe queria me ver. Íamos até onde ela estava internada amanhã no horário da tarde, desde então eu fiquei muito ansiosa por isso e comecei a me sentir mal.

Me sentei na arquibancada da quadra e fechei os olhos. Eu estava começando a suar, minhas mãos formigavam e meu coração batia tão rápido que eu jurava que ia morrer ali na frente de todo mundo, iria ter um ataque do coração. Isso já aconteceu antes várias vezes mas eu era mais nova, tinha tempo que nada desse tipo acontecia. Eu não queria ver minha mãe, ia ser horrível ela iria chorar, ia me culpar e me odiar como fez da última vez que nos vimos.

– Ah meu Deus, professor corre aqui. – Ouvi a voz do Sam e logo o professor de Educação Física se ajoelhou na minha frente.

– Antonella você está bem? – Nego com a cabeça e tento a todo custo respirar, mas a respiração não vem, o coração não para de acelerar e eu não paro de suar um só minuto.

– Me deixe chegar até ela. – Caleb se abaixa tomando a posição do outro professor.

– Olha pra mim, isso não é um ataque cardíaco Antonella. – Ele começa a desabotoar minha blusa do colégio e não para de repetir que eu não estava tendo um ataque do coração. – Está tudo bem, eu estou aqui para te ajudar. Respire como se estivesse apagando uma vela, vamos.

Faço como ele pediu, e começo a respirar de forma rápida como se estivesse apagando minha vela de aniversário.

– Devagar, sem pressa. – Ele diz com total paciência. E eu faço como ele pediu.

Meu coração começa a bater mais lentamente, e o meu medo e ansiedade vão embora aos poucos.

Molho os lábios com a língua e fecho os olhos só me concentrando na minha respiração.

– Isso mesmo, você está melhor? Consegue falar comigo? – Aceno com a cabeça.

– Estou melhor.

– Vamos levá-la até a enfermaria Caleb. – O diretor Jonas diz e só aí eu percebo que todos da sala de aula estão a minha volta.

E minha blusa está aberta mostrando meu sutiã preto de renda. Começo a abotoar minha blusa e me levanto os seguindo até a enfermaria.

– O que aconteceu com você hein? – Graça a enfermeira pergunta.

– Acho que tive um ataque de pânico. – Digo e me sento na maca.

– Quando chegamos lá o professor Caleb já estava com tudo sob controle. Agiu rápido Professor, já pensou em ser médico? – Graça diz e olha para Caleb que até então me olhava sem piscar.

– Não, soube como agir pois minha irmã tinha ataques de pânico no começo da adolescência também. – Ele diz.

– Antonella seu pai está a caminho, assim que ele chegar você poderá ir embora. – Jonas diz e eu concordo.

– Vem tendo isso há muito tempo? – Graça me pergunta e eu nego com a cabeça.

– Não tinha um desde que morava com minha mãe. – Ela escreve algo na prancheta e volta as perguntas.

– Tem andado estressada? Passou por algum impacto emocional, algo que saísse dos seus planos? Está sofrendo pressão em alguma situação? – Nego todas as perguntas. Estou mentindo claro.

Mas não vou dizer que fiquei assim só pela ideia de ir visitar minha mãe amanhã. Prefero me calar do que dizer a verdade. Ainda mais porque o Caleb continuava ali com uma expressão pensativa no rosto.

***

Quando meu pai chegou eu estava deitada na maca mexendo no celular, o Caleb já tinha voltado a dar aula. A enfermeira então explicou para ele tudo o que aconteceu e só aí me liberou.

Passamos a metade do caminho todo sem dizer nada, mas meu pai quebrou o silêncio pouco antes de chegarmos em casa.

– Essa é a primeira vez em algum tempo né? – acenei com a cabeça. – O que te fez passar por isso de novo?

– A ideia de ir visitar minha mãe amanhã.

– Então não vamos, não quero você passando por isso novamente só porque vai visitá-la. – Mordo o lábio inferior e aperto meus dedos uns nos outros.

– Eu quero ver ela pai, eu juro que vou me controlar. – Ele dá uma risada triste.

– Você sabe que isso não dá para controlar Antonella. – E eu sabia mesmo, quando eu tinha uns quatorze, quinze anos eu vivia tendo ataques de pânico.

Eles vinham e iam embora de repente, às vezes eu estava conversando com alguns amigos e pá, lá estava ele para me quebrar e apavorar. Sempre penso que vou morrer e em nenhum momento me vem as coisas boas do que estou passando, só as ruins, eu não enxergo mais nada só os problemas que minha mente me faz achar que vou passar. Sempre acontece quando penso em ver minha mãe ou quando estou com ela, as vezes quando fico pensando muito em uma só coisa ou quando acho que estou em total perigo.

Mas desde que fui morar com meu pai eu não tinha mais nada parecido. Preciso desligar minha mente por um tempo.

Olá, querido professor.Onde histórias criam vida. Descubra agora