- Era só o começo de tudo, e eu nem podia imaginar...No fim das contas, o dia infinitamente longo e repleto de emoções adversas havia finalmente chegado ao fim, e o resultado final era de que eu tinha; terminado uma amizade dentro dos termos legais entre ambas as partes, hasteado a bandeira da paz e perdoado o meu agressor, e por último, mas não menos importante, reatado com o meu amor. Em meu consciente, vozes de um futuro incerto ainda ecoavam, me alertando quanto aos possíveis perigos de estar pisando em um terreno inexplorado, mas a essa altura, sentia que nada mais importava além do que havia sido feito. Foi um caminho tortuoso e repleto de desdobramentos inesperados, mas no fim, contrariando as minhas próprias convicções, o universo decidiu – de um modo torto e todo remendado. – Conspirar ao meu favor.
O Boca acabou retornando alguns minutos após o toque de recolher, trazia alguns saquinhos de rosquinha e frango empanado em mãos e não parecia incomodado com o fato de estar arriscando as caras por aí. Não houve nenhum questionamento por parte dele sobre o que o Jp e eu havíamos tratado, a sensação que tinha era de que mesmo ele, que andava sempre disposto a iniciar uma discussão, parecia fisgar no ar que as coisas tinham se resolvido e que todo o drama havia ficado para trás, a atmosfera no 107 era de paz e serenidade.
Embora nenhum de nós pudesse dizer ao certo até quando...
Eu já nem achava tão asqueroso assim a cena do Boca, devorando todo o saquinho de frango empanado, as bochechas estufadas e os lábios brilhantes de óleo e fritura.
...
Não demorou muito até que os meus caminhos voltassem a se cruzar com o do Pierre. Eu estava deixando a primeira aula de cálculo das segundas-feiras e no momento em que saí, deparei com ele, na companhia do Benjamin, o garoto bombado do qual eu sequer lembro o nome, e o JP (claro sinal de haviam chegado a algum lugar na reconciliação e o perdão vigorava). O Jp me notou, ainda que brevemente, mas não houve nenhum aceno, cumprimento ou algo do tipo, simplesmente não tínhamos nada o que compartilhar e minha passagem por ele foi tão comum e indistinta quanto as outras pessoas que transitavam pelo corredor. Pierre, por sua vez, quase pareceu esquecer o que tínhamos firmado e já se preparava para falar comigo, só que aí, no último instante, pareceu relembrar o pacto de silêncio e se conteve, maneando a cabeça discretamente.
O mais engraçado nisso tudo é que eu tenho quase certeza que ele falou comigo apenas através do olhar, o Pierre era uma dessas pessoas que conseguia dizer muito através do olhar, e de um modo estranho, você sempre acaba descobrindo exatamente o que ele quis dizer. Naquele momento, posso dizer com toda certeza do mundo que o que ele disse foi:
"Putz, quase esqueci o que combinamos, você bem que podia ter escolhido um cara que não seja um completo otário pra se apaixonar, mas tudo bem, eu aceito suas escolhas."
Aquela foi a última vez que trocamos alguma interação (ainda que limitada). Conforme as semanas passavam, mais o Pierre parecia estar disposto a fazer valer o nosso "termo de aproximação", de modo que ao final do segundo semestre, já éramos praticamente estranhos um para o outro, mesmo as lembranças de tudo o que havíamos feito pareciam remotas, longínquas e intangíveis.
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O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)
RomanceAntes do 211, da paradise e dos inúmeros eventos que procederam a chegada do Alexei ao São Vicente, existia o Pedro; recluso, antisocial e preso as amarras da timidez, ciente de que estaria fadado a não ter alguém durante toda sua existência, o garo...