Cada nota deixa uma lembrança, mas é a melodia inteira que conta uma história.

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Abri a porta de entrada com muita cautela e fechei, fazendo o mínimo de ruído possível. Tinha sido tão perfeito estar com Pietro que eu não conseguia desviar meus pensamentos para outros momentos senão os que ele serpenteou seus lábios sobre os meus. Eu ainda podia sentir suas mãos acariciarem cada parte do meu corpo com suavidade e dizer, infinitas vezes, em meu ouvido, o quanto eu era bonita.

Saltitei até a cozinha, sentindo a fome apertar. Cantarolei Can't Help Falling In lovo, enquanto devorava uma granita de limão. Assustei-me com a luz da cozinha sendo acesa de forma abrupta e virei-me, procurando o autor do meu susto. Dominique estava parada, encarando-me com dúvida.

— Paola? O que está fazendo acordada? Pensei que estivesse dormindo. — Se aproximou e parou ao meu lado. Seus olhos encararam com repulsa a granita, que eu pensei que a taça fosse quebrar. — Sabe que eu não gosto que você coma tantos doces. Além de fazer mal à saúde, te engorda.

Mesmo não tendo escutado nenhuma das palavras que saíram de sua boca, assenti várias vezes à medida que a imagem de Pietro permanecia intacta em minha memória.

— Você está muito sorridente, visto que odeia que seu pai viaja e fique tanto tempo fora. O que aconteceu para você estar assim?

Virei-me para ela, pensando se contava ou não.

— A senhora promete que não ficará chateada?

Ela assentiu.

Ingênua, contei toda a verdade para ela. Contei sobre Pietro e a sua família, contei como nos conhecemos quando eu ainda tinha treze anos e como tínhamos nos tornado grandes amigos. Contei absolutamente tudo e ela reagiu da maneira que eu menos esperava.

Minhas pernas ficaram lotadas de hematomas pelas várias vassouradas que ela me deu. Eu nunca pensaria que Dominique me bateria por eu ter perdido a minha virgindade e ela não fez apenas aquilo. Depois de me bater e me xingar de todas as formas possíveis, ela me arrastou até a sala e acordou todos os empregados.

Diante de tantas pessoas, ela me chamou de piranha, de vagabunda, de puta, de safada, de imoral e de impura. Fui chamada dos piores nomes e humilhada da pior forma que eu já pude imaginar.

Depois disso, me mandou para Londres. Cursei o último ano do ensino médio em Londres tendo aulas particulares em um colégio interno, pois assim, segundo ela, eu não teria tempo para ficar comportando-me como uma puta.

Consegui manter contato com Pietro durante todos os meses, mas nos últimos três meses ele sumiu. Ele não atendia mais as minhas ligações, parou de responder as minhas mensagens, suas redes sociais foram excluídas e todos os meios de contatos que nós tínhamos sumiram.

Voltei, após ter terminado o último ano do ensino médio, pensando que ele havia me trocado por Pietra, como muitos homens tinham feito, mas havia acontecido algo muito pior do que aquilo. Algo que eu jamais pude imaginar que Dominique fosse ser capaz de fazer.

Deslizei o dedo pela lápide, onde Pietro Russi estava esculpido. Deixei as rosas brancas no pé da lápide e sorri, lembrando-me de todas as coisas.

— Eu sinto muito, Pietro. Eu sinto muito por não ter estado aqui para te proteger de todo o mal que lhe aconteceu. Eu sinto muito por não ter impedido que isso tivesse acontecido. Eu sinto muito por tudo. Se eu pudesse voltar atrás, então você ainda estaria aqui... vivo. Infelizmente, eu não posso voltar no tempo e trazer você de volta. Eu me envergonho muito por tudo o que aconteceu, mas o máximo que eu posso fazer é lhe pedir perdão por tudo... Perdão, Pietro.

Eu não tinha sido capaz de proteger Pietro e, por esse motivo, ele já não estava mais entre os vivos, mas eu podia proteger John. Poderia custar a minha vida, mas nada de ruim aconteceria com John. Não importavam as consequências, eram muitos inocentes para que Dominique interferisse em minha vida novamente.

Insensato Desejo | Série Dono do Meu Desejo #1Onde histórias criam vida. Descubra agora