One.

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Estava com muito sono. Uma música, composta por um saxofone, ecoava pelos alto falantes da loja na qual trabalho. Quinta feira era um dos dias mais tranquilos da semana, o que não era certo para uma loja de ternos de grife como a Lorence. A falta de movimento intensificava meu cansaço físico e até mesmo mental. Os clientes, que passavam pelas enormes portas de vidro, apenas perguntavam o orçamento de algum smoking e saiam correndo por acharem os preços altos.

A Lorence é uma loja cara, alvo de grandes empresários e celebridades. Atendi James Corden duas vezes, e nas duas compras ganhei mais de quinhentos dólares só de comissão. Sem querer me gabar ou ser desumilde, mas eu sou uma excelente vendedora.

Comecei a trabalhar com dezesseis anos. Costumava ir até a Lorence para ver minha mãe, já que ela era a alfaiate e fui aprendendo sobre os trajes de cerimônia masculinos desde muito nova. Então, na primeira oportunidade, fui chamada para fazer alguns testes na loja e passei como estoquista. Ao longo dos anos, provei ser responsável e capaz de conquistar metas, hoje eu sou a vendedora com maior índice de vendas da Lorence.

— Lily? Você vai para o curso hoje? - Roney, meu gerente, me chamou do topo da escada da loja onde dava acesso ao estoque, alfaiataria e escritório. 

— E quando eu não vou? - ri.

— Preciso conversar com você antes de ir embora.

Olhei para o relógio dourado em meu pulso e vi que sinalizava ser cinco da tarde. Eu costumava saia as seis.

Depois do trabalho eu ia para a CA: Academia de Artes de Los Angeles, onde eu cursava teatro - escondido - a quase quatro anos. Minha mãe por toda a minha vida me proibiu de fazer teatro, ela dizia que eu não teria futuro sendo atriz e estaria expondo o meu corpo "Esse é o trabalho para prostitutas, meu bem, não para uma menina tão linda e amável como você."

Nunca desobedeci ou menti para a minha mãe, sempre fui uma filha exemplar. Sabia fazer todas as tarefas domésticas, nunca tirei notas baixas na escola ou cheguei tarde em casa por uma festa, mas, pelo teatro fui obrigada a ir contra a sua vontade.

Quando fiz dezenove anos, fiz um teste para ganhar uma bolsa de estudos na maior academia de Artes do estado da Califórnia. Passei em primeiro lugar, sendo assim, comecei o meu curso escondida da minha mãe. A minha única família.

Atuar era a minha vida, desde pequena eu era escolhida para fazer papéis importantes no teatro da escola e ensinar outras crianças. Quando estava no palco, eu me sentia viva e emocionada por dar vida a personagens que, até então, eram apenas esboços na mente de grandes escritores.

Jane nunca desconfiou. Uma vez ela encontrou algumas provas em meu quarto, mas até então, achou que eram de quando eu cursava o ensino médio. Ela me deserdaria se descobrisse que eu estava cursando teatro, provavelmente, diria que perdi quatro anos de minha vida em um lugar sendo que poderia estar em uma faculdade famosa cursando alguma coisa importante.

Eu nunca entendi muito bem a minha ligação com o teatro, já que minha mãe abominava. Acho que o meu pai tem alguma coisa a ver com isso.

— Vou sim, mas podemos conversar agora, se quiser. - Sorri gentil.

Roney concordou e fui até sua sala. O escritório de madeira era lindo, cheio de quadros e plantas. A janela dava uma vista linda do resto da avenida principal.

Me sentei preparada para levar esporro. Procurei por alguma falha em minha memória, mas só consigo me lembrar de trabalhar. E muito.

— Bom, Lily, primeiro de tudo parabéns por ter o maior e melhor atendimento...

I'm a Downey.Onde histórias criam vida. Descubra agora