Tudo errado, tudo fora do lugar

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— Você foi demitida? — Bianca vociferou, como sempre fazia, saltando subitamente do sofá onde estava comendo uma travessa de cereal.

Coloquei as duas mãos na lateral de minha cabeça, tentando abafar que seus gritos entrem em meus ouvidos como uma tortura. Odiava que gritassem perto de mim.

— Não grite, por favor — pedi.

— Me desculpa, estou surpresa. Você não durou nem três meses naquele emprego, Paola. É isso mesmo? Logo você, futura diretora da Vitale e dona de uma parede de diplomas?

Parecia uma coisa absurda com ela falando daquele jeito.

— Isso era para fazer eu me sentir mal? — Apontei em sua direção como se estivesse apontando para a maneira com que ela estava falando. Pelas suas palavras, parecia uma coisa surreal, absurda demais para acontecer.

— Lógico que não, só estou... surpresa mesmo.

— Eu sei que parece algo absurdo, mas o problema não está em mim e sim, naquele homem, naquelas pessoas. Eu não sei nem como consegui suportar tanto tempo dentro daquele lugar, estou a beira de um surto. — Gesticulei com os braços, tentando demonstrar como eu estava alterada. — Trabalhar com aquele homem é o mesmo que trabalhar com o próprio diabo, é insuportável.

— Como assim?

— Para começar, ele pediu o meu e-mail e meu número de celular apenas para me mandar mensagens, dizendo que quer café, dizendo que quer isso, que quer aquilo. Ele estava me fazendo de empregada, Bianca! — Soei indignada. — Não suportava mais, minhas pernas nunca doeram tanto na minha vida, nunca odiei tanto um ser humano antes.

— E o que aconteceu hoje para ele demitir você? Deve ter sido algo sério, considerando o seu... descontrole. — Olhou-me de cima a baixo.

— Não estou descontrolada — afirmei, indignada, e Bianca arqueou uma sobrancelha, olhando na direção das minhas mãos. Só então eu percebi que estava tremendo. — Estou tremendo de raiva. — Passei a mão pela testa, caminhando até a cozinha, onde eu separei um copo para beber água. Bianca me seguiu. Bebi três copos de água para tentar me acalmar. — Hoje... Hoje, foi a gota d'água. Eu não piso mais naquele lugar! — Sentenciei, bebendo mais um copo de água.

— Conta logo! O que ele fez?

Respirei fundo, começando a contar a história desde o início, quando encontrei as irmãs mais cedo, Megan durante o almoço e a merda do evento com o cappuccino.

— Eu não acredito que fez isso, Paola! — Bianca entrou em uma crise de risos tão intensa, que ela começou a ofegar. Encarei-a com ainda mais raiva. Eu estava uma pilha de nervos, em um nível de descontrole que nunca tinha sentido antes, e ela estava rindo? Que espécie de amiga ela era? Per Dio, estava cercada por malucos! — Suas vinganças são sempre as melhores, eu deveria sentir medo? — Ela não estava me levando a sério.

Apoiei as duas mãos sobre a ilha da cozinha, encarando com um bico nos lábios e os olhos semicerrados. Se ela continuasse a rir de toda aquela situação, eu não seria apenas vingativa como também assassina.

— Deveria.

Ela riu ainda mais.

Deixei meus ombros caírem e deslizei pela ilha até sentar na cadeira. Apoiei meus cotovelos em cima da superfície branca e escondi meu rosto entre as minhas mãos.

— Pare de rir, Bia.

— Eu não consigo, isso é cômico! Quer dizer que ele conseguiu mesmo tirar você do sério? Não acredito que desceu tua postura por causa de um homem? Céus, eu vivi para ver isso. Como se sente, Paola, sabendo que foi demitida por um homem menor que você?

Insensato Desejo | Série Dono do Meu Desejo #1Onde histórias criam vida. Descubra agora