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11:24AM, South Korea.

Kihyun não se preocupou em secar-se quando passou correndo pela loja e Ji o xingou rindo.
Abriu a porta e avistou Jilly lendo um livro e a mãe pensando em que cozinhar.

— Lae, sente-se, eu cozinharei hoje — Kihyun advertiu, lavou as mãos e vestiu o avental azul. Lae sorriu satisfeita.

— Em um mês, você resolve cozinhar. E por quê isso do nada? — Jilly voltou sua atenção para Kihyun, que sorriu.

— Faz um mês que moramos juntos — Lae o quis apertar.

— Faça isso mais vezes — Kihyun riu — irei ajudar Ji na loja, tome conta de Jilly — Kihyun assentiu e começou a preparar o almoço.

Rin o havia ensinado tudo que o sabe na cozinha. Defumar peixe, limpá-lo, cozinhar vegetais e escolher cada um apropriadamente.
Lembrar-se da irmã trouxe um gosto estranho em seus lábios. Respirou fundo e concentrou-se em temperar o peixe e picar os vegetais. Logo, pôs o macarrão em uma panela com água quente e esperou que fervesse para jogá-lo em outra panela e terminar o almoço.

— O cheiro está ótimo, Kihyun — Jilly comentou. Ji e Lae conversavam na sala sobre o lucro que a loja teve no mês e o que deviam melhorar. Kihyun serviu os pratos e chamou-os para degustar.

— Se você cozinhar mal, eu falarei — Ji brincou e deu a primeira degustação. Ficou paralisado por alguns segundos e sorriu em seguida — cozinhe mais vezes — Kihyun assentiu. Pelo menos aqui, eles valorizam minha comida, Kihyun pensou.

— Kihyun, se importa em ir à lavandeira pegar as roupas? — Lae indagou — pode levar Jilly com você. Ji e eu vamos resolver algumas coisas depois do almoço.

Kihyun assentiu enquanto terminava de sugar o macarrão. Lae sorriu e quando todos terminaram de comer, ela e Kihyun lavaram a louça enquanto conversavam sobre Seul. Ji ajeitava seu sobretudo no corpo e despediu-se de Jilly sorrindo. Lae apressou-se e acompanhou o marido.
Kihyun terminou de limpar a pia e pôs o pano para secar. Retirou o avental e pendurou-o no prego fincado no armário.

— Vamos, Jilly? — a garotinha assentiu.

— Podemos passar em um lugar na volta? — ela raramente pedia coisas, e agora era como se fosse o irmão mais velho. Apenas assentiu, o que fez Jilly saltar de felicidade.

A lavanderia não era tão longe, em menos de dez minutos chegariam. Kihyun tomou cuidado ao atravessar a rua com Jilly. Olhou para o lado direito e avistou aqueles dois novamente. Engoliu em seco. Olhou para o lado esquerdo e atravessaram a rua.
Ao entrar na lavandeira, Kihyun andou apressado até o balcão, enquanto Jilly distraía-se com o peixe azul do aquário.

— As roupas de Ji e Lae estão prontas? — o atendente checou alguns papéis e assentiu. Foi até os fundos e voltou com duas sacolas. Entregou-as para Kihyun, que sorriu em resposta.

Kihyun chamou Jilly e averiguou a rua: o mais alto e o mais baixo já não mais estavam ali. Ele se sentia perseguido. Quando estavam esperando a luz do semáforo ficar verde, Jilly perguntou:

— Podemos ir ao parque? — Kihyun, dado por vencido, assentiu e mudaram o rumo de seu trajeto: o pequeno parque à margem da cidade. Jilly desprendeu-se da mão de Kihyun e correu até o centro do parque — tem um evento hoje, podemos participar? — Kihyun suspirou e balançou a cabeça positivamente — é por aqui — Kihyun a seguiu e atravessaram vários brinquedos. Jilly devia estar esperando há muito tempo esse evento, para saber onde ele está. Ou talvez já tivesse vindo e esperava outra ocorrência. Jilly parou em uma pequena fila, e ao examinar, Kihyun notou ser um evento para garotas.

— Você vai pintar seu cabelo? — Kihyun murmurou. Jilly assentiu — e você tem o dinheiro? — Jilly sorriu.

— É um evento que as meninas do salão que minha mãe frequenta fazem. É de graça, Kihyun — ela é esperta. Kihyun sorriu — e você vai pintar o cabelo comigo — o sorriso dele se desmanchou.

— O quê? — Jilly acompanhou o movimento da fila, e Kihyun acompanhou o movimento de Jilly.

— Isso que você ouviu, Kihyun — ela sorriu. Nervoso, ele tentou forçar um sorriso.

