Não importam as brigas, quando se ama, tudo se ultrapassa.

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J o h n  M i l l e r

Depois da morte do meu pai, minha mãe não quis ficar comigo e com meu irmão. Ela nos deixou para sermos criados no Brasil. Eu cresci em um ambiente muito harmonioso, mas em nenhum momento deixei de questionar os rumos que a minha vida tinha tomado. Meu pai tinha sido tirado de mim e minha mãe não me queria. Meu avô, que era um dos homens que eu mais amava, perdeu minha guarda para minha mãe, que me deixou na casa da minha avó.

Fernanda tinha sido apenas uma paixão. Eu fui muito apaixonado por ela e, embora pareça impossível, ela conseguia ser pior do que a Paola. Ela queria tudo no tempo dela, queria usar as roupas mais cara, queria usar os sapatos mais caro, queria ter tudo que era caro, sendo que nem dinheiro ela tinha. Por ter olhos azuis, se achava uma verdadeira rainha no colégio e, por ser popular, se achava no direito de humilhar qualquer outro estudante.

Mas como eu sempre fui muito apaixonado por ela, seus erros se tornaram acertos.

Eu recebi a carta do meu avô em março 2003, mas só iria viajar em junho. Fernanda engravidou no começo de abril e eu me perguntei o que tinha dado de errado, pois eu nunca tinha transado sem camisinha. Em junho viajei com a promessa de que voltaria para buscá-la, mesmo conhecendo a mim mesmo e sabendo que eu jamais iria querer aquele bebê. Mais tarde, quando eu já estava há alguns meses no Canadá, ela confessou que tinha furado centenas de camisinha.

Quando questionada sobre o motivo, ela alegou que eu estaria no Canadá, que eu a largaria, que eu me apaixonaria por outra mulher mais bonita do que ela, que eu a trairia e que eu jamais voltaria para buscá-la, e que o bebê foi a melhor forma que ela encontrou de nos mantermos sempre juntos, a forma que ela encontrou de eu nunca escapar dela — palavras dela. Mas ela cometeu o maior erro, pois eu nunca, em toda minha vida, quis ser pai e sempre abominei essa ideia.

Eu não abriria mão do meu sonho para ficar com ela no Brasil. Minha vida estava no Canadá, porque, estando no mesmo lugar que o meu pai, estando no mesmo escritório e estando na mesma cadeira, eu me sentia perto dele. Nunca mexi em um móvel daquele escritório e gosto dele do jeitinho que está. Eu conseguia sentir o meu pai comigo estando próximo das coisas que ele gostava e convivia.

Mesmo que quisesse ser pai, jamais saberia como ser.

Voltei para o Brasil um pouco antes de ser conhecido mundialmente e terminei tudo com Fernanda. Ela gritou, me jogou um vaso, tentou me bater, disse que me denunciaria por abandono e trancou as portas de sua casa, alegando que eu jamais sairia por aquela porta enquanto ela estivesse viva. Sua mãe chegou no mesmo minuto e, depois de conversar com ela — sem a Fernanda por perto —, me deixou sair.

O dinheiro passou a reinar na minha vida e eu passei a viver entre mulheres bonitas. Nenhuma mulher, além de Fernanda, tinha despertado algum sentimento em mim capaz de me fazer pensar além. Contudo, eu ainda tinha aquela vontade de casar dentro de mim. 

Nunca tinha me cansado dessa vida, e simplesmente e sem nenhum remorso, eu nunca mais voltei para buscar Fernanda. Passei a enviar cinco mil dólares todos os meses para ela. No Brasil, com a variação do preço do dólar, ela sempre recebia em torno de quinze mil a dezesseis mil e quinhentos reais por mês. Não era o suficiente para suprir seus luxos, mas era o suficiente para sustentar ela e o bebê.

Eu nunca me interessei em conhecer o bebê, que já devia ter uns treze anos — quase um adolescente. E, pelo que minha vó um dia me contou, ele era idêntico a mim. Parecia uma cópia minha e em nada mudou, pois até o seu jeito de falar e de andar era parecido com o meu. Inclusive, ele gostava das mesmas coisas que eu e abominava todas as coisas que eu abominava, e era tão popular na escola quanto eu era nessa idade.

Insensato Desejo | Série Dono do Meu Desejo #1Onde histórias criam vida. Descubra agora