— De que cor?

— Rosa.

Kihyun deu graças à Deus por estar com duas sacolas nas mãos e não duas facas. Respirou fundo quando outra garota saiu da tenda com cabelo pintado.

— Essa tinta sai, Jilly? — Jilly assentiu e deu leves gritinhos quando passaram mais alguns minutos e uma das mulheres responsáveis chamou ela e Kihyun para dentro.

Kihyun contorceu os lábios e tentou buscar a calma. Ji certamente zombaria dele quando chegassem em casa.

[...]

Jilly ria de como Kihyun ficou fofo com aquela cor. No fim, Jilly apenas pôs algumas mechas roxas em seu cabelo pouco escuro. Kihyun achou que roxo combinava com ela.
Kihyun parou de andar quando teve uma sensação estranha. Puxou Jilly pelo antebraço, deixou as sacolas no chão e respirou fundo.

— Não saia daqui — Kihyun caminhou até a porta da loja: estava completamente destruída tanto por dentro quanto por fora. Seus olhos encontraram um corpo — Lae — abriu a porta velozmente e andou até ela. Uma adaga estava fincada em seu pescoço. Kihyun retirou a adaga dali e caminhou até os fundos.

A casa estava completamente arruinada: mesas, cadeiras e louças todas no chão, quebradas. Ele andou cautelosamente até o corredor. Abriu porta por porta e encontrou o corpo de Ji deitado na cama. O lençol estava coberto de sangue.
A raiva percorreu o corpo de Kihyun, que ouviu o grito agudo de Jilly e correu para a entrada. Fora uma péssima ideia deixá-la.
Kihyun congelou: dois soldados do Norte. O Norte o estava perseguindo.
Sem sequer hesitar, o soldado cortou a garganta da pequena Jilly, despertando o ódio que Kihyun guardou por um mês. Ele atirou a adaga no coração do guarda que matou Jilly e foi acertado por uma bala no braço. Chutou a cabeça do soldado diversas vezes, depois recuou. Escondeu-se atrás de um muro e respirou fundo.
Seu braço sangrava bastante, porém não sentia tanta dor graças à enorme quantidade de adrenalina exalada por seus poros. Seus olhos iam da direita para a esquerda, desesperados.

— O Norte não se esqueceu de você, Kihyun — Kihyun molhou os lábios. Buscou o fôlego e tentou estancar o sangue de seu braço. Ele esgueirou-se e levantou-se.
Sua visão foi ficando translúcida e turva.
Seu rosto encontrou-se com as pedrinhas do chão em questão de segundos. Já não mais enxergava os soldados.

[...]

Kihyun abriu os olhos e ainda sentia aquelas coisas pontiagudas perfurarem seu rosto pálido. A dor em seu braço latejou, e ele viu que estava enfaixado. Levantou-se e, ainda sentado, buscou com os olhos algum sinal de vida. Tudo o que encontrou foi o corpo da pequena Jilly no chão, e o dos dois soldados.
Ainda tonto, tentou não cambalear. Suas pupilas dilataram quando viu o quão pálido estava o corpo de Jilly. Andou até ela, ajoelhou-se e observou seu rosto gelado e concluiu que seu sangue fora drenado, bem como o dos outros dois.
Kihyun respirou fundo.
Se odiaria pelo que faria em seguida.
Ele se levantou e andou até a loja: abriu o caixa e retirou todo o dinheiro, até mesmo o dinheiro dos bolsos de Ji.
Kihyun jogou algumas roupas na mochila, sobrepôs-a no ombro e deu um passo para fora da loja.
De um dos bolsos da mochila, retirou uma das armas que roubou de Ji e atirou no letreiro, o fazendo cair.
Kihyun estava cansado de fugir, e a tática do suicídio cruzou sua mente inúmeras vezes. A tarde começava a cair, e o corpo de Kihyun já pensava em desistir de tanto andar. O centro de Seul parecia maior que o normal.
Seus fios rosados tampavam sua visão quando o vento cuspia em seu rosto. Ele respirou fundo ao reconhecer aquele caminho: caso seguisse reto e virasse à próxima direita, chegaria à Traveller. Kihyun precisava comer, tomar café e descansar. Queria fechar os olhos e jamais acordar.
Seu corpo foi se tornando pesado, e Kihyun já não mais sabia se aguentaria um segundo a mais em pé. O ferimento em seu braço ardia mais do que podia cogitar. Ao sentir-se enfraquecer, seu corpo pequeno foi envolto pelos braços levemente fortes, e o cheiro suave do perfume misturado ao clima ameno o tomaram. Kihyun permitiu-se fechar os olhos e ser carregado para um lugar que não sabia o nome nem a direção.

